Caim: Coração Das Trevas

Capítulo 17

Capítulo 17: O Caminho das Sombras**

À medida que a noite descia sobre o acampamento, Caim sabia que era hora de seguir em frente. Eles estavam se dirigindo para o Pico do Diabo, uma rota traiçoeira entre as montanhas e os pinheiros densos. A escuridão envolvia o grupo, e a única luz vinha das estrelas e das tochas que carregavam. O vento assobiava entre as árvores, criando uma sinfonia sinistra que refletia a inquietação de todos.

Enquanto liderava o grupo, Caim começou a ouvir uma voz familiar e aterrorizante. Era o Deus primordial, Mortus, aquele que havia concedido a ele a maldição e o poder.

- Sede, Caim... Você precisar beber mais, quanto mais sangue mais poderoso... - sussurrava a voz, rastejando em sua mente como uma serpente.

A sede de sangue se intensificava a cada passo. Caim olhou ao redor para seu povo, vendo cada um deles como uma tentação suculenta, suas batidas cardíacas ecoando em seus ouvidos como um tambor hipnótico. Ele sabia que não poderia continuar assim, que precisava se afastar antes que a sede o dominasse completamente.

- Dimitri, vou na frente como batedor. Você fica no comando até eu voltar - disse Caim abruptamente, sua voz firme, mas seus olhos denunciando a luta interna.

Dimitri, confuso, assentiu, mas a preocupação era evidente em seu rosto. Caim deu um último olhar ao seu povo antes de desaparecer na escuridão da floresta, afastando-se o máximo possível.

Longe dos olhos vigilantes de seus companheiros, Caim encontrou um pequeno espaço entre as árvores, onde a escuridão parecia mais densa. Foi então que ele percebeu a presença dos morcegos, voando ao redor dele em círculos. Sentiu a sede crescendo, um desespero incontrolável que ameaçava dominá-lo.

- Quem está aí? - gritou Caim, sua voz ecoando entre as árvores. - Mostre-se!

De uma moita próxima, surgiu uma figura inesperada. Um mendigo, sujo e maltrapilho, saiu das sombras, suas roupas rasgadas e seu rosto marcado pelo tempo e pela miséria. Ele levantou as mãos, em um gesto de submissão.

- Eu não estava seguindo você, senhor - disse o mendigo, sua voz baixa e rouca. - Estava seguindo as trevas.

Caim olhou para ele, os olhos ainda brilhando com uma luz predatória, mas algo na presença do mendigo o fez parar.

- Quem é você? - perguntou Caim, tentando controlar a sede que pulsava em suas veias.

- Eu sou apenas um servo das trevas, meu senhor. E agora, um servo seu. Não porque você é um rei mortal, mas porque você se tornou o Rei das Trevas - respondeu o mendigo, seus olhos brilhando com uma devoção insana.

Caim sentiu um calafrio percorrer sua espinha. A ideia de ser o "Rei das Trevas" o enojava, mas também havia uma verdade inegável ali. Ele era algo mais agora, algo que inspirava medo e lealdade cega.

- Por que você quer servir a mim? - perguntou Caim, sua voz carregada de desconfiança.

- Porque vejo a grandeza em você, meu senhor. Vejo a escuridão que pode dominar esta terra, e quero fazer parte disso. Quero ajudar a espalhar o seu reinado - disse o mendigo, seus olhos fervendo com uma loucura fanática.

Caim respirou fundo, tentando afastar a sede e a tentação. Ele sabia que precisava de aliados, mas também sabia que precisava manter o controle.

- Muito bem - disse Caim finalmente. - Você pode servir a mim, mas lembre-se: eu sou quem dita as regras.

O mendigo assentiu vigorosamente, seu rosto iluminado por um sorriso tortuoso.

- Como desejar, meu senhor. Estarei sempre à sua disposição - prometeu ele.

Com isso, Caim virou-se e começou a caminhar de volta para o acampamento, sentindo o mendigo seguir a uma distância respeitosa. A presença dele era uma lembrança constante do que Caim estava se tornando, mas também uma prova de que ele ainda podia comandar e controlar.

Enquanto a escuridão da noite os envolvia, Caim sabia que a verdadeira batalha não seria apenas contra os Paladinos ou as forças do Grão Mestre, mas contra a escuridão dentro de si. E ele estava determinado a vencer essa batalha, não importa o custo.