Revolução

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Capítulo VII

Tudo doía.

Tales tentava se levantar, mas seus braços custavam a sustentar o peso do corpo. Os cotovelos vacilavam. O gosto de terra na boca só não era mais amargo que o da ideia da derrota.

Um punhado de estilhaços lhe correu o ombro esquerdo e se esparramou pelo chão. Era a única ombreira que ainda tinha, esfarelando-se como um biscoito aerado.

— O-O que foi isso...? — ele gaguejou, com sangue escorrendo pelos cantos da boca. — Se move na velocidade da luz?

O esforço hercúleo em se colocar de pé drenou grande parte das forças que ainda tinha. Aquela seria sua batalha mais desafiadora até então.

— Já percebeu que não tem chances contra mim, não é, Pintor? — Ptolamo cruzou os braços. — Seu estado é lastimável. Não dá nem pra te chamar de cavaleiro desse jeito.

— Cala a boca!

Aquilo não ficaria assim. Todos ali pagariam pela morte de Ângela. O cosmo de Tales explodiu em fúria, emanando um brilho rosado e intenso.

O cavaleiro curvou o corpo para atacar e o Berserker reagiu.

Ricochete Fantasma! — Ptolamo sumiu mais uma vez. Tales, mesmo com seu cosmo elevado, não chegou nem perto de ver o golpe adversário.

Um frenesi de impactos em seu corpo o arrastou pelo chão, lançando estilhaços de sua armadura por toda a parte. O lado direito de seu peitoral já mal existia. Nos braços, as proteções cobriam apenas os punhos. A dor e a raiva borbulharam seu sangue e, no ápice de sua frustração, soltou um doloroso grito de decepção consigo mesmo.

O Berserker cobriu o riso com uma das mãos e Tales se sentiu o guerreiro mais ridículo do mundo.

Os servos de Ares tomaram dele Nesso, Raphael, Ângela, Aura... Por mais que jurasse vingança, o dia dos louros nunca chegava. Até mesmo Esmeralda, que esteve a momentos de uma vitória impressionante, pereceu nas mãos do inimigo.

Tales, então, caiu em si. Se lhe faltava força, deveria usar sua maior vantagem: o intelecto. Havia se deixado levar pelo ódio e, desse jeito, jamais conseguiria vencer.

Perder aquela luta não era uma opção. Tinha em suas mãos informações de suma importância para o Santuário. Somente ele poderia levá-las a Atena e o Grande Mestre.

Ergueu-se uma nova vez, o cosmo mais intenso que nunca. Pela sua mente, milhares de cenários correram. Possibilidades de contra-ataque, de pontos fracos.

— Acho que eu já sei qual é a sua, Ptolamo. — Em seu rosto inchado, Tales esboçou um sorriso, com as gengivas carregadas de sangue.

— Caia na real. — Ptolamo apontou com o indicador. — Um cavaleiro de prata nunca vai conseguir me derrotar. Você mesmo sabe disso.

Cortina de Diamantes! — O Pintor tirou da cartola uma nova técnica. Milhares de cristais de luz se espalharam e povoaram a arena. Flutuando ao redor do garoto, formavam um campo luminoso, separando os guerreiros por fragmentos esbranquiçados.

— Não consegue me vencer, então aumentou suas defesas. — O Berserker corria o dedo por uma das lascas de energia, que imediatamente lhe abriram um corte. — É uma boa tentativa, mas essa técnica medíocre nunca vai me deter! Ricochete Fantasma!

Ptolamo avançou como um trem desgovernado. Passou por cima dos cristais do cavaleiro e acertou Tales, lançando-o para trás com tamanha força que se chocou contra uma parede e desabou.

Cavaleiros do Zodíaco: Desatando Nós - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora