Capítulo 14

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Selene


  O acampamento estava envolto de silêncio que era apenas quebrado pelo som distante de passos e murmúrios suaves, é madrugada e o céu ainda estava escuro, pontilhado de estrelas. Eu e Lyra caminhavam com cuidado indo de acampamento ou outro, tentando não fazer barulho enquanto se aproximavam do local onde Jack estava descansando. Lyra segurava um laço vermelho em suas mãos, o símbolo de proteção e sorte que ela havia feito especialmente para Jack, eu podia ver a esperança nos olhos dela,  mesmo que houvesse uma tristeza latente por trás.

Quando chegamos à tenda de Jack, ele estava sentado ao lado de uma fogueira moribunda, perdido em pensamentos, ele ergueu o olhar ao ouvir nossos passos com um sorriso cansado aparecendo em seu rosto ao nos reconhecer.
— Selene, Lyra... - ele se levantou, indo ao nosso encontro. — O que fazem aqui a essa hora?
—Não poderíamos deixar você partir sem uma despedida adequada - eu digo tentando não deixar às emoções me levarem.

 Lyra se aproximou de Jack e, sem dizer uma palavra, amarrou o laço vermelho na empunhadura da espada dele, ela olhou para Jack, os olhos cheios d'água.
— Esse laço vai te proteger e trazer sorte. - disse Lyra com a voz embargada.
  Ele se virou para mim, eu senti um nó na garganta, queria dizer tantas coisas, mas as palavras pareciam fugir, então eu simplesmente abraço Jack, testando transmitir tudo o que eu sentia naquele gesto simples.
— Cuide-se, Jack. - eu disse por fim. Jack assentiu, trazendo Lyra para o nosso abraço apertado.
— Somos uma família. - ele disse com a voz firme.

O tempo parecia se estender enquanto permanecíamos juntos, porém sabíamos que a partida era inevitável. Jack se afastar relutante, sabemos que ele deve ir, eu apenas sorrio para Jack, um sorriso triste mas cheio de esperança, eu olho para Lyra, que já tinha lágrimas nos olhos e juntas começamos a fazer o caminho de volta.
  Enquanto voltamos, o silêncio entre nós duas era palpável, estamos perdidas em nossos próprios pensamentos, eu olho uma última vez para trás vendo Jack se afastar.
— Vamos estar juntos novamente Lyra. - eu digo e Lyra segura minha mão, como se fossemos crianças novamente.

O horizonte começava a clarear com os primeiros raios de sol quando chegamos aos limites do acampamento. A despedida de Jack deixava um vazio, uma sensação de perda que só o tempo poderia amenizar.
De volta ao acampamento principal, a rotina diária começava a se desenrolar,  soldados já estavam de pé, enquanto a movimentação aumentava gradualmente, nós  misturamos à multidão, tentando absorver a normalidade ao redor, mas é visível que ambas estamos com o peso da despedida em nossos corações.

   Cada ruído inesperado, cada mensageiro que chegava, me fazia parar e observar ma esperança por notícias, mesmo sabendo que ainda era cedo demais para qualquer atualização, provavelmente o grupo de Jack ainda não chegou lá.
  A tarde avançou lentamente. Estou organizando os suprimentos quando um mensageiro chegou, exausto e coberto de poeira, meu coração pulou uma batida, eu me aproximo rapidamente esperando por indícios de Jack. O General Thalor é chamado e muitos homens param para escutar.

— Há movimentação no flanco oeste. - disse o mensageiro, entregando um pergaminho lacrado ao general. — Mas nada conclusivo ainda. Continuamos monitorando. Esperamos um possível confronto na madrugada de hoje meu General. - Daimian  não expressa reação alguma, nada.
— Esta dispensado. - eu escuto o general ordenar. Daimian não está surpreso ou preocupado com a notícia. Ele já tinha mandado homens para o flanco há dois dias, é provável que ele já suspeitasse de um ataque.
  A ansiedade aumentava a cada minuto, tentava me concentrar nas minhas tarefas, mas minha mente sempre voltava para Jack e para o perigo que ele enfrentava. Cada minuto parecia uma eternidade, cada som era um lembrete de tudo poderia acontecer num piscar de olhos.

༄༄༄

  Estamos em estado de alerta, mesmo que Daimian Thalor não tenha mandado mais ninguém para o flanco oeste, permanecemos em alerta constante, estou no estábulos junto de Azalus, ele estava precisando de uma atenção especial, roubei algumas maças da parte de suprimentos para ele.
— Azalus... estou tão confusa ultimamente. - falo enquanto levo uma maçã em sua boca. — Não me olha assim, não tinha às verdes, seu rabugento. - ele move a cabeça para direita, e eu faço carinho e beijo seu rosto.
— Falndo sozinha soldado? - a voz grave me assusta. — Não sabia que os meus soldados tinham bichinhos de estimação.

