Capítulo Dezesseis.

26 11 5
                                    

Não sei ao certo por quanto tempo eu apaguei, só me lembro de acordar e sentir aquele cheiro que normalmente os hospitais tem, tem algumas pessoas ao meu redor mas a minha visão está turva, consigo reconhecer algumas pessoas apenas por suas silhuetas e vozes; sei que a minha esquerda está Sharon com seus cabelos levemente armados e a minha frente com as mãos próximas aos meus pés está a minha avó e eu sei disse por conta de seus inconfundíveis cabelos brancos, tem mais algumas pessoas mas ainda não consegui identificá-las.
— Olá, Malie. Eu sou Thomas, seu médico. Consegue me ouvir?. — Me questiona a voz a qual não reconheço. Tento responder mas não sai voz alguma. — Balance a cabeça duas vezes se sim e uma vez para caso não esteja escutando.
Balanço a cabeça duas vezes e ouço minha avó e Sharon comemorando.
— Você consegue olhar em minha direção? — Ele pergunta novamente.
Tento erguer meu olhar mas meus olhos doem como se eu tivesse os retirado do lugar.
— Tudo bem se não conseguir meu amor. — Minha avó comenta.
— Nós estamos aqui e vamos esperar o tempo que for até você conseguir. — Tento sussurrar um obrigado depois das palavras de Sharon mas novamente não consigo dizer nada.
Minutos depois outra pessoa entra no quarto, se aproxima e segura minha mão.
— Senhorita Rolle, eu sou Emily e sou sua fisioterapeuta. — Assinto pois não consigo cumprimentá-la. — Eu estou aqui para ajudar você na sua recuperação. Será que consegue ficar de pé? — Ela pergunta. Assinto.
— Okay. Então vamos tentar. — Ela ergue o encosto da cama e assim que fico sentada ela me ajuda a por as pernas para fora da cama.
— Você pode se apoiar em mim e assim que se sentir confiante pode colocar os pés no chão. — Assinto novamente e segundos depois toco o chão com os meus pés. — Isso, muito bom!. Será que conseguimos fazer uma pequena caminhada, Senhorita Rolle.
Hesito pois sinto algumas dores leves nas coxas e quadris.
— Tudo bem se não quiser, podemos tentar de novo amanhã. — Ela comenta enquanto me ajuda a sentar na cama novamente. — Podemos trabalhar o seu ombro esquerdo enquanto isso. — Ela começa a retirar meu braço da hidrolight 
e o apoia sobre seu próprio ombro.
— É normal que você sinta um pouco de dor no ombro mas com os exercícios certos isso logo vai passar, você ainda vai usar muito esse ombro precisamos recuperá-lo o mais rápido possível. — Emily se certifica.
Ela ficou no quarto por mais ou menos uma hora, fizemos alguns exercícios para fortalecer os braços e o meu ombro que dói insistentemente. Depois uma outra médica veio e colocou um tipo de colírio em meus olhos e recomendações que eu usasse duas vezes ao dia, agora consigo inchergar as pessoas não tão nitidamente mas é bom poder ver quem são e não só alguns borrões coloridos a minha frente.
Antes do almoço recebi a visita do otorrinolaringologista, ele falou um pouco sobre meu desconforto na garganta, trouxe chá de hortelã e algumas pastilhas para garganta também.
Horas mais tarde eu recebi o odontologista, ele olhou meus dentes e disse que é normal sentir dormência por um tempo mas logo passa, ele me receitou cálcio e agora minha bandeja de medicamentos ao lado da cama está cheia.
Nunca fui visitada tantas vezes assim na minha vida e não sei por que mas sinto que tem algo estejam me omitindo, todos me tratam como se eu fosse uma porcelana frágil prestes a quebrar, eu sei que estou machucada, estou sentindo dor em vários lugares mas não entendo o motivo de falarem em entrelinhas como se tivesse algo que não pudesse ser revelado a mim ou como se eu fosse morrer e não quisessem me contar, não acredito que seja esse o meu fim, que eu vá morrer antes mesmo de conseguir falar com as pessoas que estão comigo desde sempre.

                           
                           ***

Três dias se passaram e agora eu consigo falar, consigo enxergar com mais clareza, já vou ao banheiro sozinha e consigui tomar o meu primeiro banho desde que acordei, o que mais me espantou não foram os três dias sem banho mas sim a quantidade de sangue que saiu do meu cabelo e de algumas partes do meu corpo, precisei de ajuda para me limpar totalmente e foi vergonhoso mas a pior parte mesmo foi me olhar no espelho e não me reconhecer no meu reflexo, meu rosto ainda está inchado e parece que passei por um procedimento estético que deu muito errado, minha boca está sem o formato que tinha anteriormente e meu olhar está como o de um zumbi com muitas manchas vermelhas o redor da minha íris, tem sutura no meu ombro e também tem uma na minha nuca que eu consigo sentir quando acaricio a parte de trás da minha cabeça e eu ainda sinto cheiro de sangue quando respiro. Não consegui conter as lágrimas quando me olhei no espelho e vi o estado em que me encontro, é doloroso, triste e decadente, parece que nunca mais vou me reconhecer novamente.
— Fica tranquila meu amor, você vai se recuperar. — Minha avó me tranquiliza e me leva de volta para o quarto.
Ao retornarmos ao quarto somos surpreendidas por Alika e Sharon. Desde que acordei não vi Alika, ela caminha em minha direção e me abraça fortemente como se não nos víssemos a anos, ela chora um pouco mas continuamos abraçadas.
— Desculpa por tudo Malie, me perdoa não ter vindo te visitar antes e me desculpa por ter te deixado sozinha aquela noite.. se eu não tivesse saído... — Ela comenta enquanto enxuga as lágrimas do rosto.
— Alika! — Sharon chama sua atenção e seu tom é repreensível.
— Tudo bem, Ali. — Assinto.
— Eu trouxe presentes! — Ela aponta para a mesa ao canto do quarto onde antes ficava alguns dos muitos medicamentos e agora está com pelúcias, cartões, chocolates, flores e balões com o meu nome. Me aproximo da mesa e leio alguns cartões brevemente, alguns são de pessoas que eu nem conheço, não sei como Alika consegue essas coisas.
— Quem são todas essas pessoas?. — Pergunto confusa.
— São pessoas que se solidarizaram com o seu... acidente. — Ela responde.
— Acidente. — Comento confusa pois não me lembro ao certo o que aconteceu comigo.
Caminho de volta para a cama e me sento acompanhada por Alika, ela conta algumas fofocas e fala sobre moda e roupas o que é bom pois é a primeira vez que o assunto no quarto não é sobre medicamentos e recuperação, Alika contou sobre Tim o quanto ele ajudou minha avó e eu só consigo me perguntar por quanto tempo fiquei desacordada.
Ouço batidas na porta do quarto e em seguida ele é invadido pela minha avó.
— Querida, tem uns policiais aqui e eles precisam muita conversar com você sobre algumas coisas, tudo bem? — Minha avó pergunta e é mais cautelosa que o normal.
Assinto e minutos depois ela retorna acompanhada por federais, eles caminham calmamente em minha direção e perguntam se eu estou disposta a depor, respondo que sim e eles logo me questionam se eu ficaria desconfortável caso minha avó e Alika precisassem deixar o quarto. — Nego com um gesto, eles pedem para que elas deixem o quarto e logo elas saem.
— Eu sou a investigadora Header Murray e esse é o meu parceiro Lincoln Pitterson e estamos aqui para conversar sobre o ocorrido de semanas atrás.
— Semanas? — Pergunto. — Quantas semanas tem ao todo desde o meu acidente?
— Não te contaram a quanto tempo esteve em coma? — Header me questiona e eu nego com um gesto.
— Você sabe o que aconteceu com você, Malie?
— Estou aqui pelo meu acidente, não é? — Pergunto. — Federais não vem por uma simples batida de carro.
— Não mesmo, senhorita Rolle. — Header responde. — E respondendo a sua pergunta; você esteve desacordada por um pouco menos de três semanas.
— O que aconteceu comigo? — Pergunto.
— Certo. — Header parece criar forças para me responder. — Você sofreu violência sexual seguida por  tentativa de homicídio, Malie, tentaram te espancar até a morte.
Sinto todo o meu corpo estremecer o receber a notícia, meus olhos marejam novamente e minha cabeça começa a doer instante.
— Quem fez isso comigo? — Pergunto. — Vocês já o prenderam?
— É por esse motivo que estamos aqui! — Lincoln responde e essa é a primeira vez que ouço ele falar desde que chegaram.
— Malie, de acordo com as nossas investigações, você conhecia o homem que te violentou, não haviam sinais de arrombamento e o apartamento em que você estava era alto de mais para que ele tenha entrado pela janela. — Header responde. — Algum homem que você se lembre que possa ter feito essa crueldade com você? Algum cara que você deu um fora, algum ex namorado?...
Me perco em pensamentos quando penso em William mas tenho certeza de que ele não faria tal covardia comigo, é quando me lembro de Denis, lembro dele me tocando e me jogando contra o chão com força.
— Denis. — Respondo.
— Denis Harris, o cara com quem sua amiga mantinha um relacionamento? — Lincoln pergunta e eu logo confirmo.
— Denis era o nosso principal suspeito, mas ele tem álibi consistente. — Header comenta.
— Colheram material genético dele? — Pergunto.
— Não foi permitido colher amostras dele. — Header responde enquanto anota algo em um bloco de papel.
— O que? Por que não? — Questiono.
— Por que a defesa dele conseguiu provar que ele estava em outro lugar na hora que aconteceu o crime, a promotoria considerou ele inocente e não permitiu que fosse coletada qualquer amostra genética do senhor Harris. — Header responde e parece insatisfeita com a decisão da promotoria.
— Eu tenho certeza de que foi ele que fez isso comigo, ele é policial com certeza ele planejou tudo e.. e deu um jeito de sair ileso dessa. — Respondo e logo sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto.
— Nada do que foi dito no seu depoimento será desconsiderado, agora que você está consciente a investigação poderá tomar um novo rumo. — Lincoln responde. — Se lembra de mais alguma coisa daquela noite?
Faço um gesto negando.
— Obrigado por esclarecer tudo, caso a investigação tenha avanços entraremos em contato com você. — Header responde enquanto se prepara para deixar o quarto.
— Boa recuperação senhorita Rolle. — Lincoln responde e em seguida eles deixam o quarto.

A Garota Da Costa.Onde histórias criam vida. Descubra agora