Capítulo 13

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Vladimir De Noir

  Eu estou sozinho, cercado pelos antigos livros e pergaminhos da biblioteca de Elwing. No silêncio da noite, me dedicando a manter a chama da lembrança de minha mãe viva, hoje seria aniversário dela, e fazer isso me faz bem. Estou lendo passagens de seus diários, minha mãe era um mulher magnífica mas era infeliz.
  Enquanto folheava um velho grimório, um envelope amarelado caiu de dentro das páginas, pego o envelope velho que estava lacrado com o brasão da Casa De Noir. Tiro o selo com cuidado e retirei um conjunto de cartas antigas. Ao ler a primeira carta, minha respiração falha, era uma correspondência entre minha mãe, Elwing e alguém de Arvendor.

"Querida Elwing,

  Espero que esta carta te encontre bem. A saudade é grande, mas sei que fizeste a escolha certa ao unir-se à Casa De Noir. No entanto, a verdade sobre sua origem não pode ser ocultada para sempre. Nossa terra espera pelo dia em que seu verdadeiro herdeiro venha reivindicar seu lugar entre nós.
  Os ventos do norte trazem consigo lembranças de nossas terras, e o poder que corre em suas veias não deve ser esquecido. O amuleto que te enviei deve permanecer seguro. Cuidem-se, minha irmã. Os espíritos dos nossos antepassados estão sempre com você."

  Fiquei paralisado enquanto processava a informação. Minha mãe, não era apenas uma figura imponente da Casa De Noir ou de Armenfer, mas deveria ser alguém importante em sua terra natal, por qual motivo ela aceitou se unir a Lucian De Noir, meu pai claramente nunca amou ela, ou talvez nunca tenha demonstrado isso.
  Continuei a ler as cartas, que revelavam mais detalhes sobre a vida de minha mãe antes de se unir a Lucian, cartas de carinho e de felicitações, uma delas data na época do meu nascimento. Outra carta chamou minha atenção de forma particular, tinha desenho de um dragão no começo do pergaminho.

    "Querida Elwing,

  A situação em Arvendor está ficando cada vez mais complicada. Perinny está sofrendo muito e há rumores de que querem o bebê dela morto. Precisamos da sua ajuda para proteger a criança. Você conhece o perigo que corre. A linhagem de Perinny é tão importante quanto a nossa. Por favor, mantenha-se em segurança e fique de olho na criança.

Com amor e preocupação,

Sua irmã."

 Saio com pressa da biblioteca, eu sei que  preciso confrontar Lucian sobre essas descobertas, ele estava em pé diante de uma grande lareira do salão principal observando um grande mapa com um olhar austero. Aproximei-me, segurando as cartas com firmeza.
— precisamos conversar. - eu falo, com a minha voz carregada de emoção contida. Às  vezes tenho vontade de arrancar a cabeça dele. Lucian virou-se lentamente, seus olhos sombrios encontrando os meus.
— O que houve, Vladimir? se por um acaso está aqui para me impedir de posicionar meus homens no flanco de Aldraskar, está perdendo seu tempo.
— Não é sobre isso que vim até aqui. Encontrei estas cartas na biblioteca, são de Elwing, falando sobre sua família de Arvendor. Por que nunca me contou sobre isso? Acabei de descobrir que tenho uma tia. - Lucian estreitou os olhos, seu semblante ficando ainda mais amargurado, ele larga o mapa na mesa e volta sua total atenção para mim.

— Isso não é da sua conta, Vladimir. Essas cartas não são para os seus olhos.
— Como pode dizer isso? Isso é sobre minha mãe, nossa família! Eu tenho o direito de saber. - Lucian ri, mas não havia humor em seus olhos.
—Direito? - ele agora se aproxima de mim e eu me mantenho no lugar, sinto minhas sombras me rodarem, elas estão agitadas, porque eu estou começando a ficar com raiva. — Você não tem direitos além daqueles que eu concedo. Elwing fez suas escolhas e deixou para trás aquele passado por alguma razão. Não se iluda com sonhos que não te pertencem. - sinto a raiva fervendo dentro mim, e junto com isso meus pensamentos me fazem imaginar como seria arrancar o coração do meu próprio pai, será que ele tem um para ser arrancado?
— Não me pertencem?... é da minha mãe que estou falando, do mesmo jeito que eu tenho seu sangue eu tenho o sangue dela também. Eu acabo de descobrir que tenho uma uma tia em Arvendor, e é provável que tenhamos mais parentes, e você diz que não me pertencem? Eles sabem que ela está morta?
— Vá em frente. - Lucian diz friamente.
—Mas não espere apoio ou simpatia de mim. Sua lealdade é para com a Casa De Noir, e isso é tudo que importa. - me junto às minhas sombras e saio da presença do meu pai.

  Eu me afastei de Lucian, o sangue fervendo de raiva, minha sombras com uma extensão de mim dançavam de maneira violentas ao meu redor enquanto eu me dirigia de volta à biblioteca.
No caminho, encontrei Rosallind, ela estava nos corredores, uma expressão de preocupação em seu rosto, ela não usava seus vestidos habituais e sim uma roupa de coura, eu sabia que ela tinha saindo, só não sabia para onde ela poderia ir. 
— Vladimir, o que aconteceu? - ela perguntou, com a sua voz doce.
— Encontrei cartas de nossa mãe. - respondi, entregando-lhe os pergaminhos que ainda segurava. — Ela era de Arvendor, temos família além do mar do Sangue. Lucian aparentemente sempre soube. - Rosallind pegou as cartas da minha mão, mas a sua expressão não mudou, ela suspirou profundamente antes de falar. 
— Eu já tinha conhecimento sobre essas cartas, Vlad. Encontrei há alguns anos e comecei a investigar, infelizmente não encontrei nada aqui em Armenfer ou em Arvendor. Talvez essas pessoas já estejam mortas, faz tanto tempo. - fico em silencio encarando minha irmã, Rosallind sempre soube guardar segredos, porém, nunca pensei que ela poderia esconder coisas de mim, ela sempre respeitou a minha autoridade.
— Eu sabia que isso poderia te trazer algum tipo de dor, Vlad você a amava tanto, não queria te dar falsas esperanças. - Rosallind me entrega os pergaminhos. —  Eu tenho algo para te mostrar, nossa mãe adorava escrever, ela tem tantos documentos guardados, que me admira você ter descoberto só agora.

  Rosallind se virou e começou a caminhar pelos corredores do castelo, hesitei por um momento antes de segui-la, minhas sombras ainda dançavam ao meu redor, refletindo a turbulência dentro de mim. Rosallind em em um passagem secreta e eu a sigo, a porta dava pra corredores internos, subimos um velha escada de madeira, até chegarmos em uma pequena sala. Lembro-me vagamente de já ter subido aqui quando mais novo.
— Esta nossa mãe vinha muito aqui. Achei que Lucian tivesse colocado fogo em tudo. - Rosallind acende um pequena vela usando seus poderes, ela se ajoelhou diante de um baú de madeira ornamentado com símbolos antigos e runas que reconheci dos diários de Elwing, com um suspiro, Rosallind destrancou o baú e começou a retirar documentos, pergaminhos e pequenos objetos de dentro.

  Peguei um dos diários e comecei a folheá-lo, absorvendo as palavras de Elwing, ela escrevia sobre Arvendor, sobre a família que deixara para trás, no final do diários tinha um envelope com aparência de novo, como se ninguém nunca o tivesse enviado ou simplesmente aberto. Ao abri-lo, percebi que a escrita era da. minha mãe, mas o tom era desesperado, cheio de dor e tristeza.

"Querida  Aelina,

  Não sei por quanto tempo mais conseguirei suportar isso eu o amava antes dele enlouquecer. Lucian se tornou um homem cruel e implacável. Cada dia ao seu lado é uma luta para manter minha sanidade. Ele suga minha energia, meu poder. Sinto-me cada vez mais fraca, como se a escuridão estivesse me consumindo.

  Lembro-me de nossas terras em Arvendor, dos campos e dos ventos frios, da neve constante, tenho saudades das história que nosso pai contava sobre dragões, nossos ovos nunca eclodiram, talvez tenha sido falta de amor.
                   Sinto saudades casa.
Aqui, estou presa, uma marionete nas mãos de um tirano, mas não posso deixar isso continuar, preciso encontrar uma maneira de proteger meus bebês, se Lucian souber que eles tem o meu poder, ele irá absorver tudo deles até deixá-los definharem em cima de uma cama.

   Se algo acontecer comigo, prometo que encontrarei uma maneira de guiá-los, mesmo na morte. As sombras podem ser cruéis, mas ainda há luz dentro de mim.

— Há algo mais que precisamos entender. - diz Rosallind, virando a última página da carta desesperada de Elwing. — Minha mãe estava claramente aterrorizada. O que Lucian fez para chegar a tal ponto? - Rosallind suspira e pega um pequeno frasco de vidro com uma etiqueta já desbotada, ela o coloca sobre a mesa e o examina atentamente.
— Não sabemos o que contém, talvez veneno.
—  Talvez seja. Lucian sempre foi um homem frio, mas isso... - minha voz falhou, tomada pela raiva. — Ele não merecia ela. Ela menciona ovo de dragão?
— Sempre quis ver um de perto. - concordo com ela enquanto folheávamos os documentos restantes, encontramos mais cartas, diários e registros que detalhavam os abusos de Lucian e como ele manipulava as sombras para drenar o poder de Elwing. Ela mencionava rituais antigos, símbolos ocultos e encantamentos que Lucian usava para manter seu domínio. Ele a sufocou e ela estava desesperada para proteger a nós,

— Vamos ver o que é isso. -  eu falo retirando a rolha do frasco com cuidado. - o líquido escuro dentro do frasco parece reagir ou pulsar.
— Isso tem um cheiro péssimo. - eu digo tossindo um pouco por causa do forte cheiro que o liquido tem, ele tambem é um pouco espesso.  — Ninguém beberia isso aqui, nem se misturassem com néctar de fada.   
— Vlad... é o cheiro da morte.

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