Capítulo 8: A Verdade sobre a Carta

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Os dias após a exposição de arte foram de grande êxito e satisfação. Highbury House havia se consolidado como um centro cultural e artístico, e a escola de arte atraía cada vez mais atenção e apoio. No entanto, mesmo com todo esse sucesso, Fernanda sentia que algo a incomodava. Era a carta que havia encontrado há alguns meses, uma carta que sugeria segredos obscuros relacionados ao passado de sua família. Ela ainda se lembrava vividamente do dia em que encontrou a carta escondida entre os livros da biblioteca de Highbury House. Estava empoeirada e desgastada pelo tempo, mas as palavras nela contidas eram claras e perturbadoras. A carta, datada de muitos anos antes, mencionava um escândalo envolvendo o antigo Duque de Montague e sugeria que havia sido acobertado para proteger a reputação da família. Durante semanas, Fernanda guardou a carta em  com os preparativos para a exposição e parecia tão feliz com o sucesso recente que ela não queria perturbá-lo. Mas, agora que a exposição havia terminado, Fernanda sentia que era o momento certo para confrontar essa questão. Uma noite, enquanto Alexander revisava alguns documentos no escritório, Fernanda decidiu que não podia mais adiar a conversa.— Alexander, preciso falar com você sobre algo importante — disse ela, entrando no escritório. Alexander levantou os olhos dos papéis e imediatamente percebeu a seriedade na expressão de Fernanda.— Claro, querida. O que aconteceu?Fernanda respirou fundo, tirando a carta do bolso do vestido e entregando-a a Alexander.— Encontrei esta carta há algum tempo, escondida na biblioteca. Acho que você deve ler. Alexander pegou a carta com cuidado e começou a lê-la. Sua expressão mudou de curiosidade para preocupação à medida que absorvia o conteúdo. Quando terminou, olhou para Fernanda com uma mistura de surpresa e inquietação.— Isso é... perturbador. Você sabe quem escreveu?— Não tenho certeza — respondeu Fernanda. — A carta está assinada apenas com as iniciais "C.H." Não consegui encontrar mais nada sobre quem poderia ser. Alexander ficou pensativo por um momento, passando a mão pelo queixo.— Preciso falar com meu tio, o Marquês de Montague. Se alguém souber algo sobre isso, será ele. No dia seguinte, Alexander e Fernanda foram visitar o Marquês em sua propriedade. O Marquês de Montague era um homem de idade avançada, mas ainda mantinha uma presença imponente. Ao vê-los, ele sorriu calorosamente, mas seu sorriso desapareceu quando Alexander mostrou a carta e explicou a situação.— Tio, encontramos esta carta em Highbury House. Fala sobre um escândalo envolvendo o antigo Duque. O que você sabe sobre isso? O Marquês leu a carta lentamente, sua expressão se tornando mais sombria a cada linha.— Eu esperava que isso nunca viesse à tona — disse ele finalmente, suspirando. — Mas acho que vocês têm o direito de saber a verdade. Ele os convidou a se sentarem e começou a contar a história.— Há muitos anos, antes mesmo de vocês nascerem, houve um grande escândalo na família Montague. Meu irmão, o antigo Duque, teve um caso com uma jovem da cidade. Isso em si já seria um problema, mas o pior foi que essa jovem ficou grávida. Fernanda e Alexander trocaram olhares chocados, absorvendo a revelação.— Naquela época, um escândalo desse tipo poderia arruinar a reputação de uma família nobre. Então, meu irmão fez um acordo com a família da jovem para que ela fosse enviada para o interior, onde poderia ter o bebê em segredo. A criança foi entregue a um orfanato, e a jovem foi mandada para viver com parentes distantes.— Isso é terrível — disse Fernanda, com a voz trêmula. — E o que aconteceu com a criança?— A criança foi adotada por uma família local. Nunca soubemos o que aconteceu com ela depois disso. Meu irmão sempre se sentiu culpado por essa situação, mas fez o que achava necessário para proteger a família. Alexander estava visivelmente perturbado.— E essas iniciais, "C.H.", o que significam? O Marquês franziu a testa, tentando lembrar.— Acho que devem ser de Charles Hamilton, um antigo amigo do meu irmão. Ele sabia sobre o caso e ajudou a organizar o acobertamento. Mas por que ele deixaria essa carta em Highbury House, eu não sei. Fernanda e Alexander agradeceram ao Marquês pelas informações e retornaram a Highbury House, com suas mentes cheias de perguntas e incertezas. A revelação havia mudado a maneira como viam a história de sua família e levantando novas questões sobre quem poderia ser a criança perdida. Naquela noite, enquanto estavam sentados na sala de estar, Fernanda olhou para Alexander com preocupação.— Precisamos encontrar essa criança, Alexander. Ela tem o direito de saber quem realmente é e de conhecer sua família. Alexander concordou, segurando a mão dela.— Sim, mas será uma tarefa difícil. Não sabemos onde começar a procurar.Fernanda pensou por um momento e então teve uma ideia.