***KARA***
Era gostoso andar e sentir a tensão deixando seus músculos tensos, enquanto ela se perdia entre a multidão apressada. De vez em quando, parava aqui e ali para tirar fotos. Tomou um refrigerante, sentada numa mesinha de bar e, logo em seguida, entrou num ônibus.
Uma hora depois, chegou ao parque do Ibirapuera. Àquela hora do dia, poucas pessoas se aventuravam a andar debaixo daquele sol escaldante. Foi direto para o quiosque de Vassilou, seu querido amigo grego.
Quando chegou, o homem de meia idade a cumprimentou com efusividade, beijando-lhe as duas faces. Serviu-lhe refresco gelado e uns beliscos e, sentou-se ao seu lado com uma xícara de seu forte café grego.
- Quantas saudades, pethi mou... - ele começou, em um português carregado do sotaque grego acompanhado do sorriso generoso, que lhe era tão peculiar.
- Também senti, Vassilou... - treinando seu português. Estava contente em estar ali, sentada com aquele bom homem que a tinha ajudado tanto, em sua solidão, a quatro anos atrás.
Enquanto colocavam a conversa em dia, um outro senhor, também conhecido de Kara, juntou-se a eles e, sem demora, as cadeiras da pequena mesa foram tomadas por um círculo masculino. Aquiles, filho de Vassilou, trouxe café para todos e se acomodou ali também.
Ela sentia-se relaxada e feliz por estar sendo mimada por aqueles senhores alegres e de bom coração. Apesar do pesadelo de seu relacionamento com Lena, apaixonara-se por São Paulo. Por aquela São Paulo. E sentira muitas saudades quando retornar para Londres.
De repente, no meio da conversa divertida, uma mão pousou em seu ombro, pelas costas.
O toque causou-lhe um sobressalto de instantâneo reconhecimento. Seu corpo, aquele idiota, reagiu ao toque, e seu sorriso desapareceu.
- Agora entendo por que minha "esposa", sente falta daqui... - as palavras foram ditas em bom português com o objetivo de deixar bem claro seu significado... Os pobres senhores se calaram. Uns sorriam divertidos, outros sorriam assustados.
Kara se inclinou para pôr a xícara sobre o tampo da mesa, embora sua verdadeira intenção fosse se livrar da mão de Lena, ainda pousada em seu ombro. Mas, aquilo não aconteceu. Os dedos macios e longos escorregaram pela sua nuca, e então ela se abaixou e deu-lhe um beijo carinhoso no rosto.
Lena sabia que ela não gostaria daquilo, mas também não a rejeitaria perante todos aqueles olhares interessados, assustados e incrédulos.
Em poucos segundos, os senhores começaram a dar desculpas e se levantarem, dirigindo-se para as mesas ao lado.
Kara, corada pela fúria, encarou-a.
- Como sabia onde me encontrar? Continua me seguindo, Lena? - o português com sotaque gracioso, saiu naturalmente.
Lena, tinha um sorriso irônico no rosto bonito. Seus olhos brilhavam, e quando falou, sua voz revelava sua surpresa:
- Então quer dizer que você fala e entende minha língua....
Aquilo não era o que Kara esperava ouvir. Mas, escondeu sua surpresa com um meio sorriso.
- Qual é o problema? Pensou que "sua esposa" fosse tão burra que não conseguisse aprender ao menos meia dúzia de palavras?
- Nunca achei que fosse burra.... - disse. - ...e pelo que percebo, não são algumas poucas palavras...
- Inapta e desinteressante, então?
Lena nada respondeu. Apenas sentou-se e ficou estudando-a com tanta intensidade que, de repente, Kara pegou-se dando a informação que era óbvio que Lena desejava.
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Uma segunda chance.
RomanceApós 4 anos de separação, Lena decide que está na hora de seguir em frente e encontrar uma nova pessoa para formar uma família. Seu único empecilho é a sociedade que ainda tem com sua antiga companheira, disposta a comprar essa parte de sua sócia...