Capítulo 14

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Com um último olhar para a delegacia, eles partiram, prontos para planejar seus próximos passos. Sabiam que o sucesso daquela primeira entrega era apenas o começo. Agora, estavam determinados a expandir seu negócio, alimentados pela adrenalina e pelo desejo de enganar a todos.

O futuro parecia brilhante e repleto de oportunidades para o casal, cuja união perversa os tornava imbatíveis. E assim, enquanto a cidade continuava sua rotina diária, ninguém imaginava o que realmente se escondia nas deliciosas tortas que agora circulavam por suas mãos.

Camargo se deliciava com o tenro pedaço de torta de carne que tinha nas mãos enquanto analisava laudos técnicos de antigos casos não solucionados que pudessem se encaixar com os casos que tinham em mãos. O sabor suculento da carne, combinado com a textura perfeita da massa, fazia com que ele esquecesse por um momento o estresse do trabalho.

Ele pegou um dos laudos e começou a folheá-lo, sua mente dividida entre a complexidade dos detalhes técnicos e a explosão de sabores em sua boca. A sala de descanso da delegacia estava mais animada do que de costume, com seus colegas também desfrutando das tortas oferecidas pelo novo fornecedor.

Enquanto mastigava lentamente, Camargo notou algo peculiar em um dos casos antigos. Um padrão que ele havia ignorado antes agora parecia se encaixar com o modus operandi de um dos suspeitos que estavam investigando atualmente. Ele franziu a testa, engolindo o último pedaço da torta.

— Estranho... — murmurou para si, colocando o laudo de lado e pegando outro para comparar.

A cada página que virava, as conexões ficavam mais claras. Camargo mal percebeu o quanto estava imerso no trabalho, sua mente trabalhando a mil por hora enquanto tentava desvendar o quebra-cabeça que estava diante dele.

De repente, a porta da sala se abriu e Silva, seu parceiro, entrou com um sorriso satisfeito, segurando outra fatia de torta.

— Essa torta é mesmo incrível, né? — comentou Silva, sentando-se ao lado de Camargo. — Precisamos descobrir quem é esse fornecedor e fazer um contrato fixo com eles.

Camargo assentiu distraidamente, ainda focado nos laudos.

— Sim, é boa mesmo — respondeu, quase automaticamente. — Mas olha isso aqui, Silva. Acho que encontrei algo que pode nos ajudar com o caso dos desaparecidos.

Silva, percebendo o tom sério do parceiro, deixou de lado a torta e se inclinou para olhar os documentos. Camargo explicou rapidamente suas descobertas, apontando para as similaridades entre os casos.

— Isso é interessante — disse Silva, sua expressão ficando mais concentrada. — Se estivermos certos, podemos estar mais perto de resolver esse caso do que pensávamos.

Enquanto os dois policiais discutiam suas teorias, a enfermeira e seu parceiro, agora em seu carro a alguns quarteirões de distância, observavam a delegacia através de binóculos. Eles sorriam, satisfeitos com o sucesso de sua entrega.

— Veja só, querida — disse o homem, abaixando os binóculos. — Eles estão se deliciando com nossas tortas e nem desconfiam de nada.

— Perfeito — respondeu à enfermeira, seu olhar brilhando de excitação. — Vamos continuar assim. Quem sabe até onde podemos chegar?

De volta à delegacia, Camargo e Silva estavam mais determinados do que nunca a resolver o caso. Eles não tinham ideia de que a chave para seus mistérios estava, literalmente, nas suas mãos, em forma de uma deliciosa torta de carne.

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O homem deixou sua amada enfermeira no hospital onde ela trabalhava. Ele sabia que sua posição como marido da melhor enfermeira do hospital facilitaria a aceitação das tortas pela equipe.

Enquanto distribuía as tortas, o homem observava discretamente a reação das pessoas. O sorriso satisfeito em seus lábios não passava despercebido por sua amada, que aguardava ansiosamente em casa, imaginando os eventos se desenrolarem conforme o planejado.

No hospital, os acompanhantes de pacientes e os funcionários da equipe médica apreciavam as tortas sem qualquer noção do segredo que elas escondiam. O casal sabia que cada mordida consumida era um passo a mais para o sucesso de seu plano macabro.

