12: Odio ou amor?

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Elias

Já foi alguém que confiava cegamente, alguém que acreditava e aceitava qualquer verdade. Mas sempre retribui 10 vezes pior, fosse o que fosse.

— Vou furar os pneus do seu carro se tentar fugir de mim! — Abraço sua cintura enquanto ela tenta ficar acordada, sua hesitação e falta de vontade de me afastar apenas me mantém perto.

— Vai pro seu lado da cama! — Resmunga sonolenta.

— 5 minutos atrás você queria que eu dormisse no sofá.

Pega no sono sem me responder. Observo ela dormir, seus olhos estão vermelhos de chorar. Não sei lidar com ninguém chorando. Lágrimas são só água, só não quero vê-la chorando de novo. Mas agora, não preciso fingir ser uma boa pessoa. Posso chegar do trabalho e seguir com o plano. Ela não pode fazer nada realmente, melhor não subestimar a minha garota. Até porque, não importa o que ela pense, ela ainda vai ser só minha.

Durmo um pouco, logo é de madrugada. Levanto com cuidado para não acordá-la. Mesmo que tenha dito que não queria dormir ou não queria ficar comigo, sei que é mentira. Me arrumo na sua frente, abro a gaveta que sempre fica trancada. Posso realmente ser um assassino de aluguel, mas fui preso por uma coisa que não fiz, e aquilo me deixou profundamente ofendido. Coloco o terno, ela acorda e fica me olhando abotoar a camisa.

— Vou trabalhar. Seja uma boa garota e fique trancada até eu voltar!

Se vira para não olhar para mim. Suspiro. Não entendo. Ela sabe a verdade, o que mais poderia querer? Nem estava nos planos contar assim, ela só precisava saber quando eu matasse ela e a sua irmã na frente do seu pai. Mas os planos mudaram e a ideia de matá-la também não me deixa muito feliz. É como se a vingança que eu tanto queria de repente não servisse mais para nada.

Coloco a máscara de sorriso largo e olhos puxados para baixo como fendas, e pego a arma. Olho para ela uma última vez antes de sair. Deixo a porta aberta, só finjo que tranquei, quero saber se ela realmente fugiria de mim. Testá-la sera bom.

( … )

— Voltei bonequinha, espero que tenha se comportado direitinho! — Está sentada na cama olhando para o chão, seus olhos estão ainda mais vermelhos do que quando a deixei.

— Elias? — Chama.

— Sim. — Abro um sorriso.

— Vai se ferrar! — Só então olha para mim, notando o sangue na minha roupa e mãos, pisca espantada.

— Está com fome? Vou só lavar as mãos. — Aviso seguindo com paciência.

Vou ao banheiro, lavo as mãos primeiro. Acabo tirando a roupa, deixo a máscara na pia e a arma. Da porta aberta vejo pelo espelhos ela levantar e me olha com os braços cruzados e junta as sobrancelhas com cara de brava, mas cara feia pra mim é fome. Desabotou a calça indo na sua direção. Ela sai da frente do guarda roupa e se vira. Ri da sua atitude. Troco de roupa, vestindo só uma bermuda e ficando sem camisa. Finjo abrir a porta do quarto e deixo aberta. Ela vem atrás de mim.

Fica me olhando da porta da cozinha. Olha para a porta da frente. Chamo sua atenção batendo os dedos no seu lugar na mesa. Ela revira os olhos, se aproxima e senta. Mas não diz uma palavra, o que não me incomoda de verdade. Ponho a tigela com o seu cereal na sua frente. Come sem olhar para mim.

Silêncio, a mais pura paz, nem uma palavra sequer. De repente Está começando a me incomodar.

— Diga alguma coisa.

Ela ri sem humor.

— Sabe… — Mexe na comida. Me sento do seu lado. — Você é doente, um tipo específico de pobre, que ganha a vida matando pessoas. Que engana os outros e não se importa com ninguém. — Estreita os olhos. —  O que eu deveria dizer? Me enterre no quintal, eu gosto de lírios.

Abro um sorriso pertubado. Apesar de tudo ela não parece ter medo de mim, ela só tem medo de não me ter mais. Gosto do seu humor fúnebre, me lembra alguém que eu costumava confiar.

— Eu nunca te daria flores, elas murcham e morrem, e sou alérgico.

Sua descrença me comove:
— Alguma vez já disse algo que fosse verdade?

— Só na cama. — Pega a garrafa de leite e joga no meu rosto. Ainda com os olhos fechados, passo a mão no rosto limpando.

— Cretino! — Sai batendo o pé.

Obscura ilusão.Onde histórias criam vida. Descubra agora