Castelo

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Capítulo V

Com o sol fulgurando no céu, Tales batia vigorosamente sua enxada no chão. Já se encaminhavam para o fim do dia e o campo, aos poucos, esvaziava-se conforme os trabalhadores voltavam para suas casas.

— Bom — disse o velho Téo, colocando de volta a boina que havia tirado para enxugar o suor da testa. — Acho que por hoje deu, né, Raphael?

— Tá zoando? — Tales, sem camisa, tinha cicatrizes e ataduras à mostra. — Dava pra terminar esse campo hoje ainda.

— Ora, mas não sei de onde vem tanta energia — riu o senhor.

— Rapazes, que tal uma bebida pra finalizar o dia? — A voz de Ângela soou logo atrás do jovem.

— Limonada! — O cavaleiro exclamou ao ver a jarra na bandeja que ela carregava. — Vai ser ótimo pra ajudar com esse calor.

— É melhor não se esforçar demais, pode atrapalhar a sua cicatrização. — Ela tombou a cabeça enquanto Tales se servia de um generoso gole da bebida.

Heh, esse aí tem mais saúde que todo mundo aqui junto! — O sorridente Téo retirou-se, apanhando um copo da bandeja de Ângela para viagem.

— E como foi o seu primeiro dia trabalhando aqui? — A jovem se sentou num pequeno banco de madeira na estrada de barro.

— Mais tranquilo do que meia hora de trabalho no Santuário. — Tales encostou a enxada numa árvore.

— Se sente melhor?

— Por incrível que pareça, sim. — Ele suspirou. — Eu não vou ficar aqui pra sempre, tá bom? Eu só queria ter um gostinho do que seria uma vida normal. Sabe-se lá quanto tempo ainda tenho sendo um cavaleiro no meio de uma Guerra Santa.

— Não fale assim! — Ela olhou sobre os ombros e cochichou. — E fala baixo!

— Mas é verdade. Eu precisava de um pouco de espaço. De certa forma, vir parar aqui foi a melhor coisa que poderia me acontecer. Tenho muito a te agradecer. Eu te devo a minha vida.

— Quem diria hein, cavaleiro? — Ângela cruzou os braços, satisfeita. — Você devendo algo a uma adoradora de Ares.

— A vida tem dessas — ele riu.

— Não precisa me agradecer. Meu trabalho é ajudar as pessoas. Tá na minha alma.

— Você é muito boa no que faz então.

— Obrigada! — Ela ergueu os olhos para o céu, que se alaranjava conforme a tarde avançava. — Então logo você vai voltar pro Santuário, né?

— É o plano.

— Promete que vai tentar acabar com essa guerra logo? — Ângela suspirou. O garoto franziu a testa. — Eu não me importo mais com quem vai sair vitorioso. Só quero que o sofrimento acabe logo.

— Prometo. — Tales encostou a mão no ombro da jovem. — E quando a gente ganhar, eu vou vir aqui te contar pessoalmente.

— Eu quero te mostrar uma coisa — ela sorriu, pegando-o pela mão e o guiando pelos becos na direção da mata.

Atravessaram todo o modesto vilarejo. Uma meia dúzia de ruelas de barro ligando casebres e campos de pessegueiros. Ao menor resquício do entardecer, a maioria dos moradores já estavam de volta aos seus lares.

A estradinha os levou a uma colina de vista limpa. O caminho tortuoso que circundava o declive não chegou a levar dez minutos para levá-los ao seu cume. Acima de suas cabeças, o céu já começava a transitar para tons mais escuros de azul.

Cavaleiros do Zodíaco: Desatando Nós - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora