Capítulo 88 Lugares do mundo azul

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Even dormia profundamente na cozinha, sua cabeça descansando suavemente sobre os braços cruzados na mesa. A tranquilidade do sono contrastava com a inquietação de seu coração, mas, por enquanto, ela parecia estar em paz.

O ambiente estava silencioso, exceto pelo som ocasional dos murmúrio dos corredores próximos. Matusalem havia saído, deixando Even para descansar, sabendo que sua habilidade garantiria que ela tivesse sonhos tranquilos.

Foi então que Samuel entrou silenciosamente na cozinha. Ele se aproximou da garota, movendo-se com cuidado para não fazer barulho.

Samuel parou ao lado da mesa, observando o rosto adormecido de Even. Ele se lembrava vividamente do dia em que a segurou pela primeira vez quando era apenas um bebê. Naquele tempo, ele jamais poderia imaginar o quanto aquela pequena vida se tornaria importante para ele. Embora não tivesse planejado se apegar a ela, a realidade era que já sentia um profundo afeto pela garota.

Com um gesto gentil, Samuel estendeu a mão e brincou levemente com a franja de Even, afastando-a do rosto dela. Observando-a, ele não pôde deixar de sentir um misto de tristeza e esperança. A inocência de seu sono parecia um contraste cruel com as dificuldades que ela havia enfrentado.

- Você merece muito mais do que isso, pequena - murmurou ele, a voz baixa e carregada de emoção.

Even murmurou algo em seu sono, mexendo-se ligeiramente, mas sem acordar. Samuel retirou a mão rapidamente, não querendo perturbá-la. Ele sabia que o descanso dela era precioso e que, nos dias que viriam, ela precisaria de toda a força possível.

Ele deu um último olhar à garota adormecida antes de se afastar da mesa. Afastou-se tão silenciosamente quanto havia entrado, saindo da cozinha e fechando a porta suavemente atrás de si.

Enquanto caminhava pelo corredor, Samuel refletiu sobre seus sentimentos. Ele nunca havia planejado se envolver emocionalmente, mas Even havia tocado seu coração de uma maneira que ele não podia ignorar.

Even acordou lentamente, sentindo uma sensação de calma que há muito tempo não experimentava. Os sons ao seu redor estavam abafados, como se estivesse emergindo de um sonho profundo. Ela piscou algumas vezes, ajustando-se à luz suave da cozinha.

Ela se levantou devagar, tentando entender como havia adormecido tão rapidamente. Quando viu a tigela vazia de sopa à sua frente, as memórias começaram a voltar. Lembrava-se de Matusalem falando com ela, a conversa sobre desenhar, e depois... tudo ficou nebuloso.

A percepção surgiu como um lampejo: Matusalem havia usado sua habilidade nela. Uma mistura de alívio e uma ponta de irritação passou por seu rosto. Ela sabia que ele só queria ajudá-la, mas detestava a sensação de não ter controle sobre si mesma, mesmo que fosse para seu próprio bem.

Even saiu da cozinha, determinada a encontrar Matusalem. Ela precisava agradecer, mas também precisava falar sobre como se sentia. Encontrou-o no corredor, conversando com Liztin e Darwin. Os três pararam de falar ao vê-la.

- Even, como você está se sentindo? - perguntou Darwin, sempre o primeiro a mostrar preocupação.

- Melhor, eu acho - respondeu ela, seus olhos fixos em Matusalem. - Posso falar com você por um momento?

Matusalem assentiu e seguiu Even até uma área mais privada. Quando estavam sozinhos, ela o encarou, tentando encontrar as palavras certas.

- Obrigada pela sopa e por... - hesitou, escolhendo as palavras cuidadosamente - ... me fazer dormir. Eu precisava disso.

Matusalem sorriu levemente, mas esperou, sabendo que havia mais a ser dito.

- Mas eu gostaria de saber antes, entende? - continuou Even, sua voz mais firme agora. - Eu entendo que você queria me ajudar, e ajudou, mas eu preciso ter controle sobre o que acontece comigo.

A estrela ocultaOnde histórias criam vida. Descubra agora