Capítulo 1: O Baile de Inverno

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Em 1820, a cidade de Westminster fervilhava com a chegada do inverno. As ruas, sempre agitadas, agora estavam cobertas por um manto de neve que parecia trazer consigo uma sensação de renovação e expectativa. Era a época mais aguardada do ano para a alta sociedade, pois marcava o início da temporada de bailes e eventos grandiosos. E, entre todos os acontecimentos, nenhum era mais esperado do que o Baile de Inverno na majestosa Highbury House. Highbury House, uma mansão imponente e cheia de história, pertencia à respeitada família de Montague. Seus salões esplendorosos, adornados com tapeçarias e candelabros de cristal, eram palco de muitas das festas mais memoráveis da sociedade. E este ano, o Baile de Inverno prometia ser o mais espetacular de todos, pois havia um motivo especial para a celebração: o vigésimo aniversário de Fernanda de Montague, a jovem e encantadora filha do anfitrião. Fernanda estava em seu quarto, no segundo andar da mansão, observando a neve cair suavemente pela janela. Seu coração batia acelerado com a antecipação da noite que estava por vir. Vestida em um deslumbrante vestido azul celeste, bordado com finos detalhes prateados, ela parecia uma visão de inverno. Seus cabelos castanho-escuros estavam elegantemente presos, deixando algumas mechas soltas que emoldurava seu rosto delicado. Enquanto Fernanda ajustava os últimos detalhes de sua aparência, a porta do quarto se abriu e sua mãe, Lady Isabella de Montague, entrou com um sorriso caloroso.— Está maravilhosa, minha querida — disse Lady Isabella, aproximando-se para ajustar um pequeno detalhe na saia de Fernanda. — Este será um baile inesquecível. Fernanda sorriu, mas havia uma ponta de nervosismo em seus olhos.— Espero que sim, mamãe. Tenho tantas expectativas para esta noite. — Ela fez uma pausa, olhando para o reflexo de sua mãe no espelho. — E se algo der errado? Lady Isabella riu suavemente e segurou as mãos de Fernanda.— Nada dará errado, minha filha. Você está preparada para esta noite há muito tempo. Apenas seja você mesma e tudo correrá bem. Com essas palavras de encorajamento, Fernanda sentiu-se um pouco mais confiante. Ela sabia que a noite seria um marco em sua vida, não apenas por ser seu aniversário, mas porque seria sua estreia oficial na sociedade. E, como tal, ela estaria sob os olhos atentos de todos os presentes, incluindo possíveis pretendentes. A noite caiu e a mansão começou a se encher de convidados. Carruagens luxuosas chegavam uma após a outra, trazendo nobres de todas as partes. Os salões de Highbury House, iluminados por milhares de velas, pareciam brilhar ainda mais intensamente enquanto os convidados adentravam com suas roupas deslumbrantes e joias cintilantes. Fernanda desceu as escadarias principais, sentindo-se como uma princesa em um conto de fadas. Quando seus pés tocaram o chão do salão, todos os olhares se voltaram para ela. Havia murmúrios de admiração e muitos sorrisos calorosos. Entre os convidados, estava Lady Margaret, uma conhecida da família de Montague, que observava Fernanda com um olhar avaliando. Lady Margaret era uma mulher de beleza impressionante, mas com um coração amargurado pela inveja. Ela tinha seus próprios planos para a noite e Fernanda não fazia parte deles. Enquanto Fernanda circulava pelo salão, cumprimentando os convidados e recebendo os parabéns, ela foi apresentada ao Duque de Raventhorne, um homem que emanava uma aura de mistério. Alto, com cabelos negros e olhos penetrantes, o Duque Alexander era conhecido por sua reserva e pelas inúmeras histórias que cercavam seu passado. — Senhorita Fernanda, permita-me apresentá-la ao Duque de Raventhorne — disse Sir Edmund de Montague, pai de Fernanda, com um sorriso orgulhoso.— É um prazer conhecê-la, senhorita — disse o Duque, inclinando-se ligeiramente em um gesto de cortesia.— O prazer é meu, Vossa Graça — respondeu Fernanda, sentindo um leve rubor subir às suas faces. A conversa entre eles foi breve, mas deixou Fernanda intrigada. Havia algo nos olhos do Duque que despertava sua curiosidade, um mistério que ela desejava desvendar. No entanto, antes que pudesse pensar mais sobre isso, a música começou e os convidados se dirigiram ao salão de dança. O Baile de Inverno estava em pleno andamento. As melodias executadas pela orquestra enchiam o ar de uma magia especial, e os casais dançavam com graça e elegância. Fernanda foi convidada para várias danças, mas seus pensamentos constantemente voltavam ao enigmático Duque.Enquanto observava a cena ao seu redor, Fernanda notou que Lady Margaret estava conversando animadamente com o Duque. Uma pontada de ciúmes atravessou seu coração, mas rapidamente afastou o sentimento, lembrando-se das palavras de sua mãe. A noite avançava e, durante um breve intervalo entre as danças, Fernanda