Yanka
Acordei com uma sensação estranha de vazio ao meu lado. Passei a mão pelo colchão e o lado de José estava frio. Estranhei. Será que ele tá na academia? Acordei tarde muito tarde. Estiquei o braço para pegar o celular na cabeceira. A tela iluminou-se com os números "20:00". Como assim oito da noite? Passei o dia dormindo estava morta da noitada de ontem.
Me sentei devagar ainda tentando afastar o torpor do sono profundo. Olhei ao redor do quarto. Silêncio. Nenhum sinal dele. Levantei os pés descalços encontrando o chão frio. Caminhei até o banheiro lavei o rosto sentindo a água gelada despertar meus sentidos. Enrolei-me no hobby de seda que estava pendurado na porta e coloquei minha ugg e sai do quarto.
A casa estava quieta o som dos meus passos ecoando pelos corredores. Fui até a cozinha esperando encontrar José lá talvez preparando alguma coisa mas quem encontrei foi o Sr. Rodrigues.
-Boa noite dona Yanka.
Ele disse com seu jeito sereno.-O senhor viu o José?
Perguntei tentando soar casual embora algo dentro de mim estivesse começando a incomodar.-Bom vi ele por volta de umas 14 da tarde por aí ele saiu com a lancha para a cidade.
Se aproximou de mim e começou a falar sendo discreto.Ele foi para a cidade? Como assim cidade? Pensei que ele estivesse na praia daqui da ilha. Fiquei em silêncio por alguns segundos processando aquela informação.
-Ah entendi...
Respondi forçando um sorriso sem mostrar os dentes.
-Pode mandar comida pro meu quarto por favor? E meu irmão ainda está aqui?
Perguntei e o Sr. Rodrigues assentiu sem perceber a tempestade que começava a se formar dentro de mim.Voltei para o quarto fechei a porta com mais força do que deveria. Peguei o celular de novo dessa vez com a intenção de ligar para ele. A ligação caiu direto na caixa postal. Tentei de novo. Nada. A cada nova tentativa a frustração aumentava. Porque ele não me atende!
Furiosa joguei o celular na cama. O silêncio do quarto agora parecia insuportável.
A cada toque que ia direto para a caixa postal meu coração acelerava um pouco mais. Por que ele não está atendendo? Minhas mãos começaram a tremer de raiva enquanto tentava desesperadamente refazer a chamada. Nada. A tela do celular exibia o nome dele mas a voz automática me respondia impassível.
Apertei o botão de chamada mais uma vez mas o resultado foi o mesmo. Meu peito ardia com a sensação de impotência. Joguei o celular na cama de novo me recostando contra a cabeceira tentando controlar a raiva crescente.
Meu pensamento corria rápido buscando respostas. Ele não pode estar me ignorando assim não agora! Logo hoje na véspera de algo tão importante. Nós íamos nos assumir oficialmente amanhã íamos comprar as alianças juntos e iríamos na festa de aniversário da Maitê que ele me convidou para irmos juntos.
Uma batida na porta me tirou dos meus pensamentos. Era uma das funcionárias entrando com uma bandeja de comida. Ela colocou a bandeja na mesa ao lado da cama mas eu estava furiosa demais para agradecer ou ser educada.
-O que foi?!
Disparei sem esconder a irritação.
-O que é que está olhando? Vai logo! O que está demorando para colocar essa comida na mesa? Vaza daqui logo!"
Falei descontrolada e a garota não disse uma palavra. Seus olhos estavam arregalados de medo e suas mãos tremiam enquanto colocava a comida na mesa ao lado da cama. Assim que terminou saiu rapidamente do quarto quase correndo fechando a porta atrás dela com um leve tremor. Eu nem me importei. Eu estava dominada pela raiva.Voltei a pegar o celular agora com mais agressividade ligando de novo para José. Cada vez que a ligação caía na caixa postal eu sentia meu estômago se revirar. Meu peito estava apertado e minha respiração começou a ficar mais rápida e superficial. Por que ele está me ignorando? Por que ele não atende?
Minha frustração atingiu o limite. Em um impulso de raiva, joguei o celular com força contra a parede. O som do impacto ecoou pelo quarto. O celular caiu no chão estilhaçado. O silêncio que se seguiu foi insuportável. Eu respirei fundo tentando manter a calma mas foi inútil. As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. Fui até a mesinha e me servi um copo de água de um gole e deixei o copo na mesa.
-Por que ele não me atende?
Sussurrei para mim mesma como se a resposta fosse aparecer magicamente. Meu corpo começou a tremer enquanto a realidade me atingia. Eu estava completamente perdida sem controle sobre o que estava acontecendo.Desci da cama e me sentei no chão abraçando meus joelhos. As lágrimas continuavam a cair agora sem controle. Minha mente começou a pensar nas piores possibilidades. E se algo aconteceu com ele? E se ele está machucado ou pior? Mas não isso não faz sentido. Notícia ruim chega rápido, certo? Então por que ele não me atende?
A sensação de desamparo tomou conta de mim e eu comecei a chorar ainda mais como uma criança que não consegue entender por que o mundo não está funcionando como deveria. As lágrimas escorriam pelo meu rosto molhando minha camisola. Eu soluçava perdida em uma espiral de medo e frustração.
-Por que ele não me atende?
Repeti sentada no chão em voz alta minha voz embargada pelas lágrimas.Eu estava ali no chão frio do quarto encolhida me sentindo totalmente impotente. As lágrimas pareciam não parar e a dor no peito só aumentava. Cada batida do meu coração doía mais do que a anterior enquanto a ausência de José crescia como uma sombra engolindo todos os meus pensamentos.
Tentei puxar o ar me acalmar mas o desespero não deixava. Tudo estava desmoronando. Amanhã que deveria ser o início de algo tão especial estava se tornando um pesadelo. Nossas conversas nossos planos tudo parecia tão distante agora como se eu tivesse sido abandonada à própria sorte.
A ideia de que ele pudesse estar machucado me fez sentir um nó ainda mais apertado na garganta. Mas a raiva logo substituiu o medo.
Levantei-me com dificuldade sentindo as pernas bambas e fui até o celular jogado no chão. Parte da tela estava rachada mas ainda funcionava. Com mãos trêmulas peguei o aparelho e pela centésima vez tentei ligar para ele. A mesma resposta fria da caixa postal.
O ar no quarto parecia sufocante. Eu precisava sair dali mais ao mesmo tempo ninguém pode me ver assim! Fiquei parada no meio do quarto olhando para o celular quebrado o rosto ainda molhado pelas lágrimas.
-Ele não me atende... ele não me atende...
As palavras ecoavam na minha cabeça uma e outra vez como um mantra cruel que se recusava a ir embora. Eu estava à beira de um colapso. Tudo que eu queria era uma explicação uma resposta qualquer coisa que me fizesse entender o que estava acontecendo.Mas nada vinha. Apenas o silêncio.
Olhei para a comida intocada na mesa ao lado da cama sem apetite algum. Meu estômago estava revirado demais para conseguir pensar em comer. Eu só queria que José estivesse ali ao meu lado como ele prometeu que estaria. Estávamos juntos nessa. Ou pelo menos era isso que eu pensava.
De repente toda a força que eu estava tentando manter desapareceu. Caí de joelhos as mãos cobrindo o rosto e desabei de novo. As lágrimas vinham sem parar como uma torrente incontrolável e eu me sentia cada vez mais perdida. Por que ele não me atende? Não faz sentindo ele pegar a lancha e ir para a praia da cidade se tem uma praia aqui particular.
O desespero aumentava a cada segundo enquanto a ausência dele parecia esmagadora. Toda a confiança que eu tinha em nosso relacionamento estava se desfazendo cada lágrima levando embora um pedaço da certeza que eu tinha sobre nós.
-Por que ele não me atende?
Sussurrei novamente minha voz quase apagada pelo peso da angústia. Eu estava sozinha perdida em um mar de incertezas.
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Você Não Ama Ninguém - Volume III
FanfictionVocê não ama ninguém será que agora amando?