XIX. Final.

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votem e comentem, viu? amo ver a reação de vocês!!

ANA JÚLIA COSTA

O ginásio estava em pura ebulição, com o barulho ensurdecedor dos torcedores brasileiros dominando cada canto. As bandeiras tremulavam no ar, e o apoio vinha de todos os lados. A final contra a França era mais do que um simples jogo, era o ápice de anos de esforço, sacrifícios e sonhos. E, naquele momento, tudo se resumia ao que aconteceria em quadra.

Enquanto o hino nacional tocava, meu coração batia mais forte que nunca. A dor constante no tornozelo, que já havia se tornado uma presença familiar, era suprimida pela adrenalina. Mas, no fundo, eu sabia que aquela dor não poderia ser ignorada para sempre. Cada passo era uma batalha, mas eu estava decidida a lutar até o fim.

Cristiano, nosso treinador, nos deu as últimas instruções, seu olhar encontrando o meu em um gesto de confiança mútua. Ele sabia do fardo que eu carregava, mas acreditava em minha capacidade de superá-lo.

O apito inicial soou, e o jogo começou em um ritmo avassalador. A França, com uma precisão quase mecânica, avançava sem descanso, mas nós éramos guiadas por algo mais forte: a paixão e a vontade de vencer. A partida era uma batalha, cada ponto disputado como se fosse o último. A presença de Flávia na arquibancada me dava forças que eu nem sabia que tinha.

Logo nos primeiros minutos, a França abriu o placar, mas Samara, com sua habilidade, empatou rapidamente. O jogo virou um verdadeiro teste de resistência. No gol, eu enfrentava cada ataque com uma concentração absoluta, ignorando o desconforto crescente no tornozelo.

A cada defesa, o alívio era misturado com uma dor cada vez mais intensa. Quando a França atacava, o tempo parecia desacelerar, e meu corpo respondia instintivamente. Mas em um momento crítico, ao fazer uma defesa decisiva, senti algo se romper no tornozelo. A dor me tirou da órbita por alguns segundos, irradiando por toda a perna, e eu desabei no chão, com a mão no tornozelo.

O ginásio caiu em um silêncio horrorizado. Cristiano e as meninas correram até mim, seus rostos mostrando a preocupação. Flávia, na arquibancada, estava com as mãos sobre a boca, seus olhos arregalados de medo.

Preciso continuar... pensei, repetidamente, mas ao tentar me levantar, a dor só piorou e eu senti meu osso estralando. Os médicos chegaram rapidamente, e a expressão no rosto deles me disse tudo: não haveria como continuar. Fui levada de maca, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, não só pela dor física, mas pela frustração de não poder terminar o jogo.

Enquanto eu era levada para o hospital, meus pensamentos estavam com Flávia. Eu queria tanto pedi-la em namoro naquele momento de vitória, mas agora tudo parecia distante e incerto.

No hospital, após exames, o médico entrou com uma expressão grave.

- Srta. Costa, seu tornozelo está gravemente lesionado. Precisamos realizar uma cirurgia imediatamente, ou você corre o risco de perder o movimento da articulação.

As palavras dele ecoaram na minha mente, e as lágrimas vieram com força. Eu queria estar em quadra com minhas companheiras, queria estar com Flávia. Mas ali estava eu, em uma cama de hospital, encarando a possibilidade de perder algo que amava profundamente: o esporte.

Flávia e Marcela chegaram ao hospital minutos depois, ofegantes, os olhos ainda cheios de lágrimas.

- Ana, meu amor... - ela começou, mas eu não consegui segurar as lágrimas.

- Eu queria tanto estar com você agora, celebrar a vitória... e te pedir em namoro, Flávia - confessei, minha voz quebrando de dor e frustração.

Marcela me olhou com ternura, mas com uma seriedade que só uma irmã mais velha pode ter. Ela sempre foi minha rocha, e naquele momento, senti que precisaria dela mais do que nunca.

- Calma, Ana - Marcela começou, tentando me tranquilizar enquanto segurava minha mão. - Tudo vai ficar bem. A gente vai superar isso. E quanto ao pedido... - ela sorriu, embora seus olhos estivessem úmidos. - Flávia não vai a lugar nenhum. Esse pedido ainda vai acontecer, eu prometo.

Flávia se aproximou mais, sentando-se na beirada da cama e acariciando meu rosto com os dedos gentis. Seus olhos brilhavam, e eu via tanta paixão neles que, por um momento, toda a dor parecia suportável.

- Ana, escuta - ela disse, com a voz trêmula mas firme. - Não importa onde estamos ou o que estamos enfrentando. O que importa é que estamos juntas, entende? Eu gosto de você, de verdade, e nada vai mudar isso. A gente vai passar por essa cirurgia, vamos te ver recuperada e, quando tudo isso acabar, você vai me pedir em namoro do jeito que quiser. E, seja como for, eu já tenho a resposta - ela sorriu, inclinando-se para me beijar na testa. - É sim. Sempre vai ser sim.

Minhas lágrimas continuavam a escorrer, mas agora, misturavam-se com um alívio e uma certeza que eu não sabia que precisava. Tinha a impressão de que meu coração estava em pedaços, mas Flávia e Marcela estavam ali, prontas para me ajudar a juntar cada fragmento.

A enfermeira entrou na sala, interrompendo aquele momento delicado, e informou que já estavam prontos para me levar à cirurgia. Flávia se afastou um pouco, mas não soltou minha mão até que fosse absolutamente necessário.

- Eu vou estar aqui, esperando por você - ela disse, olhando diretamente nos meus olhos. - Você vai sair dessa, linda. A gente tem muito tempo para vivermos juntas, lembra?

Eu assenti, engolindo em seco e tentando reunir forças para o que viria a seguir. A enfermeira começou a empurrar a maca, e enquanto eu era levada para o centro cirúrgico, senti um frio na barriga, mas as palavras de Flávia e Marcela ecoavam na minha mente como um mantra: "Nós vamos superar isso."

𝐏𝐀𝐑𝐈𝐒, ᶠˡᵃᵛⁱᵃ ˢᵃʳᵃⁱᵛᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora