São onze e meia da manhã e eu cheguei a conclusão que a coisa mais produtiva que eu fiz hoje foi me levantar e trocar de roupa.
Tenho a sensação que estou vivendo no "modo automático" desde o que o Bow falou sobre a Adora. Não tenho coragem de ligar o meu celular desde ontem após a escola.
Por uns instantes, achei que estava ficando louca quando de repente eu vejo Glimmer entrar no meu quarto, mas fiquei mais aliviada quando percebo que não é alucinação.
— Oi, Catra. Desculpa entrar assim, é que você não respondia as minhas mensagens e eu fiquei preocupada...
Olhei para ela e dei um oi, esperando continuidade da parte dela sem dispensar.
— Eu vi como você estava quando foi embora ontem. Isso não é normal, Catra — Afirmou
Eu não sabia o que responder, só olhei pra baixo e escutei.
— Posso fazer uma pergunta?
— Pode
— Você gosta da adora?
Eu entendi muito bem o que ela quis dizer, mas me recusei a usar essa interpretação.
— Claro, ela é a minha melhor amiga — Afirmei naturalmente
— Não, Catra — Ela diz — Eu não tava falando sobre isso, mas não precisa responder se não quiser
Meu coração gelou e ela já estava preparada para ir embora.
Era como se ela jogasse álcool em um incêndio e depois virasse as costas. Perdi o controle das minhas palavras naquele mesmo momento.
— Eu sei muito bem o que você quis dizer, tá, Glimmer?— Falei em um tom grosseiro — Nunca mais repita isso, tudo bem? Eu não sou assim, Adora é a minha amiga e nada mais! Não quero que pense que eu sinto atração por... — Eu parei.
Ela me olhou assustada com propriedade, confesso. Há anos que eu não grito assim com alguém.
O sentimento de remorso veio denovo, porém mais forte. Glimmer é a minha melhor amiga, me sinto mal por ter gritado, mas tenho a sensação que sou incapaz de pronunciar a palavra "desculpa".
— Acho melhor você responder o seu "amigo" — Se referiu a notificação que, naquele momento, eu recebi de Hawk — Te vejo na festa?— Perguntou e fechou a porta em despedida, sem nem mesmo esboçar um pequeno sorriso.
Hawk: Oi, sumida!
Hawk: Ei, você tá bem? Você anda muito estranha esses últimos dias.
Hawk: Quer conversar?
Hawk: Catra?Olhei somente as notificações, sem abrí-las. Talvez por receio de abrir e ser tão babaca quanto eu fui com a Glim. As mensagens tinham um intervalo de tempo de mais ou menos duas horas, me fazendo perceber o quão estúpida eu consigo ser até mesmo via Bluetooth.
Deitei na cama e me permiti derramar todas as lágrimas que fui capaz naquele momento.
Uma parte descontrolada de mim surgiu e, de repente, a culpa se tornou algo muito frequente na minha vida.
26 de agosto
Querido DiárioTem algumas coisas muito estranhas acontecendo comigo, mas acho que você já está cansado de ouvir isso.
Surtei com uma das minhas melhores amigas hoje e nem consegui me desculpar. Queria muito saber da onde está vindo essa parte descontrolada de mim que surge sempre quando aparece algum gatilho envolvendo a Adora.
Ela e eu não estamos nos falando desde o beijo, acho que Scorpia tinha razão.[...]
Escolher roupa nunca foi uma tarefa difícil para mim, sempre as planejo meses antes do evento. Junto a isso, me arrumei em quinze minutos.
Isso me lembra da dificuldade que Adora tem para escolher roupa, apesar dela nunca se contentar cem por cento com nenhuma. Se ela soubesse que fica extremamente linda em qualquer roupa, iria de pijama para um evento chique.
No fim, fico satisfeita ao usar uma calça jeans e uma camiseta de manga comprida.
Peguei o presente da Scorpia e desci as escadas rapidamente, chamando a atenção da minha mãe.
— Não esquece o guarda-chuva — Alertou enquanto tomava um café. Ergui os braços e olhei para a janela.
— Mas fez sol o dia todo... — Argumentei.
— Pega, tá ali na arara da porta — Revirei os olhos e obedeci.
— Um dia você vai me agradecer por isso! — Confirmou antes de se despedir.
[...]
A festa começou as sete e meia da noite e obviamente eu cheguei as oito. Não gosto da ideia de chegar no horário exato do convite, afinal, ela só de fato começa após passar no mínimo meia hora do horário combinado.
Avistei Scorpia e logo fui cumprimentar.
— Feliz aniversário, Scorpia!— Parabenizei e dei o meu presente
— Obrigada! Que bom que veio, já estava achando que iria perder...
— Seus dezessete aninhos? Nunca!
Ela me abraçou e me conduziu até o grupo de amigos dela (que era constituído por maioria do time de basquete).
Demorou, mas eu avistei. Adora estava em gargalhadas com Glimmer e Bow, me fazendo lembrar que fui a maior escrota hoje cedo.
Como eu vou aproveitar essa festa?
Queria que essa fosse a minha única preocupação.
— Catra — Scorpia chamou quando notou os meus olhos fixados na Adora — Quer que eu chame ela para você?
Neguei rapidamente com a cabeça e tentei me incluir na comversa do grupo.
[...]
— E o primeiro pedaço vai para... — Ela nem mesmo terminou a frase, todos já tinham certeza da escolha que ela faria. Quando se dirigiu para a Perfuma, a menina começou a chorar de emoção, comovendo o coração da aniversariante e, possivelmente, de muitas pessoas daquela sala.
Com o passar do tempo, as pessoas foram pegando pedaços de bolo e docinhos, mas eu optei por não pegar nada.
Eram apenas oito e cinquenta da noite, mas eu já sentia que ia vomitar caso eu continuasse no mesmo ambiente que o meu grupo.
— Scorpia, acho que não estou me sentindo muito bem... — Afirmei — Vou para casa, mas a festa está incrível, parabéns!
Ela olhou para os meus amigos — que se encontravam com pratos enormes de bolo de chocolate — e logo entendeu a situação, mas não contestou.
— Tá tudo bem, eu entendo — Me abraçou forte, me fazendo estremecer um pouquinho pelo tamanho do físico dela — Obrigada por ter vindo!
Dei um sorriso e me despedi do resto das meninas.
Naquela noite, a vida resolveu me dar uma lição com uma chuva intensa, me fazendo agradecer mentalmente pela minha mãe ter feito eu levar o guarda-chuva.
Uma noite que era para ser repleta de diversão e risadas, virou uma das piores da minha vida. Queria ser forte como Scorpia, mas me sinto fraca.
— Catra! — Uma voz familiar gritava meu nome repetidamente, vindo lá do fundo e aumentando conforme seus passos.
Olhei para trás e vi a loira ensopada pela chuva e em desespero, quase voando para os meus braços sem se importar com as roupas ou cabelos molhados.
Quando chegou na minha frente, ela flexionou os joelhos e apiou as mãos, ofegante.
— Não vai ainda, por favor! — Pediu entre uma respiração pesada.
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Entre Medos e Incertezas - Catradora
FanfictionDesde cedo, aprendemos que o primeiro amor é o sentimento mais intenso e puro que somos capazes de sentir por alguém. Para Catra, o seu primeiro amor veio de uma forma natural e inesperada quando desperta sentimentos pela sua melhor amiga de infânc...