decidiu explorar um pouco a mansão, buscando um momento de tranquilidade. Subiu uma escadaria menos movimentada e seguiu por um corredor que levava ao sótão. Era um lugar que sempre a intriga, cheio de relíquias e memórias da família. No sótão, a luz da lua filtrava-se pelas janelas, criando um ambiente quase mágico. Fernanda vasculhou algumas caixas e encontrou uma antiga carta, cujo papel estava amarelado pelo tempo. Ao abrir a carta, ela reconheceu a caligrafia de sua avó, a falecida Duquesa de Montague. A carta mencionava um segredo que parecia estar ligado à família Raventhorne. Antes que pudesse ler mais, Fernanda ouviu passos se aproximando. Rapidamente guardou a carta e se virou, apenas para encontrar o Duque de Raventhorne parado na entrada do sótão.— Perdão pela intromissão, senhorita Fernanda. Não pretendia assustá-la — disse ele, com um leve sorriso.— Não está assustando, Vossa Graça. Apenas estava… explorando — respondeu Fernanda, tentando manter a calma.O Duque se aproximou lentamente, seus olhos fixos nos dela.— Este lugar guarda muitos segredos, não é mesmo? Fernanda assentiu, ainda sentindo o peso da carta em suas mãos.— Sim, muitos segredos. Os dois permaneceram em silêncio por um momento, apenas observando um ao outro. Havia uma conexão inegável entre eles, algo que ambos podiam sentir, mas que ainda não conseguiam compreender completamente.— Eu gostaria de conhecê-la melhor, senhorita Fernanda — disse o Duque, quebrando o silêncio. — Há algo em você que me intriga profundamente. Fernanda sentiu seu coração acelerar novamente. Havia tantas perguntas em sua mente, tantas coisas que queria saber sobre o misterioso Duque. Mas, por ora, apenas sorriu e respondeu: — Também gostaria de conhecê-lo melhor, Vossa Graça. Com essa promessa implícita de futuros encontros, os dois retornaram ao salão principal, onde a noite continuava em seu esplendor. O Baile de Inverno, com todas as suas luzes, música e danças, era apenas o início de uma história que prometia ser cheia de romance, intrigas e descobertas. E, para Fernanda, essa era a noite em que tudo mudaria.O salão principal de Highbury House estava em plena efervescência. As damas, em seus vestidos deslumbrantes, moviam-se com graça, enquanto os cavalheiros, em trajes impecáveis, as acompanhavam em danças elegantes. Fernanda, de volta ao centro da festa, notou que Lady Margaret estava se aproximando. A expressão no rosto de Margaret era calculada, um sorriso que não alcançava os olhos.— Fernanda, querida — disse Lady Margaret, sua voz doce como mel envenenado. — Vejo que teve a atenção do Duque de Raventhorne. Muito impressionante.Fernanda, consciente do tom insinuante de Margaret, manteve sua compostura.— Foi apenas uma breve conversa, Lady Margaret. Nada mais.— Ora, não seja modesta. Um Duque como ele dificilmente se interessa por conversas triviais. — Margaret inclinou-se um pouco mais perto. — Mas tome cuidado, minha cara. Nem tudo que reluz é ouro. Antes que Fernanda pudesse responder, a música mudou para uma valsa e o Duque apareceu, como se surgisse da névoa, estendendo a mão para Fernanda.— Senhorita Fernanda, me daria a honra desta dança? — perguntou ele, seus olhos fixos nos dela.— Seria um prazer, Vossa Graça — respondeu Fernanda, aceitando a mão dele. Enquanto dançavam, Fernanda sentiu-se envolvida pela proximidade do Duque. Havia algo em sua presença que a fazia sentir-se segura, mas ao mesmo tempo, despertava um turbilhão de emoções.— Vejo que Lady Margaret não é exatamente uma amiga sua — comentou o Duque, sem rodeios.Fernanda sorriu, um pouco surpresa pela franqueza dele.— Lady Margaret é… complexa. Nossas diferenças são antigas. _Cuidado com ela, Fernanda. Nem todos têm boas intenções — disse o Duque, com uma seriedade que fez Fernanda estremecer.— Vou me lembrar disso, Vossa Graça — respondeu Fernanda, tentando esconder a inquietação que crescia em seu peito. Enquanto a dança continuava, Fernanda não conseguia deixar de pensar nas palavras do Duque e na carta que encontrara no sótão. O que ela poderia significar? E qual era a verdadeira história por trás da família Raventhorne? Após a dança, Fernanda e o Duque se separaram, e ela se encontrou novamente cercada por convidados que desejavam parabenizá-la. Entre sorrisos e cumprimentos, sua mente estava longe, presa nos mistérios que começavam a se revelar naquela noite. Ela finalmente encontrou um momento para escapar do burburinho do salão e se dirigiu a uma pequena biblioteca adjacente, um de seus lugares favoritos na mansão. As paredes forradas de livros ofereciam um refúgio tranquilo, longe da agitação do baile. Sentou-se em uma poltrona confortável, ela tirou a carta da avó do bolso e começou a ler novamente. A carta falava de um amor proibido, de segredos familiares e de uma promessa que deveria ser cumprida. O nome Raventhorne  aparecia várias vezes, entrelaçado com o destino dos de Montague. Fernanda mal podia acreditar nas revelações que surgiam diante de seus olhos. Havia algo profundo e sombrio que ligava sua família à do Duque, algo que poderia mudar tudo o que ela sabia sobre seu próprio passado. Perdida em seus pensamentos, Fernanda foi interrompida pela chegada inesperada de sua mãe, Lady Isabella.