06: Tatuagens combinando.

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Elias

— Cara, me tira uma duvida. — Paro te tatuar a perna do cliente para chamar a atenção do Tomas, que mexe no notebook.

— Fala. — Continua com os olhos na tela.

— Como você consegue ficar com a Lena, tipo, você chegou nela e pronto? — Espero ele responder enquanto ponho mais tinta no batoque.

— Não, a gente trocou um papo, ela chegou em mim, eu falei o meu nome, ela falou o dela, a gente se beijo. — Explica.

— Isso não ajuda em nada! — Volto pro meu trabalho que eu ganho mais.

— E ficar enrolando vai de dar o momento certo? — Alfineta. Se eu apressar as coisas posso acabar estragando tudo. Ok, ela gosta de filmes de terror, desvia um pouco da sua aparência e personalidade, mas é só isso. — Sabe, as quietinhas são as piores!

— O que isso quer dizer? — Finjo interesse.

— Que ela pode ser mais safada do que você pensa.

Ouvi-lo falando dela assim não me agrada muito. Tanto que quase joguei a bandeja com as agulhas nele. Mas eu sou uma pessoa calma e que adora a natureza.

— Quem é safada? — A duas garotas paradas na entrada da garagem me chamam a atenção. O cliente está distraído mexendo no celular e nem nota a falação.

— A gata da vizinha — respondo por ele. Lena logo entende errado. Abro um sorriso de canto, maldoso.

— Ela fez xixi na minha porta. — Ele pensa rápido.

Faz “Ata”, como se tivesse entendido melhor a conversa. Serena está do lado dela, tímida e quieta como sempre, não consigo parar de pensar no que o Tomas disse. Ela não parece nem um pouco safada ou coisa assim.

— Tá, viemos fazer uma tatuagem também, a Serena ainda não penso onde quer fazer, então eu vou primeiro. — Gesticula andando. Senta no banco. As duas ficam juntas.

Continuo fazendo a tatuagem do cara para mandar ele embora logo. Na panturrilha, um leão, estou quase acabando. Paro às vezes para girar o pulso, incomoda um pouco. Meu cabelo também está grande, fica na frente dos olhos, tenho que cortar qualquer hora, só não confio no Tomas para me ajudar.

Assim que finalizo e ele paga. Tiro as luvas e continuo sentado. Lena vai escolher seu desenho com o Tomas. Serena me olha envergonha, mexe na bolsa pequena e tira um elástico de cetim. Vem até mim hesitando, ela junta o meu cabelo e amarra no topo. Consigo ver bem melhor.

— Obrigada.

Ela sorri contente:
— Posso tirar uma foto?

— Cara, o que foi que ela fez com você? Foi de um pitbull, para um maltês. — O Tomas tinha que fazer um comentário do tipo.

Franzi a testa enquanto eles riam de mim. Serena pego o celular e espera com expectativa para tirar uma foto, concordo com a cabeça, falar em voz alta vai reforçar a ideia do ridículo. Sorri de canto, mesmo assim ela é a única que não está zombando da minha cara.

— Que fofo, vou por em um retrato. — Encara a tela.

— Manda pra mim, foi fazer uma figurinha no Whats! — Mostro o dedo do meio para ele.

— Fica na sua! — Resmungo. — O desenho pra fazer o decalque, já escolheu? — Me viro pra amiga.

— Deixa, eu faço a dela, vai dar um pausa pra descartar. Aproveita e trás um lanche pra visita! — Me espanta com um movimento de mão.

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