Prólogo

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— Sim, isso! Eu sabia que eu iria te superar

Vencer a Adora no xadrez é uma tarefa quase impossível, principalmente quando a adversária é uma jogadora de basquete que mal sabe montar um tabuleiro. Um feito desse será, definitivamente, um marco que ficará destacado em nossas conversas pelo resto da semana.

— Eu deixei, tá bom? Só para você não passar uma imagem tão humilhante  — Esnobou, mas sei que é verdade. Adora joga apenas por hobbie, mas o próprio professor de xadrez do time da escola quase implorou para que ela entrasse para as competições. Por modéstia e muita tímidez, ela negou.

— Acho que isso é uma calúnia. Por que você tem que ser boa em tudo?— Perguntei, já prevendo aquele desvio de olhar tímido que ela sempre faz quando alguém faz um elogio.

— Bom, nem em tudo — Desviou o elogio enquanto ajeitava uma mecha de cabelo para trás da orelha, ressaltando assim seus olhos azuis que por pouco me permitem enchergar o meu próprio reflexo naquela cor de céu azul. Apesar dos anos de amizade, percebo só agora esses detalhes que quase me fazem suspirar em admiração.

Nós mantemos essa rotina desde que me entendo por gente. Moramos em casas que ficam exatamente uma de frente para a outra. Já passamos por escolas diferentes e consequentemente grupos de amigos diferentes, mas não importa o que aconteça, no final é sempre eu e ela.

É claro que, com o passar do tempo, nós mudamos nossas atitudes, gostos, descobrimos coisas novas e amadurecemos. No auge dos 16 anos, isso não seria tão diferente.

— Adora, seus amigos chegaram!— Exlamou Mara pouco depois da campainha tocar.

Glimmer, Bow, Scorpia e entrapta com certeza é o grupo mais duradouro que já tivemos. Nós nos juntamos quase todo sábado para assistir filmes ruins e jogar jogos de tabuleiro.

Eu gosto dessa rotina. Me sinto bem com essa companhia.

[...]

— Truco! — Gritou Bow em êxito.

Olhei para a minha parceira e já saquei o seu sinal em uma piscadela milagrosa. Em essência, Adora bateria na mesa forte e iria pedir seis, mas optou por deixar essa alegria comigo.

— Seis!— Retruquei esperançosa com uma manilha e um três na mão.

Apesar dos meses jogando o mesmo jogo, Bow sempre manteve as mesmas estratégias. Sua resposta foi a prova que ele, mais uma vez, estava blefando acompanhado de uma atuação maravilhosa.

— Acho que não rola — Afirmou para a sua parceira

Como na maioria dos outros jogos, eu e Adora vencemos. Entrelaçamos as nossas mãos e fizemos uma dança desengonçada em comemoração.

Por uns instantes, esqueci de dançar e reparei na maciez da palma de sua mão.

Ao parar, acabei tropeçando no meu próprio pé e caindo sozinha no carpete cinza-claro da sala de estar da Adora, arrancando gargalhadas genuínas do resto das pessoas da sala.

— Tá tudo bem, Catra?— Perguntou Mara, que naquele momento se encontrava parada na porta que dividia a sala da cozinha.

Afirmei rápido com a cabeça e apoiei as minhas mãos para me levantar.

— Só queria avisar, Adora, que aquele seu namoradinho vai vir aqui em casa amanhã me ajudar com algumas coisas da empresa.

Adora esboçou um sorriso tímido e revirou os olhos enquanto nossos amigos interpretavam gritinhos maliciosos.

Tentei disfarçar, mas não pude conter o meu rosto de se estremecer sozinho. Acho que ninguém notou, mas posso jurar que, involuntariamente, minhas sombrancelhas cerraram em negação.

— Ihhhh, a Adora com um namoradinho?

— Para, gente — Respondeu — É só um estagiário da empresa que a Mara trabalha... Ela tá tentando arranjar ele para mim.

— Mas você tá gostando, não é?— Glimmer perguntou.

Olhei para Adora quase implorando por um "não", mas tudo que eu recebo é um silêncio seguido de um sorriso torto.

Céus... Por que eu ligo tanto? Afinal, ela é a minha melhor amiga...

Entre Medos e Incertezas - CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora