Capítulo 6

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Daimian Thalor

   A tenda de comando estava mergulhada em uma penumbra silenciosa, o som abafado das atividades do acampamento durante à noite penetrava às pesadas cortinas de lona, eu me inclinava sobre a mesa, estudando o mapa espalhado à minha frente. Cada movimento de nossas tropas, cada possível rota de invasão estava marcado ali, um quebra-cabeça estratégico. Olhei novamente para o mapa traçando com o dedo a linha da fronteira que separava nossos domínios dos territórios dos De Noir, cada ponto marcado era um possível ponto de confronto. Saí da tenda, buscando o ar frio da noite para acalmar meus pensamentos, sigo meu caminho para o templo de Krasnygrad, passei pelos soldados, alguns dos quais me saudaram com respeito, enquanto outros estavam mergulhados em suas próprias preocupações.

     A noite estava fria e silenciosa quando encontro-me com Rosallind nas ruínas Krasnygrad. As sombras das colunas caídas e das pedras esculpidas criavam um ambiente quase místico, enquanto a luz da lua lançava sua luz sob nós. Rosallind estava lá, envolta em um manto negro, seus olhos brilhando com a mesma astúcia que sempre a acompanhava.
Eu sabia que qualquer palavra trocada com ela seria um jogo de xadrez, a onde cada movimento precisava ser calculado com precisão.
General Thalor - sua voz doce sussurrou ao vento, eu cruzei os braços, mantendo minha postura firme.
— Não somos aliados, Rosallind. - ela deu um passo à frente com seus olhos fixos nos meus.
— Meu irmão subestima você, assim como subestima muitos de seus outros inimigos. Mas eu não cometo esse erro. Sei que você tem algo a oferecer e eu também. - caminho até ela e por alguns segundos tenho lembranças de nós em um passado morto.
— Vladimir e meu pai estão planejando um ataque surpresa no flanco oeste de Aldraskar. Seus homens não estarão preparados para isso. Meu pai já não comanda mais como antes, meu amor. - ela fala enquanto passa seus dedos delicado pela extensão de seus cabelos pretos como às sobras que a cercavam.
— E por que você me diria isso?- perguntei, sem baixar a guarda.
— Porque há algo que eu quero em troca, meu bem. - ela respondeu calmamente, e a tensão entre nós era palpável. — Preciso de informações sobre sobre a menina que o estúpido do meu irmão não matou. - eu a encarei, tentando esconder qualquer reação que pudesse trair meus pensamentos, Rosallind sorriu, um sorriso que evocava lembranças de uma época da qual éramos jovens e imaturos. A proximidade dela fez meu coração acelerar, uma sensação que não sentia há muito tempo.
— Muito bem...Selene tem se destacado por sua habilidade estratégica e seu aprendizado em guerra e defesa, ela é uma jovem extremamente inteligente e habilidosa, e bem promissora. ‐ Rosallind aparece absorver cada palavra que digo.
— E sua origem? Família?
— Sua família é originária do continente gélido de Arvendor, os pais vieram refugiados para Aldraskar com ela ainda bebê. Onde pretende chegar com isso? - ela franziu ligeiramente a testa com o interesse genuíno brilhando em seus olhos.
— Arvendor... Fascinante. - enquanto ela ponderava sobre essas novas informações, eu sinto o suave toque de sua mão na minha.
  
  O toque era familiar e avassalador, reacendendo um fogo antigo dentro de mim, olho em seus olhos que brilhavam com uma mistura de saudade e desejo.
— Cuide-se, Daimian e lembre-se apesar de tudo, uma parte de mim sempre estará com você. Sempre que eu sentir seu chamado, eu darei um jeito de aparecer. - Rosallind desaparecia nas sombras, eu em contrapartida permanecia imóvel. Retomei de volta para a cidade antes que minha ausência fosse notada, carregando o peso da informações que ela me entregou. A troco de uma informação tão pequena e insignificante, no meu ponto de vista.

  De volta à tenda de comando, o silêncio da noite parecia ainda mais opressor, às palavras de Rosallind ecoavam em minha mente, misturadas com a lembrança do toque dela. Havia uma parte de mim que sempre cederia àquele toque, apesar disso não podia me deixar levar.
O que havia de tão especial em Selene que despertava o interesse de Rosallind? a cada minuto que passava, mais me perguntava se eu havia subestimado a importância daquela jovem, por que Rosallind estava tão interessada nela?
 
  Tentei afastar esses pensamentos, mas a memória do olhar intenso de Rosallind continuava a me atormentar. Seu interesse por Selene não era mera curiosidade; havia algo mais profundo, ela sempre foi um ótima mentirosa, e me deixava inquieto pensar que ela poderia estar jogando comigo, mesmo agora. Será que ela tinha alguma intenção oculta ao me confidenciar o plano de ataque do irmão? Estou exausto e preciso tentar manter mente calma, a decisão de confiar nela está me corroendo.

— Senhores - falo com a voz firme e autoritária ao entrar a tenda de comando. - Precisamos reforçar nossas defesas imediatamente.
— Capitão Khal, você deslocará suas tropas para o flanco oeste. Quero uma linha de defesa sólida e bem equipada.
— Sim, senhor! - Khal respondeu, antes de sair rapidamente para cumprir as ordens, me viro para o tenente responsável pela cavalaria.
— Tenente Orin, mantenha sua unidade em alerta máximo, quero patrulhas constantes na fronteira oeste e qualquer movimento suspeito deve ser reportado imediatamente.
— Entendido, general! - Orin respondeu, já se virando para organizar suas tropas. - enquanto meus homens se dispersavam para cumprir minhas ordens, eu volto a observar os mapas. Eu sabia que Rosallind tinha seus próprios motivos para compartilhar aquelas informações e isso me preocupava, Porém, no momento, a prioridade era proteger Aldraskar e seus habitantes.

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