19: Chamada perdida.

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Serena

Me devolve o meu celular sem mais nem menos. Olho para a tela do aparelho, ligo e tem várias chamadas perdidas da Selly. Franzi a testa. Tem uma do meu trabalho com um lembrete de levar atestado, a Lena mandou uma mensagem também, no dia do meu aniversário. Eu sumo por semanas e ninguém faz nada. Elias pega a chave da moto perto da tv, faz menção de andar. Me levanto do sofá deixando o celular ao lado do meu bebê que está em cima da almofada, paro na sua frente, e seguro seu braço.

— Onde você vai?

— Aqui, escolhe um, depois olha a caixa postal no seu celular. — Tira o celular do bolso e me dá algumas opções de vestidos elegantes.

— O que? Por que? Não vou escolher, não gostei de nem um. — Empurro o seu celular. Sei o que ele quer dizer, mas quero ganhar tempo.

— Bonequinha, — agarra meu pescoço de leve. — você não vai querer usar o que eu escolher, colabore comigo…

— Tudo bem, com tanto que você ache um que mostre a minha tatuagem, que tenha um decote bem bonito, e também preto, com uma fenda. — Faço exigências. Esperando que ele não ache um vestido assim.

— O que você vai fazer se eu achar? — Se inclina para falar, passa o polegar no meu lábio inferior. — Um hora as suas desculpas vão acabar!

( … )

Minha irmã estava estranha na ligação. Não sei o que está acontecendo em casa. Mas espero que esteja tudo bem. Curiosidade: O nome da Selly é Syerra, Selly é um apelido que as amigas do intercâmbio deram a ela quando foi para Nova York.

Uma festa de caridade no meio da semana, e ainda esperam que eu leve o meu namorado, papai não sabe o que está me pedindo. Não é impossível escolher, me sinto culpada por isso, mas não teria como ser diferente.

Penso em mais desculpas, em uma forma de prender ele em casa, ou de pelo menos atrasar a nossa ida. Chegar tarde e beber um drinque é o mínimo para conseguir lidar com aquele ambiente tóxico.

Elias chega com o maldito vestido, e algumas joias. Me faz tomar banho primeiro. Espalho as minhas maquiagens em cima da cômoda. Meu bebê está dormindo na caminha dele, no canto do quarto. Entro no banheiro sem bater enquanto o Elias toma banho, pego o meu creme e dois pentes diferentes. Encaro ele através do vidro do box embaçado, a água escorrendo por suas costas, esses ombros largos, é tão bom arralho.

Saiu praticamente correndo quando ele me nota. Fecho a porta. Volto para a cômoda, deixo minhas coisas lá, começo a pentear o cabelo molhado, vou dividindo as mechas, passo creme e uso o outro pente para definir. Ainda não decidi se vou com o cabelo solto, por via das dúvidas decido depois o que é melhor.

O cara enorme que eu chamo de namorado, por falta de terapia, para de toalha atrás de mim:
— Posso tentar?

— É que… — Eu sou mais rápida, mas decido aceitar. — Tudo bem. Vem aqui.

Explico e deixo ele mexer no meu cabelo. Mesmo que eu tenha que refazer tudo, é a primeira vez dele. Pego o espelho na necessaire, até que ele faz certo. Termina um lado e depois vai para o outro, a parte de cima eu vou arrumar sozinha, também vou separar a minha franjinha.

Finjo mexer nas maquiagens como se estivesse adiantando alguma coisa da minha arrumação. Ainda estou de roupão, depois visto a roupa. Pego meu celular e olho as horas discretamente.

— Acabei aqui. — Avisa.

— Ta bom, obrigada ursinho. — Me viro para ele distraída, fico na ponta dos pés e beijo sua boca em um selinho rápido. Me afasto percebendo o que eu fiz. Me volto para as minhas coisas, arrumo o espelho.

Obscura ilusão.Onde histórias criam vida. Descubra agora