11: Meu namorado é um psicopata.

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Serena

São mais ou menos 8 km até a casa dele no meio da floresta. 15 minutos de carro. Meu pai me deu um, nunca usei, sempre andava com a Lena, mas agora não quero ficar gastando com uber por isso tenho que dirigir. Então uma viagem que levaria pouco tempo acaba levando meia hora. Paro o carro de qualquer jeito. Retoco meu batom no escolho, me olho um pouquinho. Tiro o cinto. Levo um susto quando vejo ele apoiado na janela.

— Está se arrumando para mim! — Escondo o batom na minha bolsa.

— Não, é só um batom… — Me faço de desentendida. Não gosto da ideia dele pensar que estou desesperada.

— Você menti mal, sabia? — Segura meu queixo e passa o dedo no meu batom, mas não borra. — Sempre desvia o olhar quando menti, não consegui olhar nos meus olhos.

Como ele sabe disso? É involuntário, quando percebo não estou olhando para a pessoa. Mas não é para tanto, foram só mentirinhas. Algumas omissões. Ele não precisa saber de tudo, ser um problema não é algo que eu gostaria.

Eu amo você. — Olho nos seus olhos.

— Não mude de assunto. — Me repreende com um sorriso bobo tentando ficar sério. — Acha que me dizer isso vai…

Me aproximo, encosto sua testa na minha:
— Quem é o meu amorzinho?

— Porra, você esta destruindo a minha pose de cara sério! — Nega desapontado, me fazendo rir.

— Quem é? — Insisto com um sorriso largo.

— Sou eu! — Suspira derrotado.

( … )

As vezes sinto calafrios durante a noite, geralmente quando me levanto para beber água ou ir ao banheiro. Elias sempre aparece um tempo depois me procurando, ele acorda quando saiu, sono leve. Mas tem uma porta, uma porta misteriosa, um lugar que ele disse para não entrar. Tem muita velharia e poeira, mas sempre fico curiosa quando passo por ela.

Decido abrir para dar uma espiada, me espanto por o lugar estar limpo. E me arrependo por ter aberto a porta no instante em que vejo um mural com a minha família. Meu pai está no centro e tem uma faca na sua cara, encaro sem palavras, tem informações, e uma foto minha e da minha irmã também. Meu coração erra uma batida. Tropeço em uma caixa, a tampa cai e tem um monte de armas diferentes dentro dela. Não quero acreditar.

Minha respiração sai de foco, nego:
— Não, não, ele não faria isso, ele não é assim…

Abraço meu próprio corpo, me agacho e tento respirar direito. Uma crise de ansiedade agora não é exatamente algo que pode me ajudar. Bato no meu peito, balanço a cabeça várias vezes sem querer acreditar no que está bem na minha frente.

Só dessa vez, só dessa vez, por favor, só dessa vez. Não posso perder mais ninguém, ele é tudo para mim. Diga que não é o que parece, não tem problema, está tudo bem, apenas diga e eu vou acreditar. Me levanto apressada, sim, ele não sabe que eu sei. Nada precisa mudar. Acalmo minha respiração. Me viro apenas para me ver paralisada. Seu olhar de desprezo, nunca vou esquecer esse olhar. Ele riu aliviado.

— Finalmente, agora não preciso mais fingir!

Sem que eu me desse conta, seu moletom não parecia mais tão quentinho, estava frio. Várias coisas passaram pela minha cabeça, mas só uma importava.

— Isso não é…

Ele olho nos meus olhos, suas palavras, nunca vou esquecê-las. Como uma única palavra faz toda a frase perder o sentido:
Eu não amo você.

Obscura ilusão.Onde histórias criam vida. Descubra agora