— Seus soldados? - olho fixo para Alaric que dá um leve sorriso de lado. — Azalus está comigo desde de filhote. - Alaric se senta sobre o pedaço de trono de árvore e continua a me encarar.
— Desculpa... mas você precisa de algo? - eu pergunto de maneira impaciente.
— Achei que poderia me esconder aqui, Daimian está um pouco irritado. - ele coçou a nuca desconfortável com a situação, eu lhe ofereço uma maçã e ele aceita. Acredito que independente da irritação do irmão, ele deve respeitá-lo, afinal estamos falando de Daimian Thalor.
— Desculpa por atrapalhar seu momento sozinha, irei deixá-la em paz. - ele se levanta e vai embora, não me despeço ou falo mais nada, Azalus levanta a pata esquerda em sinal de impaciência.
— Você comeu todas às maçãs, lindo. - me despeço de Azalus e caminhei na direção oposta de Alaric, enquanto faço o caminho para ir para minha casa, lembro que em breve não terei mais como ir para minha casa, pelo menos não quando me desse vontade.
  

  Ao entrar em casa, senti um peso sair dos meus ombros, mesmo estando aqui apenas para pegar algumas coisas, tive uma rápida vontade de nunca mais deixar esse lugar. A familiaridade das paredes, o cheiro de madeira envelhecida e os móveis que guardavam tantas memórias me confortavam. Enquanto colocava duas túnicas em um saco de pano, sou movida por uma curiosidade súbita de revisitar o antigo quarto dos meus pais.

  A porta rangeu levemente ao ser aberta, revelando um espaço que parecia intocado pelo tempo. A luz da lua filtrava-se pelas cortinas, iluminando o ambiente com uma calma acolhedora. Respirei fundo, sentindo a mistura de saudade e tristeza que sempre acompanhava minhas visitas a esse quarto.
  
  Meus olhos percorriam os móveis antigos e os objetos familiares, nunca tive coragem para reorganizar essa parte da casa, antes que saia do quarto algo me chamou a atenção. No canto mais afastado do quarto, quase escondida sob uma pilha de cobertores, havia uma caixa de madeira antiga, a curiosidade me levou até lá, e com cuidado removi os cobertores que a cobriam. A caixa era de um mogno escuro, com entalhes intricados e a chave enferrujada ainda permanecia na fechadura. Sentei-me na beira da cama, colocando a caixa no colo. Ao abrir aquela caixa me senti pequena novamente. Com mãos trêmulas, girei a chave e ouvi o clique suave quando a caixa se abriu.

  Dentro dela, havia uma coleção de itens como cartas escritas à mão, pergaminhos envelhecidos, pinturas do oceano, e pequenas sacolas de couro com brilho dourado que capturou minha atenção. Abri uma das sacolas de couro e vi moedas de ouro reluzentes, algumas com um emblema desconhecido. Segurei uma moeda entre os dedos, sentindo o peso, todos esse anos e elas aqui, teriam me poupado muito trabalho. Enquanto avaliava o quanto de dinheiro eu tinha agora, algo diferente chamou minha atenção no fundo, um objeto envolto em um pano de linho, com cuidado, desatei o nó que o prendia e desdobrei o tecido.

  A garra era negra como a noite, seu toque era frio e suas bordas, incrivelmente afiadas, como se pudessem cortar o próprio ar, meus pelos se arrepiarem, isso era um testemunho silencioso de uma criatura imensa e poderosa. Segurei a garra, maravilhada e intrigada, não sei ao certo de que criatura ela havia vindo, mas sua presença era inegavelmente impressionante.

  Era como se meus pais estivessem ali, ao meu lado, compartilhando suas vidas comigo, a garra, agora em minhas mãos, parecia um elo tangível entre nós, pego os três saquinhos de couro cheio de moedas e os coloco no meu saco maior de viagem, cubro a garra com o tecido de linho e o levo comigo dentro da parte interna do meu gibão¹ de couro. Saio trancando a porta de casa e sigo em direção ao acampamento principal.

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Oi

Espero que estejam gostando da história
e lembre-se, críticas são bem-vindas,
peço desculpas por qualquer erro ortográfico, que eu possa ter cometido,
a estrelinha de vcs é muito importante para mim, não se esqueçam dela.
✨️beijinhos ✨️

Gibão¹
        uma túnica justa ou jaqueta com enchimento. O gibão era preso por botões ou laços em toda a frente e, algumas vezes, botões desde o cotovelo até o punho, com as mangas alcançando a palma da mão.

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