Volans

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Capítulo XVII

Alexia rolou pela escadaria estreita, chocando as costas contra o chão.

O tempo era escasso.

Com o céu da alvorada migrando para um azul mais claro, a jovem precisava continuar. Apesar da noite agitada, sabia que se não fosse atrás de Iro, ninguém iria.

Nenhuma queda a atrasaria.

Os degraus de pedra desembocavam numa estradinha curta. Esta servia como acesso secundário a Rodorio.

Sendo uma amazona criada no Santuário e tendo como colegas Iro e os outros, conhecia os atalhos como a palma da mão.

Antes de partir rumo a Alexandria, passaria no vilarejo. Gostaria de checar os aldeões. Principalmente Iris, a garotinha que resgatou.

Passando pela entrada, como esperado, não havia ninguém nas ruas.

Silêncio.

A decoração do carnaval ainda estava posta. Era possível ver os sinais do conflito. Bandeirolas no chão, barraquinhas reviradas. Alexia não sabia dizer se era a atmosfera melancólica, mas os enfeites lhe eram mais insípidos. Cinzentos.

Correndo pelas suas vidas, os moradores não se importaram com nenhum bem material. Carteiras, bolsas, dinheiro. As ruelas eram agora enfeitadas com tudo que os aldeões amedrontados deixaram para trás.

Pelo menos estavam bem.

Ou foi o que Alexia pensou.

Algo não estava certo. Junto de Biggs e Wedge, ela evacuou os moradores. Àquela altura, já deveriam ter voltado para suas casas.

Mas não havia uma lâmpada acesa.

Talvez estivessem apenas com receio de voltar.

Apesar do sol estar para nascer, a penumbra nos becos era intensa. O céu clareava aos poucos, mas a luz não alcançava as calçadas.

Era como se uma nuvem negra cobrisse o local.

Sentiu uma forte aflição em seu peito. Uma aflição sobrenatural. Teve um impulso repentino de voltar à praça central de Rodorio. Só por precaução.

Paranoica, passou a imaginar desfechos catastróficos para aquela situação. E se não estivessem a salvo como pensou?

Como num filme de terror, cenas horríveis lhe correram a mente. Reais e angustiantes.

Pessoas sendo torturadas.

Massacradas.

Via com tamanha clareza, que o estômago até embrulhou. Sentia como se a escuridão que rondava o vilarejo adentrasse os cantos mais profundos da sua consciência.

Unhas, membros, olhos. Sendo arrancados das vítimas ainda vivas. Era tudo tão sangrento que as imagens em sua cabeça tinham um tom escarlate.

Por que estava imaginando aquelas coisas?

Os aldeões estavam bem.

Tinham que estar.

Percebeu então que um cosmo assombroso preenchia o ponto central de Rodorio. Tão grandioso que seus joelhos imediatamente vacilaram.

Só podia ser aquilo.

Alexia conhecia aquele cosmo. E senti-lo ali talvez fosse o pior dos sinais.

Dobrando a esquina, porém, o que viu foi ainda pior do que esperava.

O chão de paralelepípedos que cercava a praça, pintado de sangue. A escuridão ali era ainda mais intensa.

A parte mais grotesca estava num canto mais afastado.

Cavaleiros do Zodíaco: Desatando Nós - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora