Liberdade

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Capítulo VI

A perna de Iro pulava como pipoca estourando no fogo. As intermináveis páginas do livro na mesa voavam diante de seus olhos, mas não absorvia nenhuma frase.

Frustrado, fechou o exemplar. Cruzou os braços sobre a mesa e repousou a cabeça, dando um descanso precioso para a vista.

— Será que ela recebeu a minha carta? — suspirou.

— Quem? Sua namorada?

Iro deu um pulo com a voz inesperada que ecoou diretamente em sua mente. Era Safira novamente, flutuando sentada na posição de lótus.

— Que susto! — O coração retumbou no peito. — Pelo visto, educação não faz parte do treinamento dos dourados! E não que seja do seu interesse, mas não tenho namorada.

Hmmmm. — Ela sobrevoava o ombro do garoto. —Mitologia e Constelações IV. Já li esse, acho que não vai ter nada do seu interesse aí.

— Ótimo. — Iro jogou o livro numa pequena pilha que se formava na mesa de centro. — O que tá fazendo aqui, não tem nenhum outro lugar secreto pra supervisionar?

— Tô fazendo isso enquanto a gente conversa. Consigo dividir minha consciência em múltiplas partes pra visitar vários lugares ao mesmo tempo.

O garoto ergueu uma sobrancelha, impressionado.

— Escuta Iro, eu...

— Não. — Ergueu uma mão. — Não precisa. Desculpa pelas coisas que eu falei ontem, eu tava com muita raiva.

— Eu sei. — Safira circulava os polegares, nervosa. — Ainda assim, o que aconteceu foi muito grave. Como cavaleiros de ouro, temos que fazer mea culpa. Não podemos cometer os erros dos cavaleiros do passado. É nosso dever proteger não só Atena, mas uns aos outros. De algum jeito, falhamos em ambos.

— Tudo bem. Acho que era algo difícil de se imaginar.

— Bom. — Ela posicionou o punho fechado sobre o coração. — Daqui pra frente, eu prometo que isso não vai mais acontecer. Não vou descansar enquanto não tiver certeza de que o Santuário está seguro.

— Vou cobrar. — Iro abriu um sorriso tímido.

— E também, pra mostrar que eu quero assumir minha culpa e me redimir, vou te dar a solução pros seus problemas de pesquisa! — Ela fez um sinal com a mão para que o garoto a seguisse. O que ela oferecia lhe era de extrema importância, então, com as pupilas dilatadas, Iro a acompanhou.

Flutuando, Safira o conduzia pelos corredores apertados.

— Essa noite, eu fiquei pensando — disse ela, gesticulando.

O garoto notou como, longe do contexto da Reunião Dourada, a personalidade da virginiana era o completo oposto do que havia imaginado.

Sua voz era calma e com um ar místico, mas a dourada falava tão rápido e de maneira tão casual que era fácil para Iro interagir com ela como se fosse apenas uma colega de treinos.

— Eu sei que aqui tem uma sessão de pergaminhos bem antigos — ela continuou. —Imagino que as informações que você busca foram escritas há muito, muito tempo, então elas só podem estar lá.

— Só pode ser! — disse ele, conforme chegavam a uma sala reclusa, de teto baixo.

Iluminada apenas por um par de velas em cada extremidade da mesa de estudos solitária, tinha o ar de um local intocado durante séculos.

Erguendo-se do chão e alcançando o teto, a única estante carregava centenas de pergaminhos enrolados desleixadamente.

— É aqui. — A voz de Safira reverberou. — Não é muito glamoroso, mas deve dar as respostas que você quer.

Cavaleiros do Zodíaco: Desatando Nós - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora