Capítulo 2

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Vladimir De Noir

   Nos recessos sombrios do castelo, erguido sobre os escombros de reinos que caíram, eu observava o campo de batalha abaixo. As chamas ardiam em meio ao caos da guerra, iluminando a paisagem com uma luz lúgubre enquanto os exércitos se chocavam em um turbilhão de violência e morte, eu observava de longe a carnificina se desenrolando diante de mim.
 
  Para alguns, eu era apenas uma sombra, uma lenda sussurrada em noites escuras, mas para aqueles que me desafiavam, eu era uma força da natureza, uma tempestade de destruição que não conhecia misericórdia. Desde os primeiros dias de minha existência, fui marcado pela escuridão, abandonado pelas estrelas, fui criado nas profundezas do abismo, nutrindo-me da dor e do desespero daqueles que ousaram cruzar meu caminho. E agora, como Senhor Sombrio, era minha missão trazer essa mesma escuridão para o mundo, para um dia reinar sobre eles, era o dever entregue à mim.
  
  Os guerreiros de Aldraskar lutavam com bravura e determinação, mas eram como formigas diante de um gigante. Não importava o quão forte fosse sua vontade ou quão afiada sua espada; no final, todos sucumbiriam a escuridão que eu trazia. Era uma visão que me enchia de prazer. A batalha era minha arte, meu domínio, meu meio de impor minhas vontades sobre o mundo. Enquanto os exércitos se chocavam e às espadas se cruzavam, eu me regozijava na destruição e no caos que criava.

— Senhor De Noir. - disse uma voz ao meu lado, quebrando minha contemplação. Virei-me para ver meu conselheiro mais confiável, uma figura esguia que se movia como uma sombra entre às trevas.
— O relatório da batalha, meu senhor. - disse ele, estendendo-me um pergaminho enrolado. Peguei o pergaminho desenrolando-o com um gesto de impaciência, as palavras escritas ali eram um testemunho obscuro da carnificina que se desenrolava abaixo de mim - morte e destruição em uma escala que os mortais mal podiam compreender.
— Os guerreiros de Aldraskar resistem com mais tenacidade do que esperávamos. - disse meu conselheiro, sua voz suave como o sussurro de uma brisa noturna. — Mas não importa. Nossa vitória é inevitável. - assenti, sentindo uma onda de satisfação percorrer meu ser. Não importava o quão ferozmente meus inimigos lutassem; no final, eles seriam dominados pela escuridão que eu representava. Era apenas uma questão de tempo.
 
  Eu me afastei das ameias do castelo, mergulhando de volta na escuridão de meus aposentos. Lá, entre às sombras e os murmúrios dos condenados, eu finalmente me fechava do mundo lá fora.
Nenhum exército, nenhum guerreiro, nenhum reino poderia resistir ao poder implacável da minha família, Aldraskar seria apenas mais um troféu em minha coleção interminável de reinos conquistados.

༄༄༄

  Enquanto a noite caía eu estava sentado ao lado do meu pai o Rei. Meus olhos, estavam fixos em um mapa estendido diante de mim marcado com os símbolos dos reinos que ainda resistiam à minha vontade.
— Às vezes penso o senhor já não tem o suficiente? - a voz melancólica de minha irmã me tira a concentração, ri mentalmente de sua pergunta, mas não o fiz de fato, meu pai olha para ela e sorri. O sorriso que ele só direcionava à ela.
— Minha querida e doce criança, você sabe que eu te daria o mundo não sabe? - ela concordou em silêncio. — Pois é exatamente o que eu estou fazendo. - ela olha para mim e se senta ao meu lado.
— Por te ajudar?
— Claro, fique com os mapas à minha direita. - ela sorri se divertindo com a pequena utilidade.
— Eu irei para o meus aposentos. - meu pai anuncia e eu a minha irmã nos levantamos e esperamos ele sair para nós sentar novamente.
— Você também concorda que eu sei.
— Eu sou conhecido com Senhor Sombrio, eu sou o braço direito dele, o povo não fala o meu nome verdadeiro por medo. Eu ansioso pela vitória do nosso pai sempre. Porque um dia eu estarei com a coroa. - ela não responde nem debocha como de costume, apenas retorna ao que estava fazendo, seus movimentos silenciosos refletindo uma resignação melancólica. Aldraskar era apenas um peão, uma peça insignificante em meu tabuleiro de conquista, mas era um peão que se recusava a se render, um obstáculo em nosso caminho para a dominação.
 
   Observei com uma mistura de desdém e interesse às forças de Aldraskar se prepararem para a batalha que se aproximava. Sabia que estavam reunindo seus exércitos e fortalecendo suas defesas. Minhas sombras sussurravam coisas e indicavam possessões.
— Senhor. - disse uma voz ao meu lado, interrompendo meus pensamentos. Virei-me para ver o conselheiro.
— Relatórios das fronteiras do Sul, meu senhor. Nosso exército esta se saindo muito bem lá Senhor. - disse ele, estendendo-me uma série de pergaminhos enrolados.
Ás palavras escritas eram relatos de vilarejos incendiados, campos devastados, uma vitória sobre as terras de Taykachov.
— Em breve, Aldraskar se curvará diante da grandeza dos De Noir. - concordei sentindo uma satisfação em meu âmago. Sabia que aqueles que ousavam desafiar minha vontade logo aprenderiam o preço da insubordinação.

  Enquanto a noite avançava, eu me afastei dos meus afazeres, mergulhando de volta na escuridão de meus aposentos, as minhas sombras que dançavam ao meu redor se sentindo livres, sempre achei fascinante como o pai controla seus poderes, mas sinto que em mim transborda, nunca percebi isso em Rosallind, minha irmã sempre pareceu não ter muito o que controlar também.
  Um dia eu me tornaria o governante absoluto da escuridão. Nenhum exército, nenhum guerreiro, nenhum reino poderá resistir ao meu poder. E quando a batalha finalmente chegasse ao seu fim, seria eu quem emergiria da escuridão.

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