IX. Final Individual.

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ANA JÚLIA COSTA

Na manhã da final individual de ginástica artística, o nervosismo e a expectativa estavam no ar. Eu acordei cedo, meu coração batendo acelerado ao pensar em Flávia e Rebeca competindo naquele dia. Depois do café da manhã com o time, fui direto para o ginásio onde elas competiriam, ansiosa para apoiar minhas amigas.

O ginásio estava lotado, a atmosfera eletrizante. Encontrei um lugar na arquibancada, perto de outras atletas da delegação brasileira, incluindo Marcela.

- Pensei que você fosse ter jogo hoje - eu disse a ela, confusa. 

- E eu vou ter, mas tenho que apoiar a minha pretinha - ela diz e eu consigo ver o amor transparecendo em seus olhos.

Será que algum dia eu seria assim com Flávia?

Meu Deus, sou sapatão mesmo, nos beijamos algumas vezes e eu já tô pensando nisso, misericórdia!

A competição começou com uma série de apresentações impressionantes de ginastas de vários países, mas minha atenção estava totalmente voltada para Rebeca e Flávia.

Rebeca foi a primeira a se apresentar no solo. Ela entrou na arena com uma confiança tranquila, seus movimentos precisos e elegantes capturando a atenção de todos. A música começou, e Rebeca executou sua rotina com uma mistura de força e graça. Cada salto, giro e aterrissagem era impecável, e o público respondeu com aplausos entusiasmados.

- Vamos, Rebeca! - gritei, sentindo a adrenalina correr pelas minhas veias. - Você está arrasando!

- Vamos, amor! - grita Marcela, junto comigo. 

Quando a música terminou, Rebeca recebeu aplausos de pé. O sorriso em seu rosto mostrava que ela sabia que havia dado seu melhor. As notas refletiram isso, colocando-a no topo da classificação provisória.

Em seguida, foi a vez de Flávia. Meu coração batia forte ao vê-la se preparar para sua rotina no solo. Ela entrou na arena com a mesma determinação feroz que eu havia visto tantas vezes em seus olhos. Os primeiros movimentos fluíram perfeitamente, seus saltos eram precisos e aterrissagens suaves.

Quando chegou a hora do terceiro salto, Flávia correu com a mesma força de sempre. No entanto, ao impulsionar-se no ar, pareceu subir demais. O movimento que deveria ser suave e controlado tornou-se descontrolado. O público prendeu a respiração enquanto Flávia tentava corrigir sua posição no ar, mas era tarde demais. Ela perdeu o apoio e caiu de peito no chão com um impacto pesado. O som da queda ecoou pelo ginásio, e um silêncio mortal tomou conta do lugar. Meu coração parou, e a angústia tomou conta de mim.

Sem pensar, levantei-me.

A queda de Flávia havia deixado todos em choque, mas sua determinação em continuar a apresentação com maestria rapidamente transformou o silêncio mortal em um mar de aplausos. O público brasileiro, inicialmente com medo pelo pior, agora estava de pé, incentivando-a a cada movimento.

Flávia levantou-se do chão com uma força incrível, ignorando a dor evidente em seu rosto. Seus olhos, que antes estavam repletos de frustração, agora brilhavam com uma determinação renovada. Ela retomou a rotina, cada movimento executado com uma precisão quase sobrenatural. Era como se a queda tivesse acendido uma chama dentro dela.

Com passos firmes, Flávia continuou sua apresentação. Cada salto, cada giro, cada aterrissagem era impecável, mostrando ao mundo a verdadeira força de uma ginasta. O público aplaudia a cada movimento, e eu me peguei gritando junto com eles, minha preocupação se transformando em uma admiração profunda, maior do que eu já sentia por ela.

𝐏𝐀𝐑𝐈𝐒, ᶠˡᵃᵛⁱᵃ ˢᵃʳᵃⁱᵛᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora