I. Estréia

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ANA JÚLIA COSTA

Olho preocupada para a nossa goleira, Gabi, que havia acabado de se machucar após fazer uma defesa completamente arriscada, batendo a cabeça no chão, ficando lá por alguns segundos. Provavelmente ela havia desmaiado. Então o juiz dá uma pausa no jogo, e rapidamente paramédicos começam a entrar na quadra, para socorrê-la. Me levanto, aflita, tentando ver se algo havia acontecido com minha melhor amiga.

- Puta que pariu! - exclamo apavorada, olhando o sangue saindo de sua cabeça.

- Ana Júlia, você precisará entrar - diz Cristiano, nosso técnico, com uma expressão dura em seu rosto, não me dando tempo para sequer pensar.

- Ok - eu apenas digo, deixando minha preocupação pela Gabi de lado, me alongando rapidamente.

Após retirarem Gabi com uma maca, eu entro em quadra, sendo aplaudida pelos brasileiros. Aquela era nossa estréia nas Olimpíadas de 2024, que estava acontecendo em Paris, e também minha estréia na seleção brasileira. Sim, aos meus 20 anos de idade e sendo intersexual, eu consegui esse feito: ser a goleira reserva da seleção.

O apito inicial soou e o jogo retornou com uma intensidade avassaladora. Adriana Cardoso, que é ponta, deu os três passos, avançando com a bola, arremessando a bola para a de Paula, ela arremessa, mas a barreira formada pelas espanholas, não deixam a bola ultrapassar, ficando com elas.

A Espanha tinha a posse de bola e avançava com velocidade. Eu me posiciono, atenta a cada movimento das adversárias. A tentativa de arremesso veio da ponta direita, mas eu faço uma defesa espetacular com a mão direita, e a torcida brasileira se agita e eu grito junto, comemorando a defesa.

As jogadoras brasileiras contra-atacaram rapidamente. Giulia Guariero, a armadora, fez um passe preciso para a ponta direita, onde Jéssica Quintino marcou o décimo segundo gol do Brasil no jogo. A Espanha respondeu com um ataque veloz, vindo pela ponta esquerda, onde nossa barreira faz a defesa, só que a pivô consegue passar, e eu fico mais atenta ainda.

- PIVÔ PASSOU! - grito e rapidamente a barreira fecha a pivô, mas mesmo assim, a mulher era bem rápida e conseguiu pegar a bola, arremessando em seguida, porém eu estava muito atenta, e consigo defender com precisão e agilidade. Eu grito e comemoro minha defesa; até porque, no handebol, os ataques são muito mais rápidos e precisos, já que joga-se com as mãos. A defesa brasileira estava sólida, com interceptações precisas de das pontas e armadoras, dificultando os ataques espanhóis.

No intervalo, eu respiro fundo, hidrato-me e escuto atentamente as instruções do treinador. O placar estava apertado, 12 a 11 para nós, mas a confiança estava alta.

- Meninas, eu sei que tá cansativo, tá foda demais conseguir ganhar esse jogo, mas nós vamos conseguir, certo? Só manter a concentração e a garra! - eu troco algumas palavras de incentivo com minhas companheiras de equipe.

- Isso mesmo! Vamos manter a pressão defensiva e aproveitar as oportunidades de contra-ataque, certo?

- Certo! - algumas meninas respondem e outras balançam a cabeça.

O segundo tempo começou com a Espanha intensificando seu ataque. Eu continuei a fazer defesas cruciais, deixando as adversárias bem nervosas, já que gritavam e algumas até pegaram dois minutos (falta que tira a jogadora do jogo por dois minutos). Em um momento crítico, eu interceptei um passe alto, permitindo um contra-ataque rápido que resultou em um gol de Tamires Araújo, a pivô, ampliando a vantagem do Brasil para 13 a 11.

A Espanha não desistiu e conseguiu empatar com dois gols consecutivos. A partida ficou mais tensa, com ambas as equipes cometendo faltas, às vezes levando dois minutos e os árbitros distribuindo cartões amarelos. Como goleira e pessoa que mais tinha visão de jogo dentro da quadra, eu mantive a calma, orientando minha defesa e fazendo defesas espetaculares. A cada defesa, a torcida brasileira ficava mais animada, incentivando o time a continuar lutando.

Nos minutos finais, a Espanha lançou um ataque desesperado. O placar estava 21 a 20 para o Brasil, e cada posse de bola era crucial. A Espanha conseguiu um tiro de sete metros, e eu me preparei para o arremesso. Com reflexos rápidos, eu fiz uma defesa impressionante, agarrando a bola com firmeza. O ginásio explodiu em comemoração, e minhas companheiras de equipe correram para abraçar-me.

A Espanha ainda teve uma última chance nos segundos finais, mas eu estava determinada a garantir a vitória, não iria deixar que a queda de Gabi fosse a toa. Eu fiz uma defesa acrobática, desviando a bola com a ponta dos dedos para fora. O apito final soou, confirmando a vitória do Brasil por 22 a 20.

Grito com as meninas, havíamos ganhado o primeiro jogo, um passo de cada vez para conseguir uma medalha olímpica.

Exausta, mas eufórica, fui cercada por repórteres e fãs. Eu agradeço o apoio da torcida e elogiei a performance de minhas companheiras e principalmente de Gabi.

- Foi uma vitória de todo o time. Cada defesa, cada gol, tudo foi resultado de nosso trabalho em equipe. Espero de verdade que Gabi esteja bem e que consiga jogar as próximas partidas que virão nessa Olimpíada. E vamos nos preparar para conseguir o Ouro! - digo. Eu sabia que minha dedicação e treinamento valeram a pena. A vitória contra a Espanha era um marco importante não só para o time brasileiro, mas também para minha carreira.

Capítulo não revisado!

𝐏𝐀𝐑𝐈𝐒, ᶠˡᵃᵛⁱᵃ ˢᵃʳᵃⁱᵛᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora