Capítulo 12

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Alaric Thalor


Eu estou de pé à sombra de uma árvore, observando o campo de treinamento com atenção, meu irmão, estava no centro trocando golpes com com a jovem de hoje mais cedo, fico me perguntando o que a motivou a querer está aqui, sua estatura não é nem mediana, se fosse arqueira eu até entenderia, mas havia algo nela que chamava a atenção, ela é absurdamente empenhada, consigo ver a determinação em seus olhos, ela é rápida para a maioria dos homens e sua pouca altura ajuda a se livrar da maior parte dos golpes.

Daimian sempre foi um professor severo, mas justo, seus golpes eram precisos quase mecânicos, enquanto ele testava os limites de Selene. Eu podia ver a tensão em seus movimentos, a pressão que ela sentia em corresponder às expectativas do nosso General, gostaria de saber o que levou ele à escolher ela.

— Concentre-se! - ordenou Daimian, sua voz firme ecoando pelo campo, eu conhecia aquele tom ele exigia o máximo de seus soldados, nunca aceitando nada menos que a perfeição, e ele irá lapidar esse garota.
Selene estava claramente nervosa, mas havia um fogo nela, uma vontade de provar seu valor, ela ajustou sua postura, respirando fundo antes de enfrentar meu irmão novamente, aparentemente ela não é do tipo que desiste fácil.
— Ela tem potencial - murmurei para mim mesmo, cruzando os braços enquanto continuava a observar.

O treinamento continuou, ela se movia com uma graça feroz, mas ainda havia inexperiência em seus movimentos. Daimian, como sempre era implacável, cada movimento do meu irmão é uma lição para ela, ele a desarmou e eu vi a frustração em seu rosto, Selene ela não desistiu, pegou a espada e voltou a se posicionar, pronta para continuar, meu irmão com certeza gosta desse menina, ele poderia ter feito isso há uns quatro movimentos atrás, ele nunca pegou leve assim comigo, será que ela tem noção que Daimian está sendo o mais pacífico possível?

— Vou fingir que isso não aconteceu, Selene. Fique com a espada e vá se limpar. - disse ele, sua voz mais suave agora, mas ainda autoritária, era palpável a decepção de dela, porém eu consegui ver um leve sorriso em meu irmão, realmente tem algo nela que o faz ser menos General Thalor e ser mais Daimian. Selene assentiu claramente exausta, porém determinada a melhorar, eu sabia que ela levaria aquelas palavras a sério e se esforçaria ainda mais.
Havia algo nela que me lembrava de mim mesmo quando eu estava começando, a mesma fome de provar seu valor, de mostrar que podia ser mais do que esperavam.

Ela começou a se afastar, mas então ela me notou, nossos olhos se encontraram por um momento e eu lhe dei um leve aceno, ela hesitou, talvez surpresa em me ver ali mas logo retribuiu o aceno antes de continuar seu caminho. Eu fiquei ali por mais um tempo, refletindo sobre o que tinha acabado de ver, Selene era uma guerreira em formação e eu estou ansioso para ver até onde ela irá. Talvez, com o tempo ela pudesse ser uma das melhores entre nós, eu sei que Daimian pensa da mesma maneira, mesmo que não admitisse abertamente.

Minha infância foi marcada por treinamentos constantes, desde cedo eu sabia que a Casa Thalor não era como as outras, crescer sob a tutela do meu irmão, significava carregar o peso de expectativas que poucos poderiam compreender, então sei extremamente com ela está sentindo agora que não só foi desarmada, mas falhou diante do seu General. Lembro-me das primeiras lições que recebi de Daimian, eu tinha apenas seis anos, mas ele já me tratava como um soldado, suas ordens não deixavam espaço para uma infância comum que outros meninos conheciam.

Uma das lembranças mais marcantes foi o dia em que ele me levou, para uma das antigas criptas da nossa casa. O ar era pesado e úmido e as paredes de pedra fria ecoavam os nossos passos. Ele segurava uma tocha, a luz oscilando e lançando sombras dançantes ao nosso redor.
- Aqui estão os nossos ancestrais, Alaric. - disse ele, a voz profunda e reverente. - Eles nos guiam e protegem. Nunca se esqueça de onde veio. - Daimian, com seus treze anos na época, já demonstrava uma liderança natural. Ele se ajoelhou diante das criptas e fez uma reverência, segui o exemplo do meu irmão, imitando seus movimentos com a seriedade que a ocasião exigia.

Um dos momentos que consolidou nosso vínculo foi durante uma missão de reconhecimento. Eu tinha doze anos e era a primeira vez que me permitiram sair em algum tipo de missão. Estávamos em uma floresta densa, o crepúsculo lançando sombras profundas entre as árvores, nossos sentidos estavam em alerta máximo, cada ruído era potencialmente uma ameaça.
De repente, fomos atacados por bandidos que nos emboscaram, eu estava apavorado, mas Daimian manteve a calma, ele lutou com a ferocidade defendendo-me enquanto eu tentava me recompor. Em meio ao caos, uma figura emergiu das sombras movendo-se com uma graça mortal. Era Rosallind. Foi a primeira vez que estive diante de um De Noir.

Ela lutou ao lado de Daimian e juntos eles mataram um grupo de vinte saqueadores, foi naquele momento que percebi a conexão entre eles, uma compreensão mútua que ia além das palavras. Naquela noite ao redor de uma pequena fogueira, Rosallind se juntou a nós, ela e Daimian trocaram olhares significativos, e eu mesmo jovem entendi que havia algo mais profundo entre eles, como um encontro de almas.

Daimian nunca revelou nada para mim, e eu sei que nunca o fará, Rosallind é filha de Lucien De Noir, meu irmão nunca admitiria que se deita com o inimigo. Aquela não foi a única fez que ela o defendeu e creio que não será a última. Acho que se alguns dos homens sob o comando do meu irmão soubesse disso, Daimian não teria a força que tem.


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