Levante

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Capítulo VIII

Não era uma noite qualquer no Santuário. No Salão de Ágora, a melodia de taças e talheres embalava o clima de apreensão. Quase nenhuma palavra era ouvida.

As panelinhas de cavaleiros e aprendizes estavam ainda mais evidentes. Até mesmo Alexia, imersa em seus pensamentos, percebia a clara divisão que os últimos eventos haviam causado.

Primeiro, uma amazona de ouro, que deveria estar entre as pessoas mais confiáveis dentre os cavaleiros, revelou-se uma traidora. Depois, o próprio Deus da Guerra se materializou no coração do Santuário.

Era difícil dizer se seu discurso sedutor havia surtido efeito em alguém ali. Mas estavam todos, no mínimo, desconfiados. De onde viria o próximo ataque? Em quem confiar?

Alexia estava isolada numa mesa escura. Cabisbaixa, remexia sua sopa. Faltava-lhe apetite. Seu retorno ao reduto dos cavaleiros foi mais solitário do que havia imaginado.

Poderia ser paranoia, mas os olhares tortos lhe colocavam sob um holofote. Era a pupila de Ágata, afinal.

De uma mesa próxima à entrada, vinha a única conversa que era possível identificar. A garota reconheceu o cavaleiro mais eloquente ali. Era Silas de Hércules, primeiro adversário de Iro nas batalhas pelas armaduras.

O conteúdo do papo, porém, não era nada agradável.

— Pensem bem! — Estava em pé, com a perna musculosa apoiada no banco de madeira. — Se vocês pararem pra analisar, não é tão ruim assim. Quem não tiver pensando em se render agora é maluco!

Ao seu redor, um grupo heterogêneo, de cavaleiros de bronze e prata e aprendizes, debatia. A maioria tendia a concordar com Silas.

— É verdade. — respondeu uma amazona de bronze, de cabelos verdes escuros. — De que interessa quem governa o Santuário?

— Exatamente! — concluiu, cheio de si. — Se o objetivo for esse, é uma Guerra Santa mesquinha.

O cavaleiro pegou seu copo de cima da mesa, mas, antes que pudesse dar o gole que desejava, um impacto lançou o objeto longe.

— Vocês não se cansam de falar merda? — Autora do tapa, Alexia dava passos furiosos na direção do grupo.

— Tá maluca, Alexia?! — Silas gritou. — Vai me atacar dentro do Salão de Ágora?

— Eu sou uma amazona de prata, e faz parte do meu dever garantir que a ordem seja mantida. — Ela o agarrou pela gola. — Tenho certeza que também te disseram isso quando você se tornou um cavaleiro. Se você não dá valor aos seus votos, dá valor a quê?!

— Me larga! — Silas segurou seu braço, mas ela se recusava a soltá-lo.

— Sinceramente, esperava esse tipo de discurso de aprendizes ou de soldados, mas não de alguém de um escalão mais elevado como o seu. Você é uma vergonha pra nós.

— Você sabe que eu tenho razão, Alexia! — O rapaz desferiu um empurrão que a fez recuar alguns passos. — Não tem por que não considerar uma oferta de paz!

— Então além de tudo você é burro! — Ela se voltou para os que assistiam. — Todos vocês que tão considerando isso! Como podem pensar em abandonar a Deusa que defendeu a paz na Terra por milênios pelo primeiro que aparece?

— E você não acha que defender a paz é também evitar derramamento de sangue? — Silas cruzou os braços.

— Diga isso pro Mir. — A voz grossa de Biggs surgiu, junto de seu corpanzil. Parado atrás de Alexia, parecia seu guarda costas. — Eu te levo pessoalmente até o túmulo dele.

Cavaleiros do Zodíaco: Desatando Nós - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora