Cinza

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Capítulo XX

O portal se fechou.

A técnica de Kydoimos rumou para os limites do universo.

Pérola, decidida, fitava o Deus. Não havia hesitação em seu coração.

— A Guerreira Cinzenta — disse ele, com sua voz duplicada. — Ouvi falar de você, dourada.

— Ora — A geminiana levou a mão à nuca. —, coisas boas, eu espero.

— Você é uma lenda viva. — Tinha um sorriso despreocupado. Genuinamente apreciava aquele momento. — A guerreira mais poderosa do Santuário. Em seus tempos dourados, é claro.

Heh heh... Tem razão — Pérola riu, desconcertada. — Se me permite a pergunta, quem foi que lhe contou? Ou devo dizer "lhes" contou?

— Tanto faz como me chama, dourada. — Kydoimos cruzou os braços. — E quem você acha que foi?

— Ah, entendo. — A senhora franziu os olhos. — Uma de nós. A única em seu batalhão que tem informações de dentro do Santuário.

— Uma de vocês, Guerreira Cinzenta? Parece que a idade afetou seu julgamento.

Hmpf. — Ela deu de ombros. — Você pode existir desde o início dos tempos, mas eu também já vivi bastante. Vi muitas coisas. E digo que Ágata é e sempre será uma defensora de Atena.

O Deus, em silêncio, abriu os braços.

Seu cosmo negro se alastrou como um predador procurando por vítimas. A energia se espalhou por um raio de dezenas e mais dezenas de metros. Sua vontade divina ultrapassou os limites de Rodorio.

Foi como se uma onda ácida atingisse Pérola. Cada centímetro de sua pele descoberta pela armadura dourada ardia dolorosamente. Até mesmo os olhos queimavam por entre as pálpebras semiabertas.

— Uma das coisas interessantes que me contaram sobre você, Pérola de Gêmeos — disse Kydoimos —, foi que não luta mais. Há décadas.

A dourada arregalou os olhos.

— Pelo visto, seu dever de casa foi bem-feito. — Uma gota de suor lhe escorreu pelo rosto.

— É uma pena. Fazer isso quase não tem graça!

Com o brado do Deus, uma rajada densa de seu cosmo divino avançou contra Pérola.

Num movimento distorcido, impossível de enxergar com olhos humanos, a onda de trevas dançou no ar e atingiu a geminiana.

Seu corpo foi violentamente jogado contra os escombros de uma casa.

A força do ataque era o suficiente para desintegrar qualquer coisa que tocasse. Por isso, quando a senhora se levantou, Kydoimos chegou a erguer as sobrancelhas.

A dourada tinha um ferimento feio na cabeça, que expelia sangue de sua testa. Um dos ombros estava deslocado e quase todas as articulações doíam.

— Sobreviveu... — O Deus estava impressionado.

— Te contaram uma versão diferente da história. — As costelas de Pérola doíam ao falar. — Vamos desfazer esse mal-entendido.

Ela deu um passo adiante. Emanou uma aura dourada tão potente que dissipou toda a escuridão do cosmo de Kydoimos.

A atmosfera ácida e escura retornou ao normal e, por entre as nuvens, os raios de sol da manhã banharam a pele de ambos.

Pérola respirou fundo. A alvorada lhe dava força e coragem.

Cavaleiros do Zodíaco: Desatando Nós - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora