18: Facada.

202 28 12
                                    


Elias

Estava prestes a sair, quando vi a Serena na cozinha, cozinhando. Ela não sabe cozinhar. Me pergunto se ela ainda está doente e eu não notei. Paro na porta, ela serve um sanduíche cortado de qualquer jeito em cubos, no meu lugar de sempre na mesa. Uma peça de roupa dela está na mesa também, de renda, rosa. Ela se inclina quando me vê, grava a faca na mesa em cima da peça, as sobrancelhas juntas. O movimento foi tão sexy que esqueço de raciocinar.

Engulo em seco, linda pra caralho.

— Senta! — Manda. Hesito, entro na cozinha, puxo a cadeira e sento. — Então, de quem é essa calcinha, ursinho? — Me encara, o cabelo bagunçado e a alça da blusa caída, sem sutiã, consigo ver o pico dos seus seios pelo vestido meio transparente. E a tatuagem, porra, essa tatuagem me deixa doido.

— É sua.

— Não, não é. — Puxa a faca é aponta para mim, quanto mais puta ela fica mais eu gosto. — Vamos tentar de novo, você prefere me explicar porque tinha uma calcinha que não é minha nas minhas roupas, ou você quer uma facada surpresa?

Soa como uma pergunta, mas é uma ameaça. Me dá um puto tesão:
— Ok, às vezes eu pego um ou duas calcinhas suas, para você não notar, eu comprei novas!

— Pra fazer o que? — Se inclina, pressionando a faca contra o meu pescoço, umedeço os lábios fechando as mãos com força para não puxá-la para o meu colo.

Mal consigo piscar os olhos, de tão fascinado que ela me deixa:
— Bonequinha, é melhor você não saber.

— Acontece que eu não quero brincar… — sinto o meu sangue escorrer, engulo em seco. — Responda a droga da minha pergunta!

— Já que quer tanto saber. Uso pra bater uma, quando você me deixa exitado, o que acontece todo maldito dia. — Puxo ela pro meu colo com impaciência.

— Eu deixo? — Afasta a faca, piscando com surpresa.

— Pra caralho! — Encaro sua boca.

— Tanto faz, você tem uns fetiches bem estranhos! — Disse a garota que ameaçou esfaquear o namorado. O sanduíche parece sem propósito de repente.

— Qual é a do sanduíche? — Mudo de assunto, aproveitando para abraçar a sua cintura.

— Sua última refeição! — Ela cruza os braços. Abro um sorriso involuntário com suas palavras, isso é bem a sua cara.

( … )

Saí para comprar o seu presente, aquele que eu prometi lhe dar. Escondo atrás das costas, inclina a cabeça do sofá tentando ver. Mal chego em casa e sua curiosidade não passa despercebida.

— O que é? — Tenta ver.

— Um presente. Já que você queria um… — Revelo o filhote, na minha mão fica ainda menor.

Se levanta, vem cheia de sorrisos, pega ele, se vira embalando ele nos braços como um bebê:
— Lindinho da mamãe, qual nome eu te dou? Você é muito fofo, sabia?

— Vai me trocar por essa bola de pelo? — Vai se afastando. Aponto desacreditado, o filhote de buldogue tem uma pelagem preta e era o mais carinhoso.

— Pelo menos ele não vai roubar as minhas calcinhas! — Mostra a língua pra mim.

— Ei, olha o que você fez! — Aponto para o curativo no meu pescoço. — Deveria me dar um pouco de atenção também.

Me ignora subindo enquanto conversa com aquela bolinha de pelo. Suspiro desacreditado. Ela não fez isso. Serena fica tão feliz que não consigo ficar bravo por muito tempo.

— O papai é um idiota, vamos roupar o cartão de crédito dele para comprar coisinhas para você. A mamãe te ama muito! — Me sinto um idiota de repente, ela não o me troco, só arrumo alguma coisa que desse exatamente o que ela queria de mim.

Qual é o meu problema? Ela não tem nada haver com o meu rancor, não é culpa dela, é dele. O que eu estou tentando fazer? Passo os dedos no cabelo colocando para trás e tirando da frente do meu rosto. Serena era só um peão, ela se tornou uma peça importante do tabuleiro, uma da qual eu não quero abrir mão, e também não posso deixar que ele saiba disso, nem ela, ela não pode saber disso. Não agora.

Obscura ilusão.Onde histórias criam vida. Descubra agora