Forty two

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A maioria das crianças tem memórias com os pais das quais gostaria de recordar por toda vida

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A maioria das crianças tem memórias com os pais das quais gostaria de recordar por toda vida.

Eu não tenho.

Meus dedos fluíam como plumas pelas teclas do piano e o som reverbava pela enorme sala de casa. Mamãe estava parada perante o piano, abanando-se com o seu leque. Estava calor e a maioria das crianças estavam brincando na piscina ou andando de bicicleta, mas eu estava fadada a passar o verão inteiro praticando piano. Eu gostava do piano, mas já eram quatro horas seguidas e meus dedos doíam. Olhar para o rosto de Hanare e ver uma careta desgostosa fez-me perder a concentração e errar uma nota.

Fechei os olhos com força ao ouvir o som de seu leque bater contra as teclas quase atingindo meus dedos.

- O que foi isso, Hinata?! - ela perguntou. Sua voz soava agressividade.

- É C..chopin, mamãe!

- Oras, eu sei o que você está tocando, menina tola! Mas, está horrível!

- Estou cansada... - tentei argumentar - Meus dedos doem!

Ela grunhiu, parecendo estar irritada de verdade.

- Por isso você não melhora nunca! É fraca e preguiçosa! De novo! - ela ordenou.

Eu não ousaria desobedece-la. Hanare jamais machucaria minhas mãos ou o meu rosto, mas não posso dizer o mesmo de outras partes do corpo. Engoli o choro e recomecei.

A melodia fluiu pela sala e eu fechei meus olhos, talvez se não visse o rosto zangado dela, eu conseguiria acertar e completaria a canção perfeita como deveria ser. Como eu deveria ser. A melodia chegou ao fim e abri meus olhos vagarosamente. Hanare me encarava com os seus olhos perolados tão idênticos aos meus de forma indecifrável.

- Eu fui bem, mam...

- De novo! - ela bradou.

- Não quero! - teimei.

Eu tinha só seis anos, deveria estar aproveitando o verão como todas as outras crianças. Por que tinha que ser assim?!

- O que você disse? - ela perguntou, inclinando-se para perto de mim.

Senti seu hálito bater contra meu rosto. Ela cheirava a tabaco e menta. Seus cabelos castanho escuro caiam sobre o rosto e faziam cócegas em minha pele.

Empurrei o banquinho para longe, ficando de pé.

- Minhas mãos estão doendo! - tentei explicar, mostrando meus calos.

Hanare riu e chutou o banco.

- Estou mandando você se sentar e começar a tocar a porcaria do piano, Hinata! Não me faça fazer coisas desagradáveis!

Balancei a cabeça para os lados, em negação.

A expressão no rosto de Hanare tornou-se odiosa.

Antes que ela me agarrasse pelos ombros ou fizesse qualquer outra coisa, eu corri. Subi pelas escadas, sem me importar se esbarraria em uma das empregadas ou se iria quebrar algum vaso caro.

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