— E se pedirmos ajuda a Charles Hamilton? Ele pareceu interessado em nos ajudar antes. Talvez ele saiba algo mais sobre essa história.— Vale a pena tentar — disse Alexander. — Vamos escrever a ele e ver se está disposto a se encontrar conosco. Fernanda e Alexander escreveram uma carta a Charles Hamilton, explicando o que haviam descoberto e pedindo sua ajuda. Alguns dias depois, receberam uma resposta positiva. Charles concordou em se encontrar com eles em Highbury House para discutir o assunto. No dia marcado, Charles chegou à mansão e foi recebido por Fernanda e Alexander no salão de visitas. Ele parecia sério e preocupado.— Recebi sua carta e vim o mais rápido que pude — disse Charles. — O que exatamente vocês descobriram?Fernanda entregou a carta que haviam encontrado, e Charles leu em silêncio. Quando terminou, seu rosto estava pálido.— Isso é mais grave do que eu imaginava — disse ele, com a voz grave. — Eu sabia sobre o caso, mas não sabia que meu nome estava envolvido dessa maneira.— Precisamos da sua ajuda para encontrar a criança — disse Alexander. — Você sabe de mais alguma coisa que possa nos ajudar? Charles ficou pensativo por um momento, e então assentiu lentamente.— Na verdade, sim. Lembro-me de que a jovem mãe foi enviada para uma vila chamada Elmsworth. É um lugar pequeno e isolado. Talvez possamos começar a busca lá. Fernanda e Alexander agradeceram a Charles por sua disposição em ajudar e começaram a planejar a viagem a Elmsworth. Sabiam que seria uma tarefa desafiadora, mas estavam determinados a descobrir a verdade e encontrar a criança perdida. Alguns dias depois, partiram para Elmsworth, com Charles os acompanhando. A viagem foi longa e cansativa, mas finalmente chegaram à pequena vila, que parecia congelada no tempo. As ruas eram estreitas e as casas, antigas, com telhados de palha e janelas pequenas.Ao chegarem, foram recebidos com curiosidade pelos moradores locais. Fernanda, Alexander e Charles começaram a fazer perguntas, tentando descobrir qualquer informação sobre a jovem mãe e a criança. Depois de várias conversas infrutíferas, encontraram uma senhora idosa que parecia conhecer a história.— Sim, me lembro dessa jovem — disse a senhora, cujo nome era Edith. — Era uma garota bonita e triste. Ela ficou aqui por algum tempo antes de ir embora. Mas a criança... sim, a criança foi deixada no orfanato local.Fernanda sentiu uma onda de esperança.— E esse orfanato ainda existe? — perguntou ela.Edith balançou a cabeça.— Não, foi fechado há muitos anos. Mas o zelador, o Senhor Thompson, ainda mora aqui. Ele pode saber mais sobre o que aconteceu com as crianças. Fernanda, Alexander e Charles seguiram as instruções de Edith e encontraram o Senhor Thompson, um homem idoso com olhos gentis e memória aguçada.— Ah, sim, me lembro bem daquela criança — disse ele. — Um menino, muito saudável e cheio de vida. Foi adotado por uma família da cidade. Eles eram pessoas boas e cuidaram bem dele.— Você sabe onde podemos encontrar essa família? — perguntou Alexander, ansioso. O Senhor Thompson pensou por um momento e então sorriu.— Acho que sim. Eles se mudaram para uma cidade próxima chamada Harrington. O nome deles era Collins. Se procurarem lá, talvez possam encontrar mais informações. Com uma nova pista, Fernanda, Alexander e Charles agradeceram ao Senhor Thompson e partiram para Harrington. A viagem foi mais curta desta vez, e logo chegaram à cidade. Era um lugar mais movimentado do que Elmsworth, com ruas largas e comércio próspero. Após algumas buscas, encontraram a residência dos Collins. Era uma casa acolhedora, cercada por um belo jardim. Ao baterem na porta, foram recebidos por uma mulher de meia-idade, com um sorriso amável.— Em que posso ajudá-los? — perguntou ela.— Estamos procurando informações sobre uma criança que foi adotada pela sua família muitos anos atrás — explicou Fernanda. — O nome dele era...Antes que Fernanda pudesse terminar, a mulher sorriu amplamente.— Ah, você deve estar falando de Thomas! Claro, entrem, entrem. Thomas é meu filho Fernanda, Alexander e Charles seguiram a mulher para dentro da casa, sentindo uma mistura de ansiedade e esperança. A casa dos Collins era acolhedora, com móveis de madeira polida e fotografias familiares nas paredes.— Meu nome é Margaret Collins — disse a mulher, oferecendo-lhes cadeiras na sala de estar. — Thomas é meu filho adotivo. Ele sempre soube que era adotado, mas isso nunca fez diferença para nós. Ele é um homem maravilhoso, e estamos muito orgulhosos dele.— Onde ele está agora? — perguntou Alexander, tentando manter a calma. Margaret sorriu com orgulho.