Capítulo vinte oito

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A calor do seu corpo é maravilhoso, especialmente quando é de alguém que amamos. Não fui para casa ontem; acabei dormindo com o Liam. A cada dia que passa, não consigo imaginar minha vida sem ele. Seus toques, suas mãos explorando meu corpo, seus lábios nos meus... Sua calorosidade me leva ao limite, deixando-me à beira do abismo. Um passo em falso, e eu me entrego completamente, caindo mais fundo na escuridão do seu amor.

Passo minhas mãos pelo lado vazio da cama, sentindo a falta do seu calor. Como ele consegue acordar tão cedo? Sento-me na cama, observando o quarto meticulosamente organizado. Da primeira vez que estive aqui, mal reparei na decoração; estava ocupada demais sentindo sua boca entre minhas pernas. Seu quarto é dominado por tons de preto e cinza, um reflexo de sua personalidade controladora e intensa.

A cama king-size, com lençóis pretos, parece um trono sombriamente cativante. Seu closet é meticulosamente arrumado, com roupas organizadas por cores e separadas por estampas, exibindo um perfeccionismo quase obsessivo. Em contraste, minha natureza bagunceira se destaca. Ele busca a ordem; eu, a espontaneidade. E, de alguma forma, nessa dança de contrastes, nos completamos.

Depois de tomar um banho e escovar os dentes, desço as escadas sentindo o cheiro de um café da manhã maravilhoso. Assim que chego, encontro Liam já na cozinha.

- Bom dia, onde está Rita? - Pergunto.

- Saiu cedo, para resolver algumas coisas. - Ele responde, aproximando-se do balcão.

- Entendi... É... vou falar para o Victor hoje. - Digo, e ele se vira para mim.

- Vamos contar. - Ele corrige. - Creio que eu deva levar um murro na cara. - Ele diz, e acabo dando um leve riso.

- Ele pode ficar com raiva por alguns dias.

- Estarei ao seu lado. - Ele diz, dando a volta no balcão para se aproximar de mim, ficando entre minhas pernas. - E você vai morar comigo, logo em seguida. - Ele diz mais como uma ordem do que um pedido.

- Ah... bom... infelizmente, no momento não posso aceitar seu pedido.

- Não estou pedindo, estou confirmando que você vai morar comigo. - Ele diz, e acabo sorrindo em seus lábios. - Estarei lá às 20:00.

Tomamos o café da manhã juntos e ele me levou ao trabalho. Tudo está se encaminhando de uma forma que eu nunca imaginei: emprego na área que gosto, Bonnie morando perto de mim, e Liam ao meu lado. As coisas estão indo conforme eu desejava, exceto pelo fato de Victor não saber. Mas hoje não passa, vou contar, e ele querendo ou não, terá que aceitar.

Estou em frente ao espelho, encarando meu reflexo. Meu coração está disparado e minha mente corre com mil e uma possibilidades de como começar a conversa. Sinto que, na hora H, vou esquecer o roteiro que repeti a manhã toda.

Já são 20h e nada do Liam. Será que aconteceu alguma coisa? As mensagens que enviei estão sem resposta. E o Victor também não chegou. Pego meu celular para ligar para o Victor e cai na caixa postal. Então, ligo para Rose, que atende no segundo toque.

- Oi, Violet.

- Oi, ah... o Victor ainda está na empresa? - pergunto a ela.

- Não, saiu há mais ou menos duas horas.

- Entendi... e o Liam?

- Ah, ele saiu há quase uma hora. Por quê?

- Ah... por nada. Era só para saber se eles ainda estavam aí.

- Tudo bem, tchau. - Desligo a ligação e me sento no sofá. Só resta esperar.

Já se passaram duas horas e nada de nenhum dos dois. Sério que o destino quer me ferrar tanto assim? Vou à casa do Liam e não esperarei mais.

Pego a chave do carro que Liam me deu, depois de nosso final de semana em Miami. Tive que alugar um estacionamento para guardá-lo e evitar que Victor desconfiasse.

Já em frente à mansão, encontro um homem na entrada que não é Mike. Paro o carro na entrada e caminho em direção à porta principal, mas algo me detém: um som de gemido chama minha atenção. Em vez de entrar, sigo o som que vem da lateral da mansão. Assim que paro diante de uma janela de vidro, vejo uma mulher cavalgando alguém, completamente nua. Não consigo ver quem está por baixo, mas quando o nome é vociferado, meu corpo gela.

- Aahhh... Liam.

Não.
Não.
Não.

Isso não pode ser real. A chave escorrega das minhas mãos e cai no chão. Meu coração dispara, minha visão fica turva. Quando a mulher inclina a cabeça para frente, a reconheço imediatamente.

Meu cachorro está vomitando... meu nome é Katherine... Achei que estivesse voltado com a Katherine... Calo boca, Victor.

Meus olhos se enchem de lágrimas, e o ar parece faltar. Meu peito dói, e a realidade me esmaga. Seus olhos se encontram com os meus, ela morde os lábios e logo ri para mim. Seu sorriso é perverso, como quem estava esperando por isso, esperando que eu visse o que meus olhos se recusam a acreditar.

- Merda... - alguém diz - você não devia estar aqui. - Viro-me e vejo Mike.

- Não devia estar aqui? - Murmuro, completamente fora de mim, o mundo girando ao meu redor. - É o Liam que está ali?

É claro que é, sua imbecil.

- Há quanto tempo está acontecendo?

- Violet, eu não tenho ordem...

- Há quanto tempo? - Vocifero mais alto, olhando em seus olhos.

- Nunca deixaram.

Com sua resposta, meu mundo desaba. Tudo o que vivemos não passou de uma mentira. É assim que se sente quando somos magoados por quem amamos? Uma dor no peito tão avassaladora que prefiro morrer a senti-la?

Passo por Mike em direção ao portão de saída.

Por quê? Por que sempre tenho que me lascar? Tudo na minha vida é uma merda. O mundo não se cansa de me ferrar?

Então deixo as lágrimas caírem pelo meu rosto, lavando a dor que estou sentindo. Não consigo acreditar no que acabei de ver. Por que ele faria isso? Por que brincar com meus sentimentos? Por que desejar que alguém que já sofreu tanto também sofra? Meu coração dói, um grito de dor está entalado na minha garganta. Tudo ao meu redor se torna insignificante, e só consigo sentir essa angústia.

O amor é tão contraditório; sua capacidade de trazer felicidade intensa é equiparada pela intensidade da dor que pode infligir.

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