Vladimir De Noir
O ar dentro dos aposentos principais do castelo é sufocante e frio, as paredes revestidas por tapeçaria e lustres pendurados no teto, cujas velas derretem lentamente, lançando uma luz suave e tremula, o cheiro de pergaminho velho e incenso paira no ar, enquanto o vento noturno zune na janelas arqueadas, como uma lembrança distante da tempestade que se forma lá fora. As brasas crepitam no braseiro deixando o clima não tão congelante.
Na grande mesa de carvalho ao centro, espalham-se mapas, anotações e taças vazias de vinho, estou aqui há horas, mas minha mente não pertence a esse lugar. Ela está lá fora, sinto sua presença como uma corrente silenciosa que flui pela minha consciência. Então a dor chega, fraca no inicio, como uma faísca, mas se intensifica até se tornar um aperto gélido em meu peito. Ouço um grito quebradiço, abafado, quase distante. Ela esta com medo.
Fecho os olhos e deixo que as sombras me mostrem o que elas enxergam. Vejo Selene cercada por dois jovens que tentam convolá-la, a sensação de pavor dela atravessa o meu ser, e por uma fração de segundos sou incapaz de distinguir se a dor é dela ou minha. As sombras que se arrastam por mim, tremem, respondendo à angustia dela.
— Esta tudo bem, irmão? - a voz de Rosallind rompe o silêncio como estalo de um chicote.Abro os olhos e a encaro à margem da sala, reclinada preguiçosamente contra a estante mais próxima, minha Irmã é o retrato perfeito do perigo sereno, seus longos cabelos negros descem pelas costas, um contraste formidável com a pele clara, e seus olhos álgidos me estudando com curiosidade, seus lábios se curvam em um sorriso enigmático, o mato de veludo bordo que ela veste realça sua beleza afiada, e o ouro discreto em sues punhos e gola reluzem na penumbra, tão graciosa quanto uma lâmina prestes a cortar.
— Por que não estaria? - falo afastando o olhar e cruzando os braços na tentativa de reprimir os tremores nos dedos. Ela avança na minha direção.— Talvez porque suas sombras então inquietas, elas se movem como se não soubessem a quem obedecer.
— Não diga tolices, Rose. - minha voz sai fria e áspera. — Perdemos no flanco oeste, e Marsolis colocou uma tropa marítima na baia. Tudo graças à sua ousadia sem limites. - ela sorri, indiferente ao meu tom de reprovação.
— Eles são sabem que eu roubei o Orbe. - minha paciência se desgasta e meu olhar encontra o dela, a encaro sem disfarçar meu desgosto.
— Não irei defendê-la desta vez. - meu tom é baixo. — Até porque o artefato nem está mais com você. Então do que valeu o risco? - ela suspira, como se o peso de suas ações fosse algo irrelevante.
— Eu estava entediada. - reviro os olhos e passo uma mão pelo rosto, tentando manter a compostura.
— E desde de quando seu passatempo para lidar com tédio não envolve sair por ai colocando fogo em algo? - o riso dela preenche o espaço como uma melodia suave.O vento lá fora ganha força, e o uivo distante ecoa pelos corredores do castelo, sinto o medo de Selene novamente, como uma onda que me arrasta. As sombras ao meu redor ondulam em resposta, inquietas como lobos encurralados, algo dentro de mim se rompe com o barulho de novo grito de angustia que me sufoca e queima meu peito. Um clarão ao longe ilumina o céu, depois das montanhas de Sananza, logo em se apaga e a dor em meu peito também.
Olho para Rose que me encara como se testemunhasse algo fascinante.
— Sua camponesa fez aquilo no céu? Ela te afeta tanto assim? - ela sorri com diversão nos olhos, eu não respondo, em silêncio ordeno que as minhas sombras se espalhem, deixando o castelo e atravessando a noite como serpentes famintas. Elas sabem exatamente onde ela está, sinto uma necessidade de observá-la mais de perto. Rosallind observa silenciosa, parecendo satisfeita com o que observa.
— Não deixe que nosso pai saiba dela, Vlad, senão vai perder o seu brinquedinho antes que possa brincar de fato. Eu estarei ao encontro das minhas damas de companhia. - Rosallind sai me deixando sozinho, olho para a janela e a tempestade continua a cair sem trégua, e em algum lugar de Aldraskar.
Selene se encontra assustada e com medo, vejo Selene molhada da chuva, junto a uma pequena lareira que luta contra o vento, seu rosto esta pálido, marcado pela exaustão, Alguém esta com ela, um home alto e loiro que segura uma espada como um guerreiro bravo, seu manto o identifica como nobre da casa Thalor, mas não é o general de Rosallind, é mais novo, Selene por um instante, parece sentir minha parecença através das sombras, seus olhos varrem a escuridão, como se esperasse encontra algo, mas não há da visível, apenas uma leve mudança no ar, um prenúncio da minha vigília silenciosa.
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The Game of Shadows
FantasiaNo reino de Aldraskar, a jovem guerreira Selene vive em um mundo assolado pela guerra e pela escuridão. Criada como órfã após a morte de seus pais em uma invasão das forças da Família De Noir. Sua coragem e determinação são postas à prova, mas ela s...