Enquanto isso, os policiais na delegacia continuavam a desfrutar das tortas, alheios ao fato de estarem literalmente comendo evidências. Camargo e Silva, apesar de estarem cada vez mais próximos de desvendar o mistério, não tinham ideia de que as respostas estavam sendo saboreadas em suas próprias bocas.

Nos bastidores, o casal observava tudo com um misto de excitação e nervosismo. Eles sabiam estarem brincando com fogo, mas a adrenalina de ver seu plano se desenrolar era irresistível. Cada pessoa que aceitava uma fatia das tortas era um passo mais perto da realização de seus objetivos sombrios.

Enquanto o sol se punha lentamente sobre a cidade, o casal se reuniu em casa para discutir os próximos passos. Eles sabiam precisarem ser ainda mais cuidadosos agora que estavam sob os olhares atentos dos policiais. Mas o sucesso inicial os deixava confiantes de que poderiam continuar manipulando os eventos a seu favor.

Assim, enquanto o mundo ao redor continuava em seu ritmo diário, o casal criminoso e os policiais continuavam suas rotinas, cada um alheio ao jogo perigoso que estava sendo jogado nas sombras. O destino de todos estava entrelaçado agora, e apenas o tempo revelaria quem emergiria como vencedor nessa batalha de inteligências e enganos.

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Os dias passaram e o ritmo dos sequestros continuava sendo de dois casos por semana. O padrão metódico e cruel persistia, mantendo a cidade em um estado constante de medo e tensão. As autoridades, lideradas pelo experiente detetive Camargo, estavam sob pressão para resolver o caso.

Ao longo das investigações, uma cronologia dos sequestros foi estabelecida, revelando um padrão que começava em 1999 e se estendia até 2017. Esse histórico abrangia quase duas décadas de horror, durante as quais dezenas de pessoas haviam desaparecido, e muitos corpos ou restos mortais foram encontrados, alguns em estados avançados de decomposição, outros mutilados de maneiras horríveis.

Agora, em 2024, quase um mês desde o início das novas investigações, a situação havia mudado inquietantemente. Os corpos ou restos mortais dos sequestrados não estavam mais sendo encontrados. A ausência de evidências físicas deixava Camargo cada vez mais irritado. Ele era um detetive experiente, com uma reputação de resolver os casos mais difíceis, mas essa falta de pistas concretas o frustrava profundamente.

Camargo passava noites em claro, revendo os detalhes de cada caso, procurando por qualquer conexão ou padrão que pudesse ter sido negligenciado. Ele reunia regularmente com sua equipe, analisando mapas, cruzando dados e entrevistando familiares e amigos das vítimas na esperança de descobrir algo que pudesse conduzi-los ao sequestrador.

— Precisamos encontrar algo, qualquer coisa que nos leve a esse desgraçado — disse Camargo, sua voz cheia de exasperação. Ele estava cercado por arquivos e fotografias das vítimas em uma sala de conferências no departamento de polícia.

— Chefe, encontramos uma nova ligação entre algumas das vítimas — disse Renata, uma jovem policial com olhos aguçados para detalhes. — Parece que todas frequentavam o mesmo café nas semanas antes de desaparecerem.

Camargo franziu a testa.

— Um café? Isso é muito vago, mas é um ponto de partida. Vamos precisar de mais do que isso.

Renata assentiu.

— Já mandei uma equipe para investigar o café. Estão entrevistando frequentadores e comerciantes da área. Pode ser que alguém tenha visto algo.

A investigação era exaustiva. Cada nova pista parecia levar a um beco. Os sequestros continuavam com uma precisão quase militar, desafiando todas as tentativas da polícia de antecipar ou impedir os crimes. Camargo sabia que o sequestrador era inteligente e meticuloso, alguém que planejava cada detalhe e que estava sempre um passo à frente das autoridades.

— Ele está brincando conosco — disse Renata, enquanto olhava para um quadro cheio de fotos e anotações. — É como se ele soubesse exatamente o que vamos fazer a seguir.

Camargo bateu a mão na mesa.

Sombras de Serra VerdeOnde histórias criam vida. Descubra agora