Hospital

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Capítulo XII

Sentada num dos bancos do Hospital, Alexia segurava a cabeça com as mãos. A lâmpada acima da porta da sala de cirurgia iluminava a garota solitária.

A luz vermelha mascarava o sangue que encharcava seu corpo. Não era seu, apesar da jovem preferir que fosse. O coração batendo lhe reverberava as costelas.

Os pulmões sofriam para lhe dar o ar que necessitava.

Em sua cabeça, o vazio reinava.

— Ainda vai algum tempo. — Pérola de Gêmeos atravessou a porta.

O barulho fez Ali saltar como um gato assustado. Em silêncio, a senhora sentou no banco ao seu lado.

Nenhuma das duas proferiu qualquer palavra por pelo menos mais meia hora. A dourada tinha os olhos inchados. Alexia, em choque, estava petrificada.

— É culpa minha — balbuciou a jovem. — É tudo culpa minha.

— Não diga bobagens, minha querida. — Com a voz cansada, Pérola pousou a mão em seu joelho. — Pelo contrário, você fez um trabalho excelente. Poupou a vida de inocentes e ganhou tempo até a chegada do Granada.

O peito da garota se desmanchava em dor. Queria correr para longe dali. Escalar a mais alta montanha e se isolar do mundo.

— Eu devia ter enfrentado o Berserker. — Alexia afundou o rosto nas mãos. —Mandei o Hematita pra morte certa. Nem armadura ele tem!

— Acalme-se. — A dourada a envolveu num abraço maternal, trazendo a cabeça da jovem para seu ombro. — Ele está nas mãos do Ametista. Com certeza o cavaleiro mais bondoso do Santuário não vai deixar ele morrer. Vamos depositar fé em nossos companheiros.

Alexia não respondeu. Apenas os barulhos das fungadas da garota eram ouvidos no corredor vazio.

— Não quero que pense que a culpo pelo que aconteceu — Pérola continuou.

— C-Como não?!

— Alexia, você evitou uma catástrofe. — Pérola a afastou, pousando a mão em seu rosto. — Sempre falei que você tem um dom especial pra liderar. Você sabe que foi a decisão certa. O Hematita também sabia, por isso te seguiu.

— Como que eu posso ser uma boa líder?! — Misturava gritos e sussurros. Não queria fazer barulho no Hospital, mas o rompante era intenso. — Olha o que aconteceu!

— Às vezes as coisas não saem do jeito que a gente quer.

— Eu devia ter feito algo diferente. — Desolada, estava constantemente secando as lágrimas, sem muita eficácia.

— Não havia nada que você pudesse fazer. — A dourada encostou a cabeça na parede, soltando um doloroso suspiro. — A gente nem sempre consegue salvar quem ama. Só podemos nos contentar em tentar.

Vendo que a responsabilidade pesava uma tonelada nos ombros da jovem, Pérola continuou.

— Eu entendo como você se sente. — A geminiana batia os pés no chão, inquieta. —A culpa também me corrói.

— C-Como assim? — Alexia fitou a senhora, franzindo a testa.

— Fui eu quem o trouxe pra essa vida de cavaleiro. Tudo que veio depois foi em razão disso. Mas, no momento que o resgatei ainda criança, percebi que o cosmo dele era fora do comum.

Pérola deu um tapinha no joelho da amazona.

— Era seu destino se tornar um cavaleiro poderoso — disse a dourada. — Nada que eu fizesse o afastaria desse caminho. E nada que você fizesse consertaria a situação. Dentro de todas as possibilidades, você escolheu a que tinha mais chance de sucesso. Isso é ser uma líder de verdade.

Cavaleiros do Zodíaco: Desatando Nós - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora