Capítulo 1

129 10 87
                                    

Vasculho o meu armário de calcinhas sem me preocupar com a bagunça e finalmente acho.

Me apresso em alcançar a minha caneta preta na prateleira e me sento na cama valorizando a minha coluna curvada.

22 de Maio

Querido Diário

Esses dois últimos meses foram muito estranhos.
Aquela minha admiração excessiva pela Adora parece que só se intensificou mais com o passar do tempo. Ah, antes que eu esqueça, quero deixar bem claro: aquele "rolinho" dela me irrita.
Tem algo estranho acontecendo comigo. Mal consigo agir naturalmente perto da Adora, tipo, ela é a minha melhor amiga! Isso não faz o menor sentido.
Até mesmo a nossa relação ficou meio esquisita.
Sei lá, só quero que isso passe logo.

Passei segundos significantes encarando o teto sem me preocupar com o tempo passando, até eu finalmente tomar consciência e descer as escadas.

Minha mãe estava na cozinha preparando o café da manhã.

— Bom dia, mãe!— Peguei uma faca na gaveta e comecei a cortar o pão

— Bom dia filha, já está pronta?— Perguntou casualmente sem olhar para trás

Eu neguei sem estranhar, afinal, faz parte da minha rotina procrastinar até que eu tenha apenas cinco minutos para me arrumar e ir para a escola.

— É que aquele menino ligou e disse que te buscaria em dez minutos.

Senti meu corpo gelar. Eu havia esquecido completamente dessa gentileza de Hawk. Ele é um cara gente boa, mas tenho a impressão que ele não me vê apenas como uma boa amiga.

— Ele parece gostar de você. É um bom menino — Afirmou em sorriso

— Nem pense — Retruquei.

— Ah, vai filha. Você tem dezesseis anos! Me preocupa um pouco você não ter nenhum interesse...

— Tchau mãe! Vou me arrumar antes que eu me atrase — Cortei o assunto antes que ela se animasse com a conversa.

Subi as escadas correndo e coloquei o uniforme em um suspiro.

O que realmente me chateou foi que eu fiquei pronta em exatos oito minutos e ainda assim precisei esperar por Hawk. Eu poderia ter usado esses dois minutos para coisas muito mais produtivas do que ficar esperando por alguém.

Como eu esperava, minha mãe ficou observando da janela em uma tentativa discreta de espionagem.

— Eai, Catra?— Logo escutei a voz grossa e ardente do garoto acompanhada com o barulho da moto.

De longe, Hawk notou a minha mãe e deu um aceno, que foi retribuído de uma forma um pouco exagerada.

— Eai Hawk — Cumprimentei com um beijo de bochecha e peguei o capacete.

Nos conhecemos há seis meses quando ele ajudou a minha mãe a achar o corredor de massas no supermercado. Nesse meio tempo, ele pareceu tão perfeito para ela que fez questão de passar o meu insta.

Para ser honesta, eu o vejo apenas como o bom amigo que eu saio para andar de skate casualmente, mas ele já deu a entender que quer coisas a mais...

[...]

— Valeu, Hawk! A gente combina nosso próximo rolê?— Perguntei e despedi.

Minha disposição é mínima quando se trata de comparecer a escola, sendo suportada apenas pela presença diária da Adora que me salva todos os dias.

Entre Medos e Incertezas - CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora