SerenaVou à cozinha tomar um copo d'água. Aqui é a minha casa, onde eu deveria me sentir segura e onde ninguém poderia me fazer mal, ERRADO. Me viro apenas para ver o namorado escroto da minha irmã me encarando, o qual não sei o nome e não quis me dar o trabalho de lembrar. O seu olhar me deixa tão incomodada, ele me faz sentir como uma puta viciada na esquina.
Estou com a camisa que o Elias me deu para lembrar dele. Não me surpreende o seu comportamento, todo mundo me decepciona ou me deixa triste. E sabe o que eu faço quando estou triste? Eu como, e como, até não aguentar mais. Me entupo de comida para tentar preencher o vazio e a carência, nunca quis esse tipo de atenção.
Se você não for atraente não vai ser amada, mas se for atraente demais vai receber olhares como esse. Passo por ele, o mais longe que consigo. Evito ficar sozinha com qualquer um e todos os namorados que a minha irmã já teve ou tem. O menos pior não durou muito também. Ele passa a mão nas minhas costas tentando encostar na minha bunda. Dou um tapa na sua mão por reflexo e me afasto em um pulo como um gato sem casa.
— Qual é o seu problema? Até parece que eu fiz alguma coisa!
O meu problema? Meu problema? Derramo a água que estou segurando no copo, minhas mãos tremem. Vergonha e medo me deixam parada um tempo no mesmo lugar. Ele tenta se aproximar.
— Não encosta em mim! — Digo nervosa. Saiu praticamente correndo.
É por isso que eu sempre tranco a porta do quarto. Nem um nunca chegou a entrar aqui, mas eu morro de medo e sou bastante paranoica. Ando com spray de pimenta para todo lado. Tive medo de ficar sozinha com o Elias também, é claro, mas eu gosto dele e tentei dar uma chance.
Passo a chave na porta. Me troco para correr um pouco, fazer exercícios e manter o peso é quase uma obrigação, não que alguém se importe de verdade com o que eu faço ou deixo de fazer, contanto que seja a bonequinha perfeita que todo mundo pode olhar do outro lado da vitrine. Contando que eu aguenti calada. Cantando que pareça que está tudo bem.
Desço as escadas apressada. Com um top e uma calça legue, deixo para beber água na volta, ou comprar no caminho. Saiu sem comer nada. Contato que ninguém me veja saindo e chegando. Uso elástico com cetim para amarrar o cabelo no topo da cabeça. Corro até a praça, onde posso me alongar. Mantenho o mesmo ritmo.
Meu cabelo balança, minha franja já está começando a ficar grande. Sigo tentando não pensar em nada, se eu pensar demais vou começar a chorar. Para no calçada, me apoio nos joelhos e respiro fundo. Pisco para afastar as lágrimas, essa sensação, eu odeio me sentir assim. Um aperto no peito, falta de ar, medo, tudo junto.
— Droga, mas que porra! — Minha voz nao parece a minha voz, ela oscila. — É sempre a mesma coisa, de novo, de novo e de novo.
Levanto a cabeça e engulo o choro. Vai ficar tudo bem, eu aguento, eu consigo, eu posso lidar com isso. É só sorrir e tudo vai ficar melhor, só sorrir. Sigo correndo, fecho as mãos com força, estou suando frio e nem tinha percebido. Sorriu quando estou triste, já que não posso comer. O Elias me fez sorrir de verdade, quando estou com ele e a Lena, é mais fácil.
( … )
Não importa o dia da semana, a ocasião ou o clima. Os Santino almoçar na mesa, juntos, como uma família. Para minha alegria aquele ser que vivi no pé da minha irmã não está aqui. Posso ler o ambiente perfeitamente. Selly está doida para abrir a boca.
Evito olhar para frente.
— Como foi o dia de vocês? — Pergunta deixando o celular de lado e comendo. Sempre tem carne no seu prato.
— Bom.
— A Serena está namorado! — Solta. Essa boca grande. Encaro sua cara rebocada de maquiagem, olho feio pra ela.
— Ele trabalha. — Digo. Já que nosso pai pelo menos respeita pessoas que trabalham.
— Então ele é pobre? — Viramos as duas na direção da sua voz. Não tem o que dizer quanto a isso. Ele ri sem humor. — Só falta ser branco!
Engulo em seco. Fito o prato, de cabeça baixa. Sabemos como ele desaprova pessoas brancas, por calça do policial que mato a nossa mãe.
— Ele é. — Sussurro.
— Fale alto, para que eu possa ouvir! — Me desafia a continuar.
— Ele é. — Repito em bom tom.
— Não. — Desaprova. — Minha filha não vai ter um namorado branco!
— Mas, você não pode dar uma chance? Eu gosto muito dele… — Pesso ficando nervosa.
O papai não olha para mim, eu lembro a nossa mãe. Quando ele faz os meus pedidos são considerados:
— Se ele poder combrar um terno, e se apresentar na próxima festa de caridade, talvez eu o veja com bons olhos, e eu disse talvez!Concordo várias vezes.
— Obrigada papai, não vai se arrepender.
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Obscura ilusão.
RomanceSinopse: Sombrio e obsessivo, Elias cresceu em um ambiente tóxico. Logo sua fama de não falar com ninguém ganha destaque, sua imagem é de alguem que desta tudo e todo mundo. Conhecido por aparecer nas festas e humilhar quem lhe incomoda. Elias é pre...