Capítulo 4 - O PESO DO OURO E PRATA

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Pov Simone

A competição foi intensa. Cada movimento, cada salto, cada aterrissagem... todos pareciam carregados com a expectativa não só do público, mas das nossas próprias almas. Quando a última nota foi anunciada, o estádio explodiu em gritos e aplausos. Lá estava eu, com a medalha de ouro pendurada no pescoço, mas enquanto a multidão celebrava, meu olhar buscava algo mais.

Rebeca estava ao meu lado, sorrindo para as câmeras, sua medalha de prata brilhando tanto quanto a minha de ouro. Mas eu a conhecia bem demais para ser enganada por aquele sorriso. Ela estava feliz, claro, mas havia algo mais profundo, algo que os outros não podiam ver. Eu via nos olhos dela-a chama de insatisfação, a luta interna de alguém que queria mais, que sentia que podia ter alcançado algo além.

Mais tarde, naquela noite, enquanto todos comemoravam, senti a necessidade de me afastar. Chamei Jordan para caminhar comigo pela vila, tentando processar os eventos do dia. Nós conversamos sobre tudo e nada, mas algo me inquietava. De repente, lembrei que havia esquecido meu colar de GOAT no ginásio, um símbolo que sempre me acompanhava nas competições. Decidida a recuperá-lo, pedi a Jordan que me acompanhasse até lá.

Quando chegamos ao ginásio, o local estava quase totalmente escuro, exceto por uma luz suave que vinha da área de treino. De imediato, senti que algo estava diferente. Ao nos aproximarmos, percebi que Rebeca estava ali, sozinha, praticando seus movimentos com uma intensidade quase feroz, como se cada salto fosse uma batalha contra a própria decepção. Fiquei ali, em silêncio, observando-a, sentindo o peso da sua determinação.

Virei-me para Jordan e murmurei: - Deixa a gente aqui. Preciso conversar com ela.

Jordan me lançou um olhar compreensivo e assentiu, afastando-se sem fazer barulho. Voltei minha atenção para Rebeca, que estava tão concentrada que não percebeu minha presença. Respirei fundo e, com passos silenciosos, me aproximei dela. Quando estava perto o suficiente, sussurrei em seu ouvido:

- Se você continuar assim, o chão vai se abrir pra te engolir.

Ela se sobressaltou, parando abruptamente e girando para me encarar, surpresa. Seus olhos encontraram os meus, e por um momento, apenas ficamos ali, olhando uma para a outra. Havia algo naquele olhar-uma mistura de admiração, exaustão e algo mais, algo que parecia querer escapar, mas ela ainda segurava firmemente.

- Simone... - Rebeca murmurou, tentando recompor-se. - O que você está fazendo aqui?

Sorri suavemente, dando de ombros. - Esqueci meu colar. Mas acho que encontrei algo mais importante.

Ela riu, mas o som era amargo, quase triste. - Eu precisava disso. Precisava... colocar tudo pra fora.

- E está funcionando? - perguntei, me aproximando mais, mantendo o olhar fixo no dela.

Rebeca hesitou antes de responder. - Não sei. Ainda sinto que... poderia ter feito mais.

- Você fez tudo o que podia, Beca. E foi incrível. - Minha voz era firme, mas cheia de sinceridade.

Ela desviou o olhar, mordendo o lábio inferior. - Mas não foi o suficiente.

- Talvez você esteja se cobrando demais. - Toquei suavemente o ombro dela, sentindo-a relaxar sob meu toque. - Sabe, eu sempre admirei sua garra, sua determinação. Mas também precisamos ser gentis com nós mesmas. Não somos máquinas, somos humanas.

Rebeca respirou fundo, parecendo considerar minhas palavras. - É fácil falar isso com uma medalha de ouro no pescoço.

- Ei, acredite, eu entendo o que você está sentindo. Mas quero que você saiba que, para mim, essa prata vale tanto quanto ouro. - Fiz uma pausa, observando a expressão dela suavizar um pouco. - Além disso, tenho uma coisa pra te pedir.

- O quê? - perguntou ela, agora curiosa.

Eu sorri, mudando o tom para algo mais leve. - Você me ensina aquela dança? Como é mesmo o nome...? A... sanfoninha?

Rebeca arregalou os olhos, surpresa, e depois explodiu em risos, um som que reverberou pelo ginásio vazio. - Você quer aprender a dançar a sanfoninha? Sério?

- Sério! - respondi, rindo também. - Vi você fazendo e achei incrível. Quero aprender com a melhor.

Ela balançou a cabeça, ainda rindo, mas havia um brilho novo nos olhos dela, algo mais leve, mais feliz. - Tudo bem, eu te ensino. Mas vai ter que me seguir direitinho, hein?

- Eu sou uma aluna dedicada - disse, piscando para ela.

Então, ali mesmo, começamos a dançar, rindo a cada passo errado, a cada movimento descoordenado. Havia algo mágico naquele momento-como se, ao compartilhar essa alegria simples, estivéssemos curando feridas mais profundas. A tensão de antes havia se dissipado, substituída por algo mais puro, mais sincero.

A dança terminou com Rebeca me girando e me puxando para perto, nossos rostos a centímetros de distância. Por um instante, o mundo pareceu parar, e tudo o que existia era aquele momento, aquele olhar fixador entre nós. Senti meu coração bater mais forte, e algo em mim sabia que Rebeca sentia o mesmo.

- Viu? Você é boa nisso - ela murmurou, sua voz suave, quase um sussurro.

- Só porque tive uma ótima professora - respondi, meu sorriso se alargando.

Ficamos ali, próximas, nossos sorrisos refletindo o que palavras não podiam expressar. Havia admiração, respeito, e algo mais... algo que eu não conseguia nomear, mas que estava lá, pulsando entre nós.

Finalmente, Rebeca quebrou o silêncio, ainda sorrindo. - Obrigada, Simone. Por tudo.

- Sempre. - Respondi, sentindo uma onda de carinho por ela.

Saímos do ginásio lado a lado, a noite ao nosso redor agora parecia mais acolhedora, menos pesada. Sabíamos que o dia seguinte traria novos desafios, novas expectativas. Mas, naquele momento, o que importava era a conexão que tínhamos, a certeza de que, independentemente do resultado, estaríamos sempre ali uma para a outra.

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