ANA JÚLIA COSTA
No vestiário, o clima era de celebração, mas a minha mente estava dividida entre a alegria da vitória e a preocupação com Gabi. Algumas horas depois, no hospital, recebemos a notícia de que ela estava bem, mas precisaria de alguns dias de observação e levaria pontos na cabeça, a tirando das Olimpíadas.
Os três dias seguintes foram uma mistura de treinos intensos e momentos de reflexão. Nossa próxima adversária seria a forte equipe da Hungria, e eu sabia que precisava estar no meu melhor. A notícia sobre Gabi trouxe uma onda de solidariedade entre nós, fortalecendo ainda mais nosso espírito de equipe.
Na noite anterior ao jogo contra a Hungria, eu me sentei por alguns segundos sozinha no Ginásio onde aconteciam os treinamentos das Ginastas do Brasil, estava tendo um treinamento, e minha amiga e cunhada Rebeca Andrade, estava lá, tentando dar seu melhor para conseguir passar de fase.
- Opa, Ju, jogou bem anteontem, hein? - diz minha irmã, sentando-se ao meu lado e me tirando da concentração que era pensar no jogo do outro dia. Ela era jogadora da seleção brasileira do Vôlei feminino e também estava participando das Olimpíadas.
- Valeu, você jogou muito hoje, também - digo e ela sorri. Seu sorriso igualzinho de nossa mãe.
- Vi alguns comentários sobre sua condição física, te incomodam? - ela pergunta preocupada.
- Incomodar, incomoda, mas eu não posso fazer nada. Muita gente diz que é injusto eu participar do time feminino, só porque meu sistema reprodutivo é masculino!
- Gente burra. Você tem o nível de testosterona aceito para jogar na categoria feminina, ué - ela diz, franzindo a sobrancelha. - Se não tivesse, não deixariam você jogar.
- Pois, é, Cela, nem filho eu consigo fazer por conta do nível baixo de testosterona - eu digo rindo.
- Mas mudando de assunto, está nervosa para amanhã?
- Com toda certeza - digo e ela bagunça meus cabelos que estavam soltos.
- Não fique nervosa, assim como no primeiro jogo, você vai arrasar.
- Amor! - Rebeca a chama e ela se vira para o lugar da quadra que Rebeca estava. - Vem cá, tô com saudades! - ela exclama e Marcela, como boa cachorrinha que era pela minha cunhada, entra na quadra correndo, dando-lhe um beijo, agarrando sua cintura.
- Eca! Odeio casal feliz!
Penso sobre o jogo que aconteceria e fico nervosa novamente. Eu sabia que minha performance seria crucial para manter nossa trajetória na Olimpíada. Cristiano se aproximou e sentou do meu lado.
- Como está se sentindo, Ana Júlia?
- Estou bem, Cristiano. Um pouco nervosa, mas pronta. Quero fazer isso pela Gabi e por todas nós.
- E você fará. Lembre-se de tudo o que treinamos. Confie em si mesma e na equipe. Você tem talento e determinação. Só vá lá e mostre do que é capaz.
Olho para a quadra novamente e uma garota baixinha, corpo esbelto e cabelos loiros estava fazendo alguns saltos.
Fico hipnotizada, olhando fixamente para seus movimentos.
Havia leveza e ela fazia aquilo como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Ela definitivamente havia nascido para aquilo.
- Quem é aquela? - pergunto curiosa para saber quem era aquela beldade.
- Não a conhece? - pergunta Cristiano, e eu nego com a cabeça. - É a Flavia Saraiva, ginasta da seleção brasileira.
Rebeca já havia me dito várias vezes sobre ela, mas eu nunca havia me importado, até ver a garota em minha frente.
Cristiano me chama para ir ao hotel pois segundo ele teríamos jogo cedo, e ele me queria bem descansada para conseguir jogar. A contra gosto eu o sigo, indo descansar em meu quarto de hotel. Porém, antes de dormir, eu sigo Flavia no instagram, a stalkeando e vendo seus destaques.
Dou um sorrisinho besta ao ver suas palhaçadas e simpatia. Ela definitivamente é cativante.
No dia do jogo, a arena estava lotada. O hino nacional tocou, e senti um arrepio percorrer meu corpo. As húngaras eram conhecidas por sua força e técnica, e desde o início, ficou claro que seria uma batalha dura.
O jogo começou com a Hungria dominando a posse de bola. Elas marcaram dois gols rápidos, mas eu consegui bloquear o terceiro, dando um pouco de esperança ao nosso time. Nosso ataque respondeu com um gol de Jéssica Quintino, que foi recebido com um rugido da torcida.
Cada minuto era uma luta. As húngaras avançavam com precisão, mas nossa defesa estava determinada a não ceder. Fiz defesas cruciais, e nossas contra-atacantes aproveitaram cada oportunidade. No intervalo, o placar estava 10 a 9 para a Hungria.
No vestiário, Cristiano deu instruções específicas. Ele nos lembrou de manter a calma e a concentração. Eu sabia bem que a vitória estava ao nosso alcance, mas precisávamos dar tudo de nós.
O segundo tempo foi ainda mais intenso. As húngaras aumentaram a pressão, mas nossa defesa estava impenetrável. Fiz uma série de defesas difíceis, e cada uma era comemorada com fervor pela torcida. Em um momento crítico, com o placar empatado em 19 a 19, Tamires Araújo conseguiu um gol impressionante, nos colocando à frente.
Nos minutos finais, a Hungria teve uma última chance. O tempo parecia parar enquanto elas avançavam. Eu me preparei, focada em cada movimento. A bola foi arremessada com força, e num reflexo rápido, eu a desviei para fora.
O apito final soou, confirmando nossa vitória por 20 a 19. Fomos recebidas com aplausos e gritos da torcida. Eu estava exausta, mas a euforia da vitória superava qualquer cansaço. Fomos cercadas por repórteres, e as câmeras focaram em mim.
- Ana Júlia, uma vitória incrível! Como se sente?
- Sinto-me emocionada e orgulhosa. Foi uma vitória de todo o time. Cada defesa, cada gol, tudo foi resultado do nosso trabalho em equipe. Dedico essa vitória à Gabi e a todos que nos apoiam. Vamos continuar lutando por essa medalha de ouro!
Enquanto voltávamos ao vestiário, eu sabia que nossa jornada estava apenas começando. Cada jogo era um passo em direção ao nosso objetivo, e eu estava determinada a dar o meu melhor em cada um deles. A vitória contra a Hungria foi um marco importante, mas ainda havia muito a conquistar para conseguirmos o ouro.
Capítulo não revisado.
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𝐏𝐀𝐑𝐈𝐒, ᶠˡᵃᵛⁱᵃ ˢᵃʳᵃⁱᵛᵃ
FanfictionEm um emocionante e intenso cenário olímpico, Ana Júlia Costa, uma jovem goleira de 20 anos, intersexual, estreando na seleção brasileira de handebol, enfrenta a pressão e os desafios da competição enquanto lida com a preocupação por sua melhor amig...