A Garota Da Costa.

Capítulo Vinte e Um.

Malie.

Chegamos em Nova York a algumas semanas, estamos nos adaptando a nova vida, a nova rotina, Liam tem uma nova escola que é muito diferente da escola a qual ele já estava familiarizado, eu estou me adaptando a cidade e ao novo ritmo que nossas vidas vem tomando. Minhas aulas ainda não começaram e eu ainda não consegui um emprego; estamos vivendo das economias que juntei antes de vir e eu tenho passeado com os cachorros de vizinhos em troca de alguns trocados. E a minha rotina tem sido essa: levar Liam na escola, passear com cachorros e procurar emprego constantemente. Confesso que pensei que seria mais fácil conseguir trabalho em uma cidade tão grande mas só agora fui descobrir que tudo com o que já trabalhei anteriormente não vale de nada aqui em Nova York então passo algumas horas do meu dia conversando e tomando chá com as senhoras do meu prédio, elas tem sido minha companhia nos ultimos dias e também me ajudam a me locomover por Nova York pois tenho pouco entrosamento com a cidade. Na verdade, não tenho entrosamento algum, todas as vezes que saí sozinha precisei usar o maps para não me perder.

— Quando você começa a estudar, minha querida? — Pergunta minha vizinha Gertrude enquanto nos serve chá. Liam diz que a casa dela cheira a cookies e baunilha, e sinceramente; a casa de "Trude", como costumo chamá-la, tem um cheiro peculiar e uma decoração provençal que deixa todo ambiente ainda mais agradável.
— Minhas aulas começam na próxima semana e eu nem sei como vou fazer para estudar e trabalhar. — Respondo. — Eu aqui falando em trabalhar se nem tenho um emprego.
— Calma querida, você vai conseguir e quando suas aulas começarem pode deixar o Liam comigo para estuda e trabalha. — Ela responde com um sorriso meigo e eu retribuo.
— Trude, você é o meu anjo da guarda! — Comento e em seguida tomo um gole do meu chá.
— Quem dera! Sou apenas uma velha aposentada querendo ajudar... e pra mim não seria esforço algum, seu filho é adorável e vai me fazer companhia na minha vida solitária.
Embora Trude nunca houvesse me dito; eu sabia que ela se sentia sozinha e retrato disso foi a aproximação que tivemos, sem nem nos conhecermos tão bem, ela nos acolheu em sua casa, nos agraciou com chás da tarde e conversas longas... essa é a atitude de pessoas que se sentem sozinhas.
— Gostei muito que se mudaram para o apartamento ao meu lado! — Ela comenta enquanto me olha atenciosamente. — Eu sei que é cedo para dizer isso, mas já faziam muitos anos que eu não conversava tanto. Eram sempre os mesmo assuntos com os antigos vizinhos sobre o preço das verduras ou sobre o tempo.
— Sabe, Trude, você é a nossa primeira amiga aqui, minha e de Liam, obrigado por nos acolher tão bem e por nos agraciar com seus lanchinhos e conversas animadas nos fins de tarde.
Trude não sabe mas ela deixou essas últimas semanas bem mais leve para Liam e para mim também.
— Já são quase cinco da tarde! — Analiso o horário no relógio que fica na parede do apartamento de Trude. — Vou ficar lá em baixo esperando o Liam chegar da escola.
Me despeço de Trude e então pego o elevador. Liam sempre chega as cinco e dez em ponto e eu sempre estou aqui com um sorriso bobo esperando ele vir me contar como foi na escola nova e com seus novos amigos, tenho que confessar que Alika caprichou na hora de escolher o colégio para Liam, ele tem várias atividades ao longo do dia, está aprendendo novos idiomas, são tantas coisas que as vezes não sobra tempo para ele me contar tudo em um só dia.
Desperto de meus pensamentos com o som do ônibus escolar se aproximando, aguardo enquanto Liam desce e corre animado em minha direção. Todos os meus problemas desaparecem na imensidão do sorriso dele.
— Mamãe! — Ele exclama ao me abraçar.
— Ah meu Deus, que saudade que eu estava de você! — Comento enquanto afago seu cabelo levemente volumoso.
— Não deu tempo de sentir saudade, mamãe, eu nem demorei! — Ele comenta. — Já estou de volta, mamãe.
Sorrio enquanto caminhamos novamente para o prédio.

Terminamos o jantar e então começo a preparar Liam para dormir, mas antes não posso me esquecer de ler uma história. Liam já está na cama com seu pijama aguardando que a leitura comece.
— Para onde vamos hoje, mamãe? — Ele pergunta levemente sonolento.
— Hoje nós vamos para o mundo mágico de Oz! — Respondo e ele comemora animado.
O livro é todo decorado e com algumas ilustrações em 3D, começo a ler e Liam fica bem atento aos detalhes mas minutos depois ele adormece, fico alguns minutos ainda próxima a ele, analisando cada detalhe e o quanto Liam está ficando parecido com William, acredito que seja o cabelo que agora está longo como eu havia visto o de William em um site de fofoca a alguns meses atrás. Balanço a cabeça com o intuito de espantar meus pensamentos. Dou um beijo delicado na testa de Liam e em seguida deixo o quarto.
Estou na sala do pequeno apartamento analisando algumas possíveis vagas de emprego, são tantas opções mas nenhuma é meio período.
— Como vou conseguir estudar; trabalhando em turnos de dez horas todos os dias?! — Suspiro frustrada.
Estou prestes a fechar a notebook quando recebo uma ligação em vídeo-chat de Alika.
— Como anda a mais nova cidadã nova-iorquina? — Ela me cumprimenta.
— A cidadã vai bem, já a Malie; entrando em desespero. — Respondo em um tom brincalhão e em seguida sorrimos.
Não contei para Alika que ainda não estou trabalhando, não quero que ela se sinta no dever de me ajudar mais do que já me ajuda, então tenho fingido para ela que estou trabalhando em uma cafeteria meio período.
— Vai ficar tudo bem! — Ela se certifica. — Está gostando do novo emprego?
— Sim. — Assinto prontamente. — Consigo conciliar o emprego e cuidar do Liam, consigo deixar ele na escola, ir para faculdade e depois trabalho até as três e chego em casa antes dele, ainda consigo ler para ele antes de dormir.
— Uau! Tem otimizado bem o tempo de vocês. — Ela comenta. — Liam tem gostado da nova escola?
— Sim. Inclusive, obrigado por fazer isso por nós dois, todos os dias ele chega animado e cheio de assuntos novos, ele está tão empolgado, Ali. — Comento orgulhosa.
— Fico feliz por estar dando tudo certo para vocês aí... confesso que eu estava muito preocupada com vocês mas agora estou bem tranquila. — Ela comenta. — Você checou o endereço?
— Qual endereço? — Finjo não lembrar do que se trata com a intenção de que Alika ignore o assunto.
Antes que vir para Nova York, Sharon me entregou uma carta escrita pela minha mãe endereçada a mim e no envelope da carta tinha um endereço que fica localizado bem aqui, em Nova York, desde então Alika não me deu sossego e toda vez que nos falamos ela me cobra sobre eu ainda não ter ido até lá buscar respostas.
— Não adianta fingir que não sabe, eu sei que está evitando ir até lá... mas pensa bem; que mal isso pode trazer?! Você vai preencher essa lacuna e vai acabar de vez com a sua dúvida. — Alika comenta enquanto me olha fixamente pela da tela do notebook. — Do que você está com medo, Malie?
— Não sei. — Respondo. — Tenho medo dela estar lá e viva esse tempo todo ignorando a minha existência ou então de falarem que ela morreu... que foi atropelada, ou que ficou doente e não resistiu, que foi assassinada ou que simplesmente desapareceu daqui também.
— Calma, Malie. — Alika comenta cautelosa. —  Isso pode ser o encerramento dessa história ou também pode ser uma parta para novas possibilidades que você talvez precise ir atrás para saber.
— Você tem razão... não vou mais evitar essa situação. — Respondo e Alika sorri animada.
— Finalmente! Eu já estava perdendo o sono querendo saber os desdobramentos dessa nova temporada! — Ela comenta aliviada.
— Nova temporada?... tem acompanhada a minha vida como uma série?! — Comento incrédula.
— É claro! — Ela responde entusiasmada. — Se a sua vida fosse uma série, já haveriam cinco temporadas e uns dois spin-off prontos para serem lançados!