— Fernanda, querida, você está bem? — perguntou Lady Isabella, com preocupação na voz.— Estou, mamãe. Apenas precisava de um momento para pensar — respondeu Fernanda, guardando rapidamente a carta. Lady Isabella sentou-se ao lado da filha e segurou suas mãos.— Este é um grande dia para você, minha querida. Sei que é muita pressão, mas você está lidando com isso maravilhosamente bem.Fernanda sorriu, sentindo-se reconfortada pelo toque e pelas palavras de sua mãe. — Obrigada, mamãe. É só que... há tantas coisas que não entendo, tantos segredos. Lady Isabella olhou profundamente nos olhos da filha e suspirou.— Todos temos nossos segredos, Fernanda. Mas alguns devem ser revelados no momento certo. Por agora, aproveite sua noite. Você merece. Com essas palavras, Lady Isabella beijou a testa de Fernanda e saiu da biblioteca, deixando a filha com seus pensamentos. Fernanda sabia que havia muito mais a descobrir, mas também sabia que sua mãe estava certa. A noite ainda era jovem, e ela precisava aproveitar cada momento. Voltando ao salão principal, Fernanda foi imediatamente cercada por amigos e familiares. Lady Margaret, ao longe, observava cada movimento de Fernanda com olhos afiados. Mas Fernanda estava decidida a não deixar que a rivalidade e a intriga estragassem sua noite. Quando a meia-noite se aproximava, Sir Edmund subiu ao palco improvisado no centro do salão para fazer um discurso em homenagem à sua filha. Os convidados se reuniram ao redor, ansiosos para ouvir as palavras do anfitrião.— Queridos amigos, é com grande alegria que celebro o vigésimo aniversário de minha amada filha, Fernanda. Ela é a luz de nossas vidas e tenho certeza de que todos aqui compartilham do meu orgulho e admiração por ela. — Sir Edmund fez uma pausa, olhando carinhosamente para Fernanda. — Esta noite, não só celebramos seu aniversário, mas também sua entrada oficial na sociedade. Que esta seja apenas a primeira de muitas noites memoráveis. Os convidados aplaudiram e brindaram em homenagem a Fernanda. Ela sentiu uma onda de emoção e gratidão, sabendo que estava cercada por pessoas que a amavam e apoiavam. Após o discurso, a música recomeçou e o salão foi tomado novamente pelas danças e conversas animadas. Fernanda foi convidada para mais uma dança, desta vez pelo jovem e charmoso Lorde Henry, um amigo da família. Enquanto dançavam, ele a encheu de elogios e promessas de futuros encontros. Mas, mesmo enquanto ria e conversava com Henry, seus pensamentos voltavam constantemente para o Duque de Raventhorne. Havia algo nele, uma atração inexplicável e uma sensação de que seus destinos estavam irrevogavelmente ligados. Ao final da noite, quando os últimos convidados estavam se despedindo e a música começava a diminuir, Fernanda encontrou-se novamente com o Duque. Ele estava perto da porta principal, observando a neve que continuava a cair suavemente do lado de fora.— Foi uma noite encantadora, senhorita Fernanda — disse ele, virando-se para encontrá-la.— Sim, foi. Muito mais do que eu poderia ter esperado — respondeu Fernanda, sentindo-se estranhamente à vontade na presença dele.— Espero que possamos nos encontrar novamente em breve. Há muito que gostaria de discutir com você — disse o Duque, seu tom sugerindo segredos que ainda não haviam sido revelados.— Eu também espero, Vossa Graça — respondeu Fernanda, olhando nos olhos dele. Com uma última troca de sorrisos e promessas não ditas, o Duque partiu, deixando Fernanda com um misto de emoções e perguntas sem respostas. Enquanto observava a carruagem do Duque se afastar pela estrada coberta de neve, Fernanda sentiu uma certeza crescente em seu coração: aquela noite era apenas o começo de uma jornada que mudaria sua vida para sempre. E, com essa certeza, ela fechou a porta da mansão, pronta para enfrentar os mistérios e desafios que o futuro reservava. A neve continuava a cair, cobrindo Westminster com um manto branco e silencioso, enquanto a mansão Highbury House começava a adormecer após uma noite de celebração e revelações. Fernanda, de volta ao seu quarto, sentou-se na beira da cama, segurando a carta de sua avó com firmeza. Ela sabia que a jornada que a aguardava seria cheia de surpresas e desafios, mas estava determinada a descobrir a verdade e seguir seu coração. E, assim, com um suspiro profundo, apagou a vela ao lado de sua cama e se deitou, deixando-se levar pelos sonhos e pelas promessas de um futuro incerto, mas cheio de esperança.

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