Lidando com as consequências

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Thalita Guimarães
São Paulo

Sinto tudo vir à tona no momento em que ele deixou meu apartamento. Me agarrei nos braços de Maria, sentindo lágrimas caírem dos meus olhos. Sabe a sensação de ser traída? Era isso que estava sentindo, a última opção, aquela que restou, e por isso ele veio atrás. Aproveitou todas na festa e depois pensou: "Por que não me divertir um pouco com a Thalita?" E a besta aqui caiu direitinho nos encantos de Richard Rios Montoya.

— Thata, não chora, vem se sentar — Maria me leva com um pouco de dificuldade até a cama. — Ele não te merece, amiga. É um babaca, um escroto.

— Como eu pude ser tão burra, Maria? — Encaro minha amiga com os olhos marejados. — Como eu me deixei levar ao ponto de dormir com aquele cara?

— Você não foi burra — ela enxuga minhas lágrimas. — Você seguiu o que sentia e está tudo bem, Thalita. Ele quem errou, não você.

— Eu tinha prometido para mim mesma que nunca iria deixar outro jogador me fazer de boba, e olha onde eu vim parar anos depois — rio amargamente. — Como eu sou burra, burra, burra — falo com raiva, ainda soluçando.

— Vamos esquecer isso, hm? Olha, hoje tem um churrasco e você vem comigo, distrair essa sua cabeça — ela faz carinho em meu cabelo.

— Não quero sair, só amanhã na hora de ir para o jogo. De resto, ninguém mais irá me ver.

— Thalita, para com isso. Olha pra você, mulher — ela me encara. — Um mulherão desses, só tem macho bonito atrás de você. Não vai deixar abalar sua vida por conta daquele colombiano idiota.

— Acho que mais idiota que ele só eu mesma.

— Para com isso agora, Thalita Guimarães, ou você quer levar uns tabefes? — Ela me ameaça, arrancando uma risada sincera minha. — Vem, lava esse rostinho e vamos tomar nosso café da manhã especial.

— Maria, você deve estar cansada. Saiu ontem e chegou tarde — falo preocupada. — Vai descansar.

— Não tem sono mais importante do que te ver bem, Thata. E Ma sempre lembra? — Ela estica o dedinho para mim.

— Thata e Ma sempre — junto nossos dedos.

— Agora vamos agir.

Sempre que eu ou Maria não estávamos tendo um dia bom, inventávamos a regra do café da manhã divertido. Eu sei, parece coisa de criança, mas é uma pequena tradição nossa. A gente prepara bolo de caneca, pão na chapa com muita manteiga, fora outras coisas que gostamos de comer, e comemos tudo isso em frente à TV assistindo "Ponyo", um desenho bem antigo que marcou nossa adolescência. Já estávamos quase no final do filme e eu me sentia melhor. Percebi que o erro não foi meu, é sim de Richard. Não iria me culpar ou me colocar para baixo por algo que claramente fiz por puro prazer e desejo, também não irei dizer que me arrependo de tudo o que fiz na noite passada. Aliás, uma coisa que sempre ouço da Maria é: "Se não deu certo, ao menos você sentou naquele cara gostoso." Então, estava tentando colocar essa meta na minha cabeça. Tava tudo muito bem até a Maria começar a me encher o saco para ir no tal churrasco.

— Thalita, vai ser ótimo! O Piquerez me convidou e disse que vai ser super descontraído. Você precisa sair um pouco, espairecer — insistiu Maria.

— Não sei, Maria... Não estou no clima para festas.

— Eu entendo, mas ficar trancada em casa não vai ajudar. Você pode até gostar, vai ter muita gente bacana lá.

— Tem certeza que vai ser tranquilo?

Maria mordeu o lábio, evitando meus olhos.

— Sim, claro. Confia em mim.

Amor em jogo- RICHARD RIOSOnde histórias criam vida. Descubra agora