{17} 𝙎𝙚𝙣𝙝𝙤𝙧 𝘽𝙧𝙖𝙫𝙩𝙖

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Na extremidade do enorme salão reluzente com velas e papel de parede avermelhado o cheiro de gim impregna o ambiente com seu aroma adocicado, por conta das frutas cítricas. Imagino que seja bebida importada. Bebida barata não me parece ser algo que os russos tomariam.

- Isso pode levar algum tempo - Diz a mulher, quebrando o silêncio.

- Ainda não a perdoei pela atitude que teve.

- E não vou precisar do seu perdão tão cedo - fala abrupta com sua voz tenebrosa que parece sair rasgando de sua garganta. - Dominique, se eu tomei essa decisão é porque eu sei que é capaz!

- Acha que sou capaz? - Agora é minha vez de raspar a garganta, só que com um tom de dúvida.

- É nítido que está ao seu alcance...

O Clima do salão parece esfriar, e nem mesmo as luvas e o casaco grosso parecem esquentar. Não imaginava que Detroit estaria tão frio, bom pelo tempo que senti quando estávamos no campo, aqui dentro está bem mais diferente.

- Desculpa a demora, meninas. Sabem como é difícil convencer esses americanos... Bom, os russos estão meio que ocupados.

Dentro do restaurante, observamos a mesa onde se reuniam pessoas de diversas linhagens, e dali que emanava o aroma inconfundível de gim, que também vinha de mais bebidas das bandejas que os garçons levavam de um lado para o outro, misturando-se ao aroma de frutas e ceras de velas queimadas. O restaurante estava repleto pelos estrangeiros, como se a reserva em uma só mesa tivesse sido feita exclusivamente para eles, mantendo assim uma atmosfera de sigilo e discrição.

- Sinto muito, mas não sei se poderemos conversar agora.

- Vou até lá de qualquer forma. Receio que não se importem de eu roubar apenas alguns minutos.

- Bom, na verdade...

- Vá na frente. - O homem, enleado, ergue uma sobrancelha e novamente volta sua atenção para o suposto americano que se mantém como segurança na área, afastado da mesa e perto da entrada de fita vermelha. Claro que os russos nem repararam na nossa presença, estando a alguns metros de distância e focados na diversão.

- Senhora, não seria melhor voltarmos outra hora? - Minha fala não é motivada pelo medo, mas pela preocupação de nos envolvermos em uma inadvertência.

- Não há outra hora, é necessário que tomamos providências sem intervenção.

- Já falei, não adianta. O segurança não nos deixa passar. Pedi que ele falasse com o chefe, mas ele não respondeu e mandou que fossemos embora. - Retruca Navarros, com uma esperança de que logo a chefe desistiria.

- De certa forma, tudo se adianta.

Ela se mantém firme e, sem hesitar, invade o espaço marcado pela faixa vermelha brilhante que barrava a área. O segurança tenta alcançá-la, mas quando percebe, ela já está dentro da ala de jantar. Vendo que não há mais volta, sigo pelo mesmo caminho na sua direção.

- Senhor Bravta!

Posso contar talvez doze pessoas reunidas, algumas sentadas no estofado, outras em pé envolta da mesa. No entanto, algo que chama atenção é um grupo que apresentam ser os capangas, ao julgar pelas armas e vestimentas e a forma como nós olham e afirmam a postura diferente dos outros reunidos.
Há cinco deles: um homem asiático, baixo e magro, ao lado de um homem negro de porte médio e quadris largos, ambos estão sentados à esquerda, no grande sofá vermelho estofado. À direita, há dois homens carecas, que, pelo jeito, são russos. Por último, uma mulher alta, de cabelos brancos e longos, com os braços cruzados, mantém-se um pouco afastada da mesa. Os três parecem ser russos. Bom, posso estar enganada, talvez não sejam seus aliados - Afinal, há mais pessoas ao redor.

- Espero que a viagem não tenha sido cansativa! - Um homem de meia-idade, de barbas brancas, porém elegante, responde, direcionando sua atenção para a chefe.

- Peço desculpas por interromper sua celebração.

- Evite a formalidade, já sei o motivo de estar aqui. O Conde morreu e você procura pelo assassino! - Fala o homem sem hesitar.

- O senhor já está bem informado, ótimo assim evitaremos explicações longas.

- É claro. Meus informantes viram um jato particular voando pelas redondezas e também já recebi a notícia da morte ontem pela manhã, então já imaginei o motivo de estar aqui presente hoje.

- Senhor! Eu disse a ela que não seria uma boa ideia... - O homem aparece por trás de mim, em um súbito desespero.

- Ah, Navarros... Vejo que está decidido a perder a sua intimidade hoje!

- Não, senhor, eu não vim por isso. E que, bom...

- Me poupe de lamentações, vamos, saiam todos! - O homem vocifera para as pessoas ao redor.

Assim que o homem ordena, as pessoas da grande mesa redonda se levantam e se espalham para fora como soldados obedientes sem ao menos Indagar, partindo a distância. Ficam apenas os cinco homens que eu citei em minhas observações, e eu tinha razão ao dizer que eles eram seus aliados.

- Venha, sente-se. - Diz o homem, apontando para o assento a sua frente. - Espero que goste de gim com frutas cítricas.

A mulher se senta onde é indicado e ajusta seu terno, moldando-o à silhueta de seu corpo alto. Com uma postura imponente, ela encara o homem russo, no caso a se julgar que os dois se trocam olhares fulminantes, prestes a se quebrar a qualquer momento.

- Senhor, por favor, não caía nessa! - Navarros se aproxima da mesa como um filhote de cachorro ansioso pela atenção de seu dono. - Ela pode ser manipuladora... E me desculpe da outra vez, eu... Por favor, só me deixe explicar.

- Levem-no daqui. - Ordena o russo, fazendo menção com a mão, o que faz seu segurança o agarrar com força levando-se o "cachorrinho" para fora. - E também leve a mulher. - O homem dessa vez menciona para mim, e sou puxada por outro segurança à distância. "Droga."

O silêncio começa a se materializar, deixando apenas os olhares distintos da italiana e do russo em atenta ambição. Faço até um mínimo esforço para me soltar dos braços do homem, porém desisto ao perceber que preciso dar um pouco de distância para mulher. E logo vejo tudo sumir de vista.

𝐐𝐮𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐨 𝐜𝐫𝐢𝐦𝐞 𝐬𝐞𝐝𝐮𝐳 (Mafiosa Siciliana e Mercenária Britânica)Onde histórias criam vida. Descubra agora