Enquanto dirigiam para o local designado, uma tensão silenciosa preenchia o interior do veículo, quebrada apenas pelo som monótono do motor e o sutil ruído das ruas sendo percorridas. Os olhares dos perpetradores se encontraram brevemente, transmitindo uma comunicação silenciosa carregada de significado. Era como se compartilhassem um entendimento mútuo sobre a natureza delicada de sua missão e a importância de permanecerem vigilantes a cada passo do caminho.
Chegando ao destino, o motorista estacionou o carro com precisão milimétrica, demonstrando um domínio impressionante sobre o veículo. Enquanto desligava o motor, ele lançou um olhar significativo em direção a sua companhia, transmitindo uma mensagem implícita de prontidão e determinação.
— Estarei de prontidão, qualquer coisa, me avise imediatamente. — Disse o motorista, sua voz mantendo-se firme e controlada.
O outro indivíduo assentiu em silêncio, sua expressão mascarando qualquer emoção que pudesse traí-lo. Ele saiu do carro com uma agilidade surpreendente, movendo-se com uma confiança inabalável em direção ao seu destino. Cada passo era calculado, cada movimento cuidadosamente planejado, como se estivesse seguindo um roteiro invisível gravado em sua mente.
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Camargo estava em sua mesa brincando com o distintivo enquanto olhava atentamente para a foto de uma das cenas do crime. A cena diante dele parecia um quebra-cabeça caótico, com peças espalhadas por todos os cantos.
A peruca pendia do abajur, como se tivesse sido arrancada às pressas, a peruca que posteriormente descobriram ser feita de pele e cabelo humano. O tinsel brilhante serpenteava pelo chão, entrelaçando-se com um par de óculos de leitura. Uma carta amassada repousava sobre a cama desfeita, suas palavras ilegíveis.
Camargo se ajeitou na cadeira e começou a examinar os detalhes. Ele sabia que cada objeto contava uma história. Mas por que alguém teria jogado a peruca ali? E o que dizer dos óculos? Um leitor ávido, talvez, mas por que abandoná-los?
A carta intrigava ainda mais. Ele a desdobrou com cuidado, revelando linhas rabiscadas em tinta azul. "Encontre-me no beco atrás do teatro", dizia a mensagem. Sem assinatura. Sem contexto. Quem era o destinatário? E o que os esperava no beco escuro?
— Você também está curioso, não é? — Disse a voz em seu ouvido
Camargo se sobressaltou e, olhando para trás, viu a sua colega e psicanalista forense Renata Schmidt. Camargo olhou para a foto do quarto e falou:
— E a peruca e o tinsel? — Perguntou ele.
Ela sorriu e falou
— Disfarces. Às vezes, a verdade está escondida na bagunça.
Camargo coçou a barba, os olhos fixos na foto do quarto. Cada detalhe parecia um fragmento de um quebra-cabeça intrincado.
— Disfarces — repetiu ele em voz baixa, refletindo sobre as palavras de Renata. — A peruca feita de pele e cabelo humano... é um detalhe macabro, não acha?
Renata assentiu, aproximando-se para examinar a foto mais de perto.
— Sim, é um detalhe que adiciona um nível de bizarrice ao caso. E tinsel? É algo que se espera ver em uma festa, não em uma cena de crime.
Camargo ponderou por um momento.
— Talvez o tinsel seja mais que uma simples decoração. Pode haver alguma conexão com o teatro. Artistas usam disfarces e decorações elaboradas em suas apresentações.
Renata cruzou os braços, seus olhos brilhando com curiosidade.
— E os óculos? Podemos estar lidando com alguém que valoriza a leitura ou precisa dela para se disfarçar como um intelectual.
Camargo se inclinou na cadeira, a carta amassada ainda em suas mãos.
— A carta é o ponto mais misterioso. "Encontre-me no beco atrás do teatro." O que você acha que isso significa?
Renata suspirou, seus pensamentos mergulhando nas possibilidades.
— Pode ser uma pista deixada propositalmente, talvez para nos distrair ou nos levar a uma armadilha. Precisamos considerar todas as hipóteses.
Camargo se levantou, andando de um lado para o outro.
— Precisamos descobrir quem escreveu a carta e quem era o destinatário. E, mais importante, o que exatamente eles esperavam encontrar no beco.
Renata franziu a testa, tentando juntar as peças.
— Podemos estar lidando com alguém que se movimenta nos círculos teatrais, alguém familiarizado com disfarces e apresentações.
— Isso faz sentido — concordou Camargo.
— Talvez devêssemos investigar as pessoas associadas ao teatro local, ver se encontramos alguém que corresponda a essa descrição.
Renata pegou um bloco de notas, começando a listar possíveis ações.
— Podemos começar entrevistando funcionários do teatro, atores, maquiadores. E verificar se houve alguma performance recente que possa estar ligada a isso.
Camargo assentiu, já sentindo a adrenalina da investigação.
— E quanto aos óculos? Alguma ideia?
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Sombras de Serra Verde
Misterio / SuspensoBaseado em fatos reais, "Sombras de Serra Verde" mergulha nas profundezas obscuras dos crimes cometidos pelo casal Dante e Isabel. No coração do interior Paranaense, em uma cidade aparentemente tranquila, uma série de desaparecimentos misteriosos re...