Capítulo 7

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— A gente precisa conversar — Afirmou, ainda um pouco ofegante.

Eu olhei para ela sem reação, como se meu rosto perguntasse por mim.

— O que está acontecendo, Catra?— Ajeitou a coluna e perguntou — Por que me bloqueou? Eu fiz algo errado?

Olhei para o lado e avistei uma cafeteria com cobertura, imediatamente me vindo uma ideia a mente.

— Vem, vamos conversar ali

[...]

— E então?— Perguntou — Por que fez isso?

Respirei fundo, mas consegui me controlar. Essa conversa me pegou de surpresa, se não fosse pela mesa cobrindo metade do meu corpo, ela poderia ver as minhas pernas tremendo feito varas.

— Não sei, Adora, agi por impulso — Justifiquei com uma voz firme, mas ela não pareceu convencida

— Catra, eu to bloqueada desde ontem

Intercalei meu olhar com o chão e seus olhos. Eles estavam sérios e bem alinhados com as sombrancelhas, mas acho que não é o momento de reparar nesse tipo de coisa.

— É por causa do beijo, não é?

Senti um gelo tomar conta do meu corpo, um medo genuíno do que está por vir dessa conversa. Franzo as sombrancelhas e junto coragem de alguma forma.

— Olha, eu não sei bem o que falar daquilo então...

— Catra! — Exclamou  — Você ficou lerda assim ou está se fazendo?

Estávamos um do lado da outra, o que me permitia sentir a sua respiração acelerando aos poucos. Ela falou meu nome de uma forma tão firme que eu quase a confundi com minha mãe.

— Antes eu não entendia, mas depois do que aconteceu na minha casa, eu passei a entender melhor — Enquanto ela falava, seus dedos se aproximavam lentamente da minha mão, e quando finalmente a tocou, colocou-a sobre a sua e segurou sem agressividade.

— Não to falando de acelerar as coisas, afinal é tudo muito novo para mim também, você é a minha melhor amiga da vida toda! — Assumiu — Mas, o que eu quero dizer, é que aquele beijo significou algo para mim, mas e enquanto á você?

Enquanto ela falava, eu não conseguia parar de olhar para os seus olhos molhados pela chuva e seus cabelos ensopados por enfrentar esse clima por mim. Senti meu corpo esquentar com aquela cena e demorei a raciocinar suas palavras devido a essa visão.

— O que você acha que aquilo significou para mim, Adora? — Perguntei sem desviar os olhares.

Ela pensou um pouco e sorriu.

— Bom, eu não fui a única responsável por aquele beijo — Brincou me fazendo dar uma risada curta, mas genuína.

Pensei no que dizer, mas percebo que não há mais o que esconder.

— É, da pra dizer que significou alguma coisa sim

Ela esboçou um dos sorrisos mais lindos que eu já vi na minha vida e entrelaçou nossas mãos. Essa atitude me fez esquecer como respirar por uns instantes.

— É melhor a gente ir antes que a tempestade aumente — Concluí — Vamos? De guarda-chuva, dessa vez...

A atendente do café nos olhou cofusa, provavelmente pensando algo como "o que essas duas idiotas vieram fazer aqui se não pediram nada?". Se ela soubesse de tudo, provavelmente teria deixado esse estabelecimento só para nós duas.

Nos dirigimos até a saída sem soltar nossas mãos. Abri o guarda chuva e nos encolhemos.

[...]

— Então tá tudo bem entre a gente?— Ela perguntou antes de entrar

— Está sim — Afirmei já preparada para virar as costas e ir para casa, mas antes que eu pudesse, sinto a garota me puxar pelo braço.

Meu coração começou a errar batidas quando senti sua mão em meu pescoço e previ o que estava prestes a acontecer.

Vi seus olhos se fecharem e se aproximarem de mim lentamente, me induzindo a fazer o mesmo.

Finalemnte senti o toque daqueles lábios denovo, os lábios que nem nos meus melhores sonhos eu fui capaz de aproveitar, mas dessa vez foi diferente. Não havia ninguém em volta, o mundo todo ficou apenas para nós duas.

Sua boca estava molhada por causa da chuva e também pelo nosso beijo, mas ainda assim eu tive o prazer de aproveitar aquele gosto doce que ficaria marcado nos meus lábios por um bom tempo.

O beijo foi simples, calmo, tranquilo. Ela separou nossos lábios dando um selinho rápido de despedida e entrou em sua casa.

Fiquei imóvel lá, completamente tomada por uma mistura de emoções.

Da rua até a porta da minha casa, a alegria, felicidade e alívio tomou conta dos meus sentimentos. Mas, quando eu cheguei no meu quarto, algo mudou.

Raciocinei tudo que havia acontecido e finalmente caiu a ficha.

Eu me apaixonei por uma garota.

Meus olhos se encheram de lágrimas e minhas pernas tremeram mais do que na cafeteria, até eu não ter mais forças para permanecer em pé e cair no chão.

Coloquei a mão na boca, tomada pelo medo e incerteza de como agir, o que fazer. Pensando na minha mãe, família, amigos...

Até então, eu estava lidando com a atração que eu sentia pela Adora, mas é algo muito mais complexo que isso.

Muitas pessoas dizem que assumir a sexualidade para as pessoas que ama é a parte mais difícil, mas, para mim, o pior é me assumir para mim mesma.

Finalmente abro a notificação de Hawk. Digitei algumas mensagens com os meus dedos tremendo e então, enviei.

Catra: Oi, to sim
Catra: Foi mal cara, é só que eu não consigo mais continuar com isso.
Catra: O problema não é você, relaxa, você é um cara incrível, mas não posso dar continuidade.

Tento afastar meus pensamentos da minha cabeça, mas quanto mais eu tento, pior eu fico.

Imagino meu futuro com a minha família e com a Adora. Minha vida na escola quando eu me assumir, se eu vou me assumir.

Se tudo der errado com a Adora e, então, a nossa amizade de uma década ir por água a baixo.

Penso em toda a minha vida e os sinais que eu tenho apresentado desde a minha infância. Penso na Adora...

Ah, a Adora...

Me deitei no chão do quarto em posição fetal, sem mover muito o rosto, apenas deixando as lágrimas escorrerem enquanto, aos pouco, eu vou afastando os pensamentos.

Entre Medos e Incertezas - CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora