O assassino seguiu para onde havia deixado seu carro, mantendo uma postura calma e confiante. À medida que caminhava pela rua deserta, o som de seus passos era abafado pela quietude da noite. Ao passar na frente do bar, ele deu uma espiada para dentro do estabelecimento e percebeu que os policiais não estavam mais ali. Um leve sorriso curvou seus lábios; ele não sentiu medo de que eles pudessem tê-lo seguido, pois confiava em suas atitudes e sabia que havia feito tudo do jeito certo.
Subiu no veículo com a mesma calma meticulosa que o caracterizava. Sentou-se ao volante, as mãos firmes no volante, e olhou para o retrovisor, certificando-se de que ninguém estava por perto. Ligou o carro e dirigiu até o beco onde havia deixado o corpo de Ana. O motor ronronava suavemente, quase como uma melodia macabra que o acompanhava. Cada curva, cada rua deserta que ele atravessava, aumentava sua sensação de controle sobre a situação.
Chegando ao beco, ele estacionou o carro e saiu, a frieza calculada de seus movimentos contrastando com a morbidez da cena ao redor. Ele se dirigiu ao corpo de Ana, que jazia imóvel na escuridão. Com uma precisão quase ritualística, colocou o corpo da garota dentro do porta-malas. Fez isso com uma eficiência que revelava sua experiência; cada movimento era deliberado, cada gesto meticulosamente executado.
Um sorriso soturno apareceu em seus lábios enquanto fechava o porta-malas, o som metálico da tampa ecoando pelo beco. Ele sentiu uma onda de satisfação perversa; mais uma vez, ele havia conseguido realizar seu plano sem erros. A adrenalina ainda corria por suas veias, mas era controlada, transformada em uma sensação de poder. Ele sabia que o próximo passo era crucial: se livrar do corpo sem deixar rastros.
Retornou ao volante e ligou o carro, olhando para a rua deserta à sua frente. A cidade adormecida oferecia inúmeras oportunidades para ele desaparecer nas sombras, levando consigo mais um segredo sombrio. Enquanto dirigia, seu sorriso se alargou, refletindo a frieza e a confiança que sempre o acompanharam. Ele estava no controle, e cada movimento, cada decisão, era parte de um jogo que ele sabia jogar melhor do que ninguém.
Quando chegou em sua moradia, a sua amada enfermeira o esperava, com um sorriso tranquilizador nos lábios. Era um sorriso que disfarçava a intensidade do que estavam prestes a fazer. Juntos, eles começaram a preparar o corpo, cada um assumindo uma tarefa específica. Ela, com sua experiência em cuidados médicos, ficou responsável por despir e lavar o corpo. Com mãos habilidosas, retirou cada peça de roupa, dobrando-as meticulosamente antes de colocar de lado. Em seguida, lavou o corpo com esmero, removendo qualquer vestígio de sujeira ou sangue, deixando a pele pálida reluzente.
Enquanto ela executava sua tarefa com uma precisão quase cirúrgica, ele se ocupava com a organização das ferramentas. Abriu uma gaveta ao lado da mesa e retirou uma série de facas, todas afiadas e brilhando sob a luz suave do ambiente. Cada faca tinha um propósito específico, e ele as dispunha cuidadosamente, como um artista preparando suas tintas. A mesa para a "desossa" estava limpa e esterilizada, pronta para o trabalho meticuloso que seria realizado.
Com o corpo limpo e as ferramentas prontas, eles trocaram um olhar cúmplice. Ela pegou um avental de couro e o vestiu, ajustando as alças firmemente. Ele fez o mesmo, e juntos se aproximaram da mesa.
Ele começou a cortar meticulosamente, separando a carne dos ossos com uma destreza inquietante. O som das facas cortando a carne preenchia o ar, enquanto ela organizava os pedaços cuidadosamente, cada um com um destino específico. A carne mais tenra seria usada para algo especial, pensaram eles.
Com a tarefa quase concluída, ele pegou uma tigela grande e começou a misturar os ingredientes, criando uma massa espessa e bem temperada. Ela, por sua vez, já tinha preparado a massa da torta, que estava pronta para receber o recheio. Com cuidado, eles começaram a preencher a massa com a carne preparada, trabalhando em perfeita sincronia, como se estivessem preparando um banquete.
O forno foi aquecido, e a torta foi colocada para assar. O aroma que começou a se espalhar pela casa era tentador, quase reconfortante. Eles se sentaram, satisfeitos com o trabalho feito.
╳╳╳╳╳╳╳╳╳╳╳╳╳╳╳╳╳╳╳
Os dias passavam, e a pilha de papelada diante de Camargo com os detalhes das vítimas do serial killer só aumentava. As investigações pareciam patinar em areia movediça, com cada pista levando a um beco e cada depoimento mais confuso do que esclarecedor. A tensão no departamento de polícia era palpável, um peso constante sobre os ombros dos investigadores.
— Pelo menos temos as melhores tortas de carne da cidade ao nosso lado — disse Silva, com a boca cheia, tentando aliviar a atmosfera carregada do escritório. O cheiro das tortas recém-assadaspreenchia o ar, mas não conseguia mascarar a aura de frustração que pairava sobre a sala.
Camargo apenas lhe deu uma encarada séria, seus olhos refletindo o cansaço e a determinação de um homem que se recusa a deixar o caso esfriar. Ele sabia que cada minuto perdido poderia significar uma nova vítima. Ele folheava os relatórios mais uma vez, procurando por qualquer detalhe que pudesse ter sido negligenciado.
— Precisamos encontrar uma conexão sólida — disse ele, mais para si do que para Silva.
O som dos dedos de Camargo tamborilando na mesa ecoava na sala silenciosa. A pequena sala de interrogatório, iluminada apenas pela luz fria de um fluorescente balançando levemente no teto, parecia ainda mais opressiva diante do nervosismo do detetive. Cada toque ritmado, uma batida seca e insistente, soava como o tique-taque de um relógio, marcando o tempo que se esgotava rapidamente para solucionar o caso.
Camargo, um homem de meia-idade com um semblante duro e rugas que denunciavam as noites mal dormidas, mantinha os olhos fixos nos documentos espalhados à sua frente. A parede de cortiça atrás dele estava coberta de fotos, recortes de jornais e notas adesivas, todos interligados por linhas vermelhas que formavam uma teia complexa, semelhante à da mente intrincada do assassino que tentavam capturar.
O departamento de polícia estava sob pressão constante. A mídia, faminta por novidades, publicava manchetes sensacionalistas que aumentavam o pânico entre os cidadãos. As ligações não paravam de chegar: cidadãos preocupados, parentes de vítimas e até curiosos, todos exigindo respostas e segurança. A tensão era palpável, e cada dia sem respostas parecia corroer a confiança que a comunidade tinha na polícia.
Nas ruas da cidade, o medo era visível. Pessoas evitavam sair de casa após o anoitecer, e os poucos que se aventuravam a sair o faziam em grupos, olhando constantemente por cima dos ombros. O comércio noturno havia caído drasticamente, e até os bares, antes cheios de vida, agora estavam praticamente vazios. Os boatos se espalhavam como fogo, criando uma atmosfera de paranoia e desconfiança.
Os colegas de Camargo, detetives e agentes forenses, também sentiam o peso do caso. Eles trabalhavam incansavelmente, revendo evidências, entrevistando testemunhas e analisando qualquer pista, por menor que fosse. Mas o assassino era astuto, sempre um passo à frente, deixando apenas rastros enigmáticos e peças de um quebra-cabeça que não se encaixava.
De repente, a porta da sala se abriu com um rangido agudo. O tenente Morais entrou, com uma expressão de urgência no rosto. Ele era um homem alto, com cabelos grisalhos cuidadosamente penteados para trás e olhos que refletiam a exaustão de semanas de investigação contínua.
— Camargo, temos uma pista nova. — Disse ele.
Camargo se sobressaltou e em um movimento rápido pegou a capa e o acompanhou, até o local do chamado.
![](https://img.wattpad.com/cover/372227628-288-k918075.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sombras de Serra Verde
Mystery / ThrillerBaseado em fatos reais, "Sombras de Serra Verde" mergulha nas profundezas obscuras dos crimes cometidos pelo casal Dante e Isabel. No coração do interior Paranaense, em uma cidade aparentemente tranquila, uma série de desaparecimentos misteriosos re...