XXIII. Praia.

1.9K 300 39
                                    

ANA JÚLIA COSTA

Os dias na casa de praia dos meus pais eram uma combinação de descanso e renovação. O som constante das ondas quebrando na areia era como música para meus ouvidos, e o cheiro salgado do mar trazia uma sensação de paz. Mas, ao mesmo tempo, havia uma frustração constante dentro de mim. Estar tão perto do mar e não poder sentir a água nos meus pés era difícil de aceitar.

Eu era quase como um peixinho, amo o mar!

Eu estava sentada em uma cadeira de praia, observando Flávia, Rebeca, Marcela, Isabela, e até meus pais se divertirem na água. Eles corriam, riam, jogavam água uns nos outros, enquanto eu ficava ali, com minha perna apoiada em uma almofada, a bota ortopédica servindo como um lembrete constante da minha limitação.

Flávia, sempre atenta, percebeu minha expressão e saiu da água, vindo em minha direção. Seu corpo esbelto naquele biquini rosa fazia meus pensamentos acelerarem, e meu coração acelerar. Seus cabelos molhados brilhavam ao sol, e ela estava radiante, mas ao ver meu rosto, seu sorriso suavizou.

- Ei, por que essa cara? - perguntou ela, sentando-se ao meu lado e segurando minha mão.

Suspirei, tentando não deixar a frustração transparecer.

- Só queria estar lá com vocês. Sinto que estou perdendo a diversão.

Ela sorriu, apertando minha mão com mais força.

- Você vai estar lá em breve, meu amor. E quando estiver, vamos fazer uma festa só para você, prometo.

Sorri de volta, apreciando o esforço dela em me animar.

- Eu sei. Só que... é difícil, sabe?

- Eu sei, amor. Mas olha, o importante é que você está se recuperando, e isso é o que importa. Além disso, quem disse que não podemos nos divertir aqui na areia também?

Ela se levantou de repente e começou a fazer piruetas na areia. Era impossível não me contagiar com a energia dela.

Flávia fazia os movimentos desajeitadamente na areia, seus pés se afundando a cada giro exagerado. Ela levantava os braços, fazia caretas engraçadas e girava como se estivesse em uma competição de ginástica totalmente maluca. Não consegui evitar, comecei a rir alto. Era o jeito dela, sempre encontrando uma forma de me fazer sorrir, mesmo nos momentos mais difíceis.

Rebeca, que estava mais distante, viu a cena e não resistiu. Deixou a água e correu até Flávia, começando a imitar seus movimentos desajeitados, dando alguns mortais. Marcela e Isabela, que estavam brincando com meus pais na água, logo se juntaram também. O que antes era apenas uma tentativa de animar uma tarde tediosa, se transformou em uma dança e ginástica coletiva.

- Você não tem jeito, Flávia! - eu disse entre risos, sentindo a leveza tomar conta de mim.

- Claro que tenho! - respondeu ela, rindo enquanto parava para respirar. - Tenho jeito de te fazer rir.

Flávia parou na minha frente, com a respiração pesada, mas com um brilho nos olhos que fazia meu coração bater mais rápido. Ela se inclinou para me dar um beijo na testa e depois segurou meu rosto entre as mãos.

- Estou aqui por você, sempre. E se não posso te levar para o mar, trago o mar até você - disse ela, com um sorriso travesso.

Antes que eu pudesse perguntar o que ela queria dizer, Flávia chamou Rebeca, que rapidamente entendeu o plano. As duas correram até a beira da água, pegando baldes e enchendo-os de água salgada. Com a ajuda de Marcela e Isabela, elas começaram a criar pequenas poças ao redor da minha cadeira, deixando o cheiro do mar ainda mais forte ao meu redor.

- Vocês são malucas - falei, mas não consegui conter o sorriso.

- Malucas por você - respondeu Flávia, voltando a se sentar ao meu lado. Ela tirou meu pé saudável de cima da cadeira e, com cuidado, ergueu minha perna para que eu pudesse sentir a água fria tocando meus dedos.

A sensação era revigorante. A água era fria e refrescante, e aquele simples toque do mar nos meus pés foi o suficiente para me trazer uma alegria que eu achava impossível naquele momento.

- Melhor agora? - perguntou Flávia, seus olhinhos fixos nos meus, cheios de carinho.

- Muito melhor - respondi, sentindo uma onda de gratidão por ela e todos ao meu redor.

Enquanto eu sentia a água do mar nos meus pés, o riso das minhas irmãs e da Rebeca se misturava com o som das ondas, e o calor da mão de Flávia na minha me fazia perceber que, mesmo que eu não pudesse entrar no mar, eu tinha tudo o que precisava ali, ao meu lado.

- Você é incrível, sabia? - eu disse, olhando para ela com admiração.

- Só estou tentando ser boa o suficiente para você, linda - Flávia respondeu, com um sorriso sincero.

- Ai, que gay! Amor vem aqui, não quero ficar de vela! - Marcela diz e Rebeca se aproxima dela, grudando seus corpos. Meus pais se viram um para o outro, sorrindo.

- Esse sempre foi meu sonho, minhas filhas: ver vocês duas felizes! - meu pai diz, emocionado.

- Você é uma nora incrível, Flávia, obrigada por cuidar de minha filha tão bem! - ela agradece com os olhos marejados.

Flávia dá um sorriso lindo, apertando minha mão.

Naquele momento, soube que, apesar das dificuldades, eu tinha ao meu lado pessoas que faziam tudo valer a pena. E, mesmo que a recuperação fosse lenta, eu sabia que com Flávia e minha família ao meu lado, eu poderia enfrentar qualquer coisa.

𝐏𝐀𝐑𝐈𝐒, ᶠˡᵃᵛⁱᵃ ˢᵃʳᵃⁱᵛᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora