03 - Di Cosa Siamo Fatti?

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03 - Do Que Somos Feitos?

VALENTINA

Depois do encontro macabro que tive mais cedo com Antonio, tudo o que procurei foi me esconder até o fim deste maldito evento. Procurei a minha mãe por todo o salão, para só então descobrir que ela e meu pai já haviam ido para casa. Realmente já está tarde... Como eu não vi passar tantas horas? E o que eu acabei de presenciar no jardim? O que vão fazer com aquele pobre coitado? Meu Deus! Tantas dúvidas, e tenho certeza que coisas muito ruins seriam as respostas.

Tudo o que envolve Antonio, vem junto com dor e sofrimento. Ele atrai isso pra si mesmo, por que sente prazer na desgraça. Eu lembro bem como ele me olhou com desprezo quando decidiu que iria me tirar da vida dele. Ele me olhou como se eu não tivesse dado 3 anos da minha vida para ele, eu estava disposta a renunciar tudo e todos por ele. E depois de um erro... que nós dois cometemos... Não! Erro não... Que seja, tivemos a mesma parcela de responsabilidade. Mas ele nem ao menos esteve comigo quando eu mais precisei. Eu me senti usada e sem valor, e não tive nem com quem desabafar. Ninguém entenderia, e eu seria muito julgada. Eu imagino o que poderia acontecer com a reputação da minha família. Meu pai com certeza teria algum ataque cardíaco se soubesse. Sempre fomos tão ligados e unidos. Ai pai, por quê você trouxe esse homem para a minha vida? Me pergunto como será no jantar de noivado marcado para a próxima sexta-feira. Já está tão próximo!

Parece que foi ontem que meus pais falaram na mesa de jantar, que ficava mal eu me casar só depois dos 30 anos. Que eu poderia ter problemas para gestar filhos, ou que eu poderia acabar ficando sem ninguém. Logo eu, "A filha única do casal os deixaria sem netos". Disseram que já tinham tudo planejado, e sabiam que eu concordaria com tudo. Nunca tive oportunidade de retrucar. Mas tenho certeza que eles perceberam o desespero em meu olhar.

O grande problema é, que na criação que tive não existem respostas, apenas obediência. E isso está realmente acabando com a minha paz. Só tenho 5 dias para fazer esse noivado terminar, antes mesmo de começar. Imagina! Tudo ficará mais difícil caso esse jantar aconteça. Meu Deus! Será que vou precisar ficar muito tempo ainda perto dele? Mesmo depois de 10 anos, ainda existe tanta mágoa e tantos assuntos mal resolvidos entre nós. Eu odeio meu noivo com tudo que existe em mim. Sou capaz de planejar a sua morte, apenas para ficar viúva e não deixar ele me tocar na lua de mel. Que nojo dele! E hoje na sala, como ele pode me tocar com aquela intimidade? Tudo o que já fomos um dia, morreu. Acredito que tudo o sobrou foi... infelizmente o tesão... ah, esse ainda estava lá. Como eu costumava me lembrar. Se ele não fosse tão perverso, e tivesse jogado tudo o que construímos fora...

Nada disso faz mais sentido. Eu passei muito tempo tentando me reconstruir, me reconectar comigo mesma. Essa experiência acabou com tudo o que havia de belo e delicado em mim. Não tinha mais volta. Entende? Eu não posso acreditar que ele já teve a audácia de mentir que me amava. Não se pode confiar em homens. Principalmente homens da máfia italiana. Já escutei diversas histórias sobre as maldades que eles faziam para garantir o poder e o respeito, no próprio meio. Consigo imaginar o que seriam capazes de fazer com nós, que não entendemos nada desse mundo. Eu ainda não consigo entender o porquê de meu pai ter me colocado nessa cama de gato. É claro, como água, que isso vai acabar mal para mim. Independente do meu destino, não vejo uma saída boa. Ou eu aceito meu fardo e me caso com o demônio, e vivo uma vida infeliz com um homem que me despreza. Ou então, eu luto para me livrar disso, vou contra meus pais, e posso acabar como uma refugiada procurada por esses homens só por diversão e vingança.

Um dos meus lemas sempre foi, "Se não podes vencer seu inimigo, se junte a ele.", mas nesse caso, eu teria que renunciar a minha própria alma. Olhar para Antonio, é relembrar todo o mal que ele me causou. Toda a dor que ele me fez passar. O pior de tudo foi quando eu pensei que ele sentia o mesmo, e depois vi que nada o abalou. Ele não se importava com nada além da família e da máfia. "Nesta ordem", como ele costumava dizer. Isso eu lembro bem, ele não me deixava esquecer. Que nada e nem ninguém ficaria em seu caminho, para a ascensão ao trono. E eu percebi como nem eu ficaria, da forma como ele foi rápido em se livrar de nós. Era ridículo, a liderança seria dele de qualquer forma. Ele é filho único!

A DAMA DA MAFIAOnde histórias criam vida. Descubra agora