Capítulo cinco

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Acabei dando uns cochilo no sofá junto com a Bonnie; acordei subitamente ao reviver aquele momento de pesadelos que insiste em me atormentar, o coração martelando no peito e o suor escorrendo por minha testa. Eu quero gritar, quero quebrar algo e me liberta desse pesadelo que me aprisiona, Um fardo insuportável, deixando-me sufocada pela culpa e pelo remorso.
Passei a noite em claro, ansiosa procurando por alguma notícia sobre o que aconteceu e até agora nada.

Bonnie acordou e tomamos café; estamos no carro a caminho para a cidade de sua tia, o tráfego é tranquilo, com Bonnie cantando suas altas músicas, Conversando comigo, porém não prestando atenção no que fala.

Me sinto como um furacão inerte, com uma intensidade gigante de emoções, mas ao mesmo tempo incapaz de encontrar medidas como continuar após ter mudado irrevogavelmente o percurso da minha própria existência.

Chegamos à cidade e paramos em frente a uma casa amarela pequena, com apenas um andar, mas possui uma varanda acolhedora que se estende pela frente da casa, com o telhado marrom que cria um contraste com o amarelo.

A mulher branca com os cabelos da cor do cabelo da Bonnie sai de casa.

- Mi querida sobrina. - diz a mulher com seu sotaque cubano, envolvendo a Bonnie em um abraço de conforto e saudade.

- achei que tivesse me abandonado.

- deixa de drama tia, vim aqui semana retrasada. - soltando sua tia do abraço e apontando para mim.

- Tia, essa é a Violet que falei para você. - Bonnie apresenta, enquanto sua tia olha para mim com o olhar de conforto e me abraça.

- Sinto muito pelo que aconteceu com você.
- fala me soltando e olhando nos meus olhos.

- Vamos entrar, fiz um bolo de laranja para comermos - nós entramos e caminhamos em direção a mesa de jantar e se sentamos.

- A Bonnie me contou o que aconteceu. Esses cretinos acham que somos saco de pancada. Uma joelhada foi pouca, mas para sairmos, qualquer coisa tem que dar certo para fugirmos. - ela diz entregando pratos com o pedaço de bolo e uma xícara, colocando café.

- você teve sorte de sair um pouco ilesa. - comentou sentando-se e pegando o pedaço de bolo para ela.

- Quando falei para meu ex esposo que queria me separar, ele me deu uma surra que fui parar no hospital, quase morta. - ela para e toma um pouco do seu café antes de continuar.

- Dias depois, foi ao hospital pedir para voltar para ele, pedindo desculpas falando que não iria mais me machucar, que ia melhorar, mas era só mentira. Mas mesmo assim eu disse que o aceitaria. Não queria que ele me machucasse, mas ainda no hospital, ele me beijou e disse que íamos nos mudar para começar do zero. Na mesma noite, fugi, sem olhar para trás. Vim para cá e comecei uma nova vida.

- não se esqueça de falar de mim - Bonnie diz com seu tom de mandão .

- Ah, claro, como ia me esquecer? - fala rindo.

- um mês depois Bonnie apareceu na minha porta como um cachorro sem dono.

- cachorro, tia? - diz Bonnie incrédula.

- correção, um gatinho sem dono. - rimos juntas por sua brincadeira.

- Claro, eu não ia ficar com aquele povo gordo fóbico e machista que é a nossa família.

Marta começa a contar sobre sua história, como conheceu seu ex-marido, como tudo começou, sobre sua família, como reagiram por deixar tudo e vim para outro país.

O dia passou rápido e Marta me mostrou o seu pequeno mercadinho onde eu iria trabalhar. Jantamos, conversamos, assistimos e fomos para cama, pôs logo de manhã Bonnie teria que voltar e eu e Marta trabalhamos.

No dia seguinte nós nos despedimos de Bonnie e fomos para o mercadinho.
Estou vestida em uma calça e moletom com capuz, não quero que ninguém me reconheça.

O mercadinho é pequeno mas com variedades incríveis de coisas. Tem até os cupcakes que a Bonnie faz, com certeza aprendeu com sua tia.

O restante do dia foi normal, limpando, atendendo os clientes. Na hora do meu almoço procurei por mais alguma notícia e novamente nada. Será que não descobriram ainda ? Penso. Mas com certeza vão achar, só é questão de tempo, tomara que comecem a me caçar depois que estiver longe daqui.

Volto e continuo minha jornada, fechamos a loja e voltamos para casa. Comemos uma macarronada incrível que marta fez. A Bonnie que me desculpa mas em questão de culinária sua tia dá o nome. Bonnie é incrível no requisito de doces, mas não teve o dom da culinária que a sua tia tem.

Me lembro uma vez que a Bonnie foi torrar um ovo e acabou queimando por não saber o tempo exato, quase toca fogo em sua casa. Depois disso ela começou a fazer uns cursinhos pra saber o básico.

Terminei de jantar e fui lavar os pratos até que Marta entrou na cozinha.

- vejo que está preocupada, está com medo de ele a encontrar ?

- não, é que.... É que eu fiz uma coisa ruim. - digo, tentando me aliviar da tensão que estou.

- dependendo do que tenha feito não foi o suficiente. Pessoas como eles merecem mais que a morte.

- o'que você teria feito ? - pergunto

- sinceramente? - balanço a cabeça em confirmação. - teria arrancado o pau dele e feito ele engolir goela a baixo.

- nossa. - falo, rindo sem graça. - agora sei quem a bonnie puxou.

- Mas não se culpe Violet, o'que você tenha feito, foi por legítima defesa. - diz, dando um beijo em minha cabeça. - boa noite. - fala se afastando. Termino de lavar os pratos e guardo.

Sigo para o meu quarto, tomo um banho e me deito, pensando como vou contar para meu irmão. Será que ele vai ter medo de mim ? Não, pensando bem, não posso contar a ninguém. Não quero envolver ninguém e obrigá-los a carregar esse peso nas costas.
Digo, pensando comigo mesma, desligando o abajur e tentando descansar um pouco.



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