XVIII. Resiliência.

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ANA JÚLIA COSTA

A vitória sobre a Dinamarca foi um marco, mas não havia tempo para descansar. A final contra a França estava se aproximando rapidamente, e a tensão no time era palpável. O Brasil estava prestes a enfrentar uma equipe formidável, que já havia nos derrotado na fase de grupos. A sede de vingança era evidente em todas nós.

Enquanto todas se concentravam nos treinos e nas estratégias, minha mente estava dividida. A dor no tornozelo, que antes era apenas um incômodo, agora era uma presença constante e cada vez mais difícil de ignorar. Mas não podia deixar que isso transparecesse, especialmente para Flávia, Marcela e Rebeca. Elas já tinham suas próprias preocupações, sendo umas das atletas mais destacadas do Brasil, com a mídia e os fãs sempre em cima delas. Eu não queria acrescentar mais um peso em seus ombros.

Outra coisa que eu havia pensado em fazer era o pedido de namoro. Ganhando ou perdendo a final, eu tinha certeza de uma coisa: eu quero Flávia em minha vida.

Pedi ajuda para Júlia e Rebeca, elas que escolheram a aliança para mim, já que eu não entendia nada sobre. 

Nos treinos, dava tudo de mim, tentando esconder qualquer sinal de desconforto e nervosismo. Mesmo assim, Flávia, sempre perceptiva, começou a notar que algo estava errado. Uma noite, depois de um treino intenso, ela veio até mim no refeitório do hotel, enquanto eu estava distraída, mexendo na comida.

- Linda, você parece estar distante. Está tudo bem? - ela perguntou, sua voz suave e preocupada.

Olhei para ela e forcei um sorriso.

- Só estou cansada, como todo mundo. Mas estou bem, não se preocupe.

Ela franziu a testa, obviamente não convencida.

- Cansada todas estamos, mas sinto que tem algo mais. Se for sobre o jogo... ou qualquer outra coisa, você pode me contar, sabe disso, né?

Minha vontade era de contar tudo, mas eu não podia. Sabia que ela se preocuparia demais, e isso poderia preocupa-la. Além disso, a final estava logo ali, e eu precisava estar focada.

- Princesa, você é a melhor coisa que aconteceu comigo, e não quero te preocupar com coisas bobas. Amanhã, vamos ganhar essa final, e depois disso, podemos pensar em tudo o que quisermos.

Ela hesitou, mas finalmente assentiu, embora seus olhos ainda mostrassem preocupação.

- Tudo bem, mas me prometa que, se algo estiver te incomodando de verdade, você vai me contar. Eu quero estar aqui para você, assim como você sempre esteve para mim desde que me conheceu.

Sorri, sentindo o calor do seu carinho, e beijei sua testa.

- Eu prometo.

Naquela noite, Flávia adormeceu ao meu lado, mas eu fiquei acordada, sentindo a dor no tornozelo pulsar com cada batida do coração. Amanhã seria o dia mais importante da minha vida, e eu precisava estar pronta, não importava o custo.

Na manhã da final, o ginásio estava fervilhando de energia. O Brasil inteiro estava de olho em nós, esperando por uma vitória. Enquanto nos preparávamos no vestiário, Cristiano nos deu as últimas instruções. Eu estava concentrada, tentando ignorar a dor e focar apenas no que precisava ser feito.

Antes de entrar em quadra, Flávia me mandou uma mensagem de texto simples, mas poderosa: 

Cotoquinha 🤍:
Estou com você, sempre

eu sei disso, obrigada mesmo, cotoquinha 🤍

Cotoquinha 🤍:
Cotoquinha é tua pica, ô

depois que fica sem andar não sabe o porquê!

Rio, desligando o celular.

A mensagem de Flávia me deu a força que eu precisava. Respirei fundo, ignorando a dor, e entrei em quadra, determinada a dar tudo de mim para trazer esse ouro para o Brasil e para todas as pessoas que acreditaram em nós.

Agora era a hora de lutar por tudo. Eu sabia que Flávia estava torcendo por mim, e eu não iria decepcioná-la. Nada, nem mesmo a dor, me impediria de fazer o meu melhor.

𝐏𝐀𝐑𝐈𝐒, ᶠˡᵃᵛⁱᵃ ˢᵃʳᵃⁱᵛᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora