Caminho

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Capítulo XIV

— Aqui está.

Um comerciante, com sua barraquinha à beira-mar, entregava um peixe miúdo a um homem de vestes simples e desgastadas.

— Se cuida hein, Deran — disse o pescador, recebendo de volta um punhado de tomates.

— Obrigado.

Deran ergueu a sacola com a mão direita. O braço esquerdo, afinal, repousava numa tipoia.

Em seu tortuoso caminho de volta, parou para ajeitar a tala um punhado de vezes. Não ajudava o fato do sol a pino lhe arder a nuca durante todo o trajeto. A decisão de cortar as madeixas, porém, fora a correta. Mesmo com o risco de insolação.

A vida em Megalonisos era daquele jeito. A ilha era agraciada com apenas algumas dezenas de dias chuvosos no ano.

Nem mesmo os turistas aguentam o calor, ele pensava. Apesar do mar cristalino e do eterno verão, era um local pacato.

Adentrando a única área arbórea do lugar, percorreu por alguns minutos uma trilha apertada, que desembocou num casebre de madeira. Com uma pequena horta nos fundos, onde pés de tomates e algumas verduras brotavam, tinha a porta entreaberta.

Cauteloso, esgueirou-se pela entrada e encontrou lá dentro um cavaleiro lhe esperando. De armadura de um tom perolado e cabelos loiros, não era a primeira vez que o via.

O jovem se levantou imediatamente da cadeira em que estava sentado.

— Então é verdade — disse ele, encarando Deran com seus olhos esbugalhados. —Você tá vivo. E consciente!

Grunhindo, o homem se arrastou até a cozinha e pousou o peixe em cima da pia.

Iro de Carina... — ele resmungou.

Iro chegou a dar um passo para trás.

— Achou que eu não tinha meus meios de ter notícias de dentro do Santuário? —Deran ligou a torneira, enchendo uma pequena chaleira. — Quando você e seus amigos vieram resgatar a armadura de Escultor, me deixaram com algumas marcas.

O cavaleiro franziu os olhos e cerrou os punhos, pronto para o conflito.

— Meu ombro até hoje não se recuperou — o desertor continuou. — E devo admitir que meu orgulho não está dos melhores.

A chaleira, que Deran havia colocado no fogo, passou a chiar. Um calafrio percorreu o pescoço de Iro. Havia se preparado para animosidade, mas não compreendia quais as intenções do indivíduo.

— Mas também tenho que admitir — O homem trazia duas xícaras de um chá fumegante e perfumado, oferecendo uma ao jovem. —, vocês salvaram minha vida. Obrigado.

Desconcertado, Iro aceitou a bebida, embora apenas a segurasse entre as mãos ao invés de bebê-la. O desertor o havia agradecido?

— Sou Deran de... — Ele parou por um instante. A barba tremia por cima dos lábios. — Bem, de nada. Só Deran mesmo. É um prazer finalmente conhecê-lo.

— Você não tá mais sendo controlado... — Iro balbuciou. — Eu sabia.

— Graças a vocês. Se não tivessem vindo aqui, nada disso teria acontecido.

— Isso significa que dá pra quebrar o controle mental de Ares! — Sacudindo a cabeça, o cavaleiro já imaginava inúmeras possibilidades.

— Se eu fosse você, não me empolgaria tanto. Não acho que seja tão simples assim.

Cavaleiros do Zodíaco: Desatando Nós - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora