Sabe aquela noite demorada, que é composta apenas por um sonho e uma hora de descanso?
É o que eu tive hoje.
Os meus sonhos trouxeram a Adora para mim novamente, junto de uma parte do sentimento que vivenciei ao beijá-la. Acho que a pior parte foi acordar, e eu detesto ter que assumir issso.
O sonho pareceu tão real que sinto que chorei enquanto dormia. Quase fui capaz de sentir o cheiro dos seus cabelos loiros e o gosto do seu gloss de melancia.
Não tive a mínima vontade de levantar. Fiquei imóvel na cama encarando o teto e tendo algumas piscadas como único movimento do meu corpo.
Escuto alguém bater na porta e deduzo que é a minha mãe, já preocupada com o comportamento que tenho apresentado desde ontem ao chegar em casa.
— Catra?— Perguntou — Está acordada? Vai se atrasar para a escola!
— Não me sinto bem — Me esforcei para falar alto de modo com que ela escute atrás da porta — Vou faltar hoje
Essencialmente, em uma situação dessas, ela me puxaria pela canela e colocaria meu uniforme a força, mas apenas ouvi ela suspirar e se afastar da porta.
Passei o dia todo no quarto, descendo apenas para comer quando a minha mãe insistia muito. Talvez por isso eu tive a sensação que o dia durou uma hora.
O que eu fiz em todo esse tempo? Dormi e desenhei, tudo para manter minha mente longe de qualquer coisa que envolva sentir atração por pessoas do mesmo gênero que eu. Nunca tive nenhum preconceito, mas é totalmente diferente quando se trata de >você< em uma realidade em que isso não é normalizado.
[...]
Já se completou três dias que eu não me atrevo a ir a escola. Eu disse a minha mãe que meus amigos tem me evitado e por isso eu estava mal, o que não deixa de ser verdade. Tenho quase certeza que isso não foi o suficiente para fazê-la acreditar, mas também não insistiu. Sinto uma pontada de medo dela suspeitar de algo a respeito da Adora, meu coração aperta só de pensar...
Eu estou me sentindo um pouco melhor, mas ainda tenho que organizar a minha cabeça. Não me atrevi a ligar o meu celular e muito menos ver as notificações.
— Catra — Minha mãe chamou ao me ver dispersa nos meus pensamentos, me fazendo voltar a realidade e perceber que estou na mesa de jantar — Precisamos conversar
Essa geralmente não é uma frase muito acolhedora para os filhos, mas tudo o que me resta é deixar ela falar.
— Eu sei que o motivo dessa sua tristeza excessiva não é só por uma briguinha com os seus amigos.
Meu corpo gelou, me cobrindo de medo do que ela estava prestes a dizer.
— Eu sei que você e Hawk pararam de se falar, mas olha, essas coisas acontecem
Pera aí, o quê?
— Isso tem me preocupado muito. Ele foi o seu primeiro amor, não é? Eu sei como isso dói e que o apoio maternal não é o suficiente para esquecer...
Tentei esconder a minha surpresa (e também uma vontade imensa de cair as gargalhadas) ao ouví-la dizer isso, mas achei melhor assentir e assumir a situação. Ao menos é uma brecha fechada para dizer o motivo real.
— Por isso eu tomei uma decisão. Já marquei sua consulta com a psicóloga e você vai comecar suas consultas a partir da semana que vem
Ah, nem foi tão ruim assim.
Terminamos o nosso almoço caladas. Pude perceber o esforço que a minha mãe fazia para arranjar um assunto, qualquer coisa para dispersar o silêncio desconfortável que nasceu ali.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Medos e Incertezas - Catradora
FanfictionDesde cedo, aprendemos que o primeiro amor é o sentimento mais intenso e puro que somos capazes de sentir por alguém. Para Catra, o seu primeiro amor veio de uma forma natural e inesperada quando desperta sentimentos pela sua melhor amiga de infânc...