CAPÍTULO 16

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Keyrdan Jane



_ Meu Deus, Key. Precisava?

_ Não, Lena! Não precisava! - termino de beber a margarita e bato o copo na mesa, antes de exclamar - Mais uma!

_ Keyrdan, você já bebeu um copo e meio de margarita e duas taças de vinho. Chega. - ela puxa o copo para si - Não vou deixar você se embebedar.

_ Com licença, senhoras. - até o barman estava enjoado dessa conversa e resolveu sair.

_ Lena… preciso de mais uma! - me curvo sobre o balcão e bato a cabeça na madeira polida - Eu estou passando por uma decepção amorosa, Selena! Vê se não enche!

_ Epa, está começando ficar rebelde? Pode parar por ai. - ela levanta meu rosto e enxuga os últimos resquícios de lágrimas - Ele não veio, mas isso não é motivo para você ficar acabada assim!

_ É motivo sim! - torno voltar a chorar e dessa vez o rímel e a maquiagem vai junto.

_ Keyrdan!

Com um suspiro, Selena tira um lenço do bolso e começa a limpar o meu rosto borrado de maquiagem.

Eu ainda não consigo acreditar que ele não veio. Depois daquela trágica e longa caminhada até o altar, foi como se eu tivesse aceso o último fósforo que faltava para eles explodirem!

Mamãe correu em minha direção e praguejou milhares de ameaças para Jeon. Meus tios foram para a parte da música e colocaram alguma coisa estranha que eu não consigo identificar agora. Alana está distraindo Keke lá no gramado. Os pais dele estavam discutindo e falando “meu filho nunca teria feito algo assim!”... Mas fez! Será que eles não viam? E o resto dos convidados eu nem sei quem são, mas estão fazendo a festa acontecer.

A festa fracassada e terrivelmente bem elaborada, que foi um fiasco. Um fracasso total e 100% horrível.

Ele não veio.

Eu tentava me convencer disso, mesmo depois de passar quarenta minutos, mas não me desce. Nos vimos um dia atrás e ele parecia radiante e feliz! Parecia até estar empolgado com a ideia do casamento.

Mas eu me enganei

De novo.

Eu confiei em alguém que não deu o meu merecido valor. Eu me entreguei a alguém que traiu a minha confiança! Eu me deixei levar por palavras vazias e sem sentimento.

Ele não veio.

Depois de ligar mais de vinte vezes e o número estar “inexistente”, desisti de vez.

Tentar raciocinar que Jeon me abandonou no altar, me deixou lá, parada e ridiculamente horrorizada, era um peso na consciência! Um peso por ter confiado nele!

_ Ele nunca quis isso, Lena. - digo em tom baixo, com meu olhar fixo no balcão - Foi tudo fingimento.

_ Não Key, não pensa assim. - sou puxada para os braços de minha amiga e, descanso o rosto em seu ombro… aproveitando a oportunidade para chorar - Pode ter acontecido algo mais provável.

_ Lena, não tem outra explicação! - digo em meio às lágrimas.

_ Tem sim! Pode ter surgido algum imprevisto na empresa dele. - ela diz, acariciando meu cabelo.

_ Mas os pais dele disseram que fecharam a empresa em homenagem ao casamento!

_ Keyrdan, não complica! Eu estou tentando achar motivos para ainda confiar nesse canalha.

_ Key? - nos viramos e vimos David, meu primo, escorado contra a entrada para o bar - O namorado da sua mãe está passando mal ali.

_ O que? Porque?

_ Parece que é alérgico a camarão e tinha muitos no buffet! Você vai lá resolver?

Encaro minhas mãos ainda trêmulas, e o cabelo preto de David que esvoaçava com a brisa. Mas logo Selena me impede.

_ Eu vou lá cuidar disso. Eu sou a organizadora, lembra? Fica aqui e come um bolinho. - ela sorri e empurra o prato com uma fatia de bolo na minha direção.

Com um beijo na testa, ela sai com David e corre pelo gramado em direção ao salão. Sou, novamente, tomada por pensamentos e tristeza.

Como ele pôde não vir no nosso casamento?

Sozinha, nesse bar rústico e escuro, me fazia sentir um misto de sensações difíceis de descrever. É como se novamente, o vazio que eu senti ao fugir do Derryn, tivesse reaparecido! E dessa vez com força total.

Do banco onde eu estava, o céu era bem visto. Em breve o sol irá se pôr e esse dia finalmente acabará.

_ Olha quem eu encontrei!

Aquela voz grogue e rouca chama minha atenção, e imediatamente desço do banco.

_ Como você pôde? - me viro para ele e meus olhos lacrimejam - Onde estava?

_ Relaxa, meu amor! Não muito longe daqui. - meu pai fecha a porta do bar e começa a caminhar em minha direção.

O ambiente parecia duas vezes mais escuro agora.

Sua mão calejada e seca passa por mechas do meu cabelo, e o penteiam. Seu cheiro era de puro álcool e cigarro, como se tivesse acabado de sair de alguma sauna, suado e com olheiras fundas.

Esse, com toda certeza, não era o meu pai de verdade.

_ Você está linda, sabia disso? A princesa do… papai. - ele solta uma risada seca e rouca, conforme me joga contra o balcão -

_ O que você está fazendo?

Sou tomada pela raiva e o empurro para longe de mim, me afastando imediatamente.

_ Você está louco? Olha o seu estado, Kaysson! Não ouse tocar um dedo em mim!

_ Você acha que pode contra mim? Cala a porra da boca, pirralha irritante! - suas mãos prendiam meus pulsos fortemente, enquanto sua coxa me impedia de sair.

_ Não toca em mim! - com o rosto já úmido de lágrimas, tento me soltar, mas falho miseravelmente - Me solta! Não faz isso comigo, pai! Por favor!

Minha voz agora era um sussurro sôfrego e molhado, conforme eu chorava e implorava para não ser abusada por meu próprio pai.

Tentar me soltar ou mexer era impossível, principalmente com aquele vestido enorme. Ele não parece, mas é forte! Desse ângulo, sua barba mal feita ressalta em seu rosto pútrido. O fedor horrível de álcool enchendo o ar.

_ Você está tão linda, minha princesa… - seus lábios desceram por meu pescoço me dando ânsia de vômito - Vamos fingir que eu não sou o seu pai, só hoje…

Nesse momento, é como se uma tonelada de tijolos caísse em cima de mim! De uma única vez, sou destruída com apenas essa frase.

Meu próprio pai estava tocando em mim.

Chorando e sem forças, eu não pude fazer muita coisa contra… e ninguém iria ouvir, mesmo que eu desse a vida gritando por socorro.




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