— Thomas está na Universidade de Oxford, estudando Direito. Ele sempre foi muito inteligente e determinado. Está visitando-nos este fim de semana. Na verdade, ele deve chegar a qualquer momento. A notícia encheu Fernanda de uma sensação de urgência e excitação. Estavam tão perto de encontrar o homem que procuravam. Enquanto aguardavam a chegada de Thomas, Margaret contou mais sobre a infância dele, como ele sempre foi uma criança curiosa e cheia de energia. Ela também mencionou que ele tinha uma paixão por ajudar os outros e que era muito respeitado em sua comunidade. Após algum tempo, ouviram a porta da frente abrir e dar passos no corredor. Um jovem alto, de cabelos castanhos e olhos expressivos, entrou na sala. Ele parou ao ver os visitantes inesperados, um olhar de curiosidade e leve surpresa em seu rosto.— Ah, Thomas, esses são Fernanda, Alexander e Charles — disse Margaret. — Eles vieram de Highbury House e têm algo muito importante para te contar. Thomas franziu a testa, confuso, mas cumprimentou-os educadamente.— É um prazer conhecê-los. Em que posso ajudar? Fernanda respirou fundo, sentindo o peso do momento. Ela sabia que a revelação que estava prestes a fazer mudaria a vida de Thomas para sempre.— Thomas, nós descobrimos uma carta antiga que revelou um segredo de nossa família — começou ela. — A carta sugere que você é o filho do antigo Duque de Montague e que foi entregue a um orfanato logo após seu nascimento. Seus pais biológicos foram forçados a se separar, mas queríamos que você soubesse a verdade sobre suas origens. Thomas parecia atordoado, olhando de Fernanda para Alexander e depois para sua mãe adotiva. Margaret segurou a mão dele, oferecendo apoio.— Sei que é muita informação para processar — continuou Alexander. — Mas achamos que você tem o direito de saber sobre seu passado. Queremos que você se sinta parte de nossa família, se desejar. Thomas ficou em silêncio por um momento, absorvendo a informação. Finalmente, ele olhou para Margaret, que assentiu encorajando-o.— Sempre soube que era adotado, mas nunca imaginei que minha história fosse tão complicada — disse ele. — Preciso de algum tempo para pensar sobre isso.— Claro, tome todo o tempo que precisar — disse Fernanda, compreensiva. — Não queremos forçar nada. Só queremos que saiba que estamos aqui para você, de qualquer forma que precisar. Thomas agradeceu e, após uma conversa breve, os três visitantes se despediram de Margaret e de Thomas, prometendo manter contato. De volta a Highbury House, Fernanda e Alexander discutiram o que havia acontecido.— Foi um grande choque para ele — disse Alexander. — Mas acho que fizemos a coisa certa. Ele tem o direito de saber.— Concordo — disse Fernanda. — Agora, tudo o que podemos fazer é esperar e ver como ele decide lidar com isso. Alguns dias depois, receberam uma carta de Thomas. Ele agradecia pela revelação e expressava sua vontade de conhecê-los melhor. Ele sugeriu um encontro em Highbury House para conversar mais sobre sua história e suas famílias. O encontro foi marcado para o próximo fim de semana. Thomas chegou pontualmente e foi recebido calorosamente por Fernanda e Alexander. Caminharam pelos jardins, conversando sobre suas vidas e experiências. Thomas ficou impressionado com a beleza e a história da mansão.— É difícil acreditar que minha história começou aqui — disse ele, olhando ao redor.— Highbury House é um lugar cheio de memórias e histórias — disse Fernanda. — E agora, sua história também faz parte dela. Durante o passeio, Thomas fez muitas perguntas sobre sua família biológica e seus ancestrais. Alexander mostrou a ele retratos e documentos antigos, contando histórias sobre os Duques de Montague e suas contribuições para a sociedade. Thomas também compartilhou histórias sobre sua infância com os Collins, suas paixões e sonhos. Fernanda e Alexander ficaram encantados ao ver como ele era uma pessoa admirável, cheia de ambições e um forte senso de justiça.— Quero agradecer a vocês por me procurarem e por serem tão abertos sobre tudo isso — disse Thomas. — Sei que não deve ter sido fácil.— Foi o que precisávamos fazer — disse Alexander. — Você faz parte desta família, e queremos que se sinta bem-vindo e amado. O encontro foi um grande passo para todos. Thomas começou a visitar Highbury House regularmente, conhecendo mais sobre sua herança e construindo laços com sua nova família. Ele também manteve um relacionamento próximo com os Collins, equilibrando suas duas identidades de maneira harmoniosa. A verdade sobre a carta havia sido revelada, e embora tivesse trazido desafios e incertezas, também havia aberto portas para novas conexões e entendimento. Fernanda e Alexander estavam gratos por terem encontrado Thomas e por poderem oferecer a ele um lugar onde sempre seria bem-vindo. Enquanto caminhavam juntos pelos corredores de Highbury House, Fernanda sentiu uma profunda sensação de paz e realização. Eles haviam enfrentado a verdade, e isso os havia tornado mais fortes e unidos. E assim, a história de Highbury House continuava a se desenrolar, cheia de amor, desafios e descobertas. E no coração dessa história, Fernanda e Alexander encontraram não apenas uma nova conexão familiar, mas também uma nova esperança para o